Enem 2024: candidatos relatam desejos e preparação no 2º dia na Uece

Neste domingo, 10, estudantes analisaram o primeiro dia de provas, contaram sobre preparação e projetaram seus desejos a partir do Exame Nacional

17:30 | Nov. 10, 2024

Por: Mateus Brisa
Fortaleza, CE, BR 10.11.24 Movimentação dos candidatos ao exame do ENEM na UECE, Universidade Estadual do Ceará (LORENA LOUISE/O POVO) (foto: Lorena louise/Especial para O POVO)

Dezenas de estudantes de Fortaleza se dirigiram na manhã deste domingo, 10, ao campus Itaperi da Universidade Estadual do Ceará (Uece), um dos locais de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. Por volta de 10h30min, o local tinha poucos candidatos, mas havia representantes de organizações privadas e vendedores ambulantes.

Quem chegou cedo pôde se proteger do Sol nas sombras de árvores. Foi o caso de Carla Beatriz Alves, de 18 anos. Sentada em um dos bancos de cimento, a estudante relatou que, por medo do trânsito, saiu de casa bem mais cedo. “Não queria arriscar chegar tarde e aparecer nos jornais como atrasada”, brincou.

Como outros candidatos presentes na Uece, Carla afirmou estar menos nervosa em relação ao primeiro dia de provas, no último domingo, 3. “Foi estressante, eu estava bem nervosa. Foi bom porque vim para o segundo dia mais calma e menos preocupada”, disse a moradora do Meireles.

Ela relatou ter “considerado a realidade” para se tranquilizar. “Querendo ou não, se ficar muito nervosa, vou acabar me saindo mal, por isso tentei ficar calma”.

“Acho que sou a pessoa mais calma que conheço para o Enem. Colegas e amigos estão surtando. Depois do primeiro dia, eles tiveram crises existenciais e eu só fiquei de boa. Estou confiante para o curso que quero passar”.

Carla pretende cursar licenciatura em Letras – Inglês pela Universidade Federal do Ceará (UFC) ou, em segundo caso, Artes Visuais no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

Estudar para o Enem, ao longo do ano, foi “estressante” para a estudante, “por causa da organização da minha escola. As escolas dão muito simulado para o Enem, e isso acaba estressando muito a cabeça”.

O primeiro dia de provas do Enem 2024 também foi “difícil” para Fabiana Castro, 17. Ela não esperava pelo tema da redação. “Pensava em analfabetismo infantil ou autismo. Me pegou de surpresa. Eu pensei, ‘minha Nossa Senhora, o que estou fazendo da minha vida?’ Mas consegui usar minhas ideias”, disse.

Além do texto redigido, as áreas de conhecimento do domingo anterior não eram afinidades de Fabiana, o que também pesou no processo. “Acho que vou recuperar hoje o que perdi no outro dia”, explicou.

Ao contrário dela, a amiga e colega de classe Luara Rodrigues, 19, prefere os temas do primeiro dia, mas “crê que vai dar certo” responder às questões de Matemática e Ciências da Natureza. As duas chegaram cedo hoje e querem usar a nota da prova, que fazem pela primeira vez, para cursar Direito.

Antes da abertura dos portões da Uece, que ocorreu às 12 horas, Robert William, 18, contou que “normalmente, a galera está mais emocionada no primeiro dia. Hoje, estou mais de boa”.

Estar no ambiente universitário, no domingo anterior, deixou ele “um pouco perdido”, mas Robert conseguiu “desenrolar" e fazer tudo certo. "Foi bom estar aqui. Pude ir conhecendo a universidade e a região”.

O estudante, que planeja cursar Geografia ou Enfermagem na UFC, tem como objetivo principal a preparação para concursos. Para o Enem, ele não se preparou, porém: “No máximo simulado. Eu só vim”.

Mudanças de plano e de vida

Para alguns dos estudantes na Uece, o Enem 2024 representava mudança. Edeberto Viana, 60, tenta a prova pela terceira vez. Em sua vida, trabalhou como auxiliar de serviços gerais e pieiro, mas sempre pensou em cursar Agronomia ou Filosofia “para melhorar a situação”, explicou ele.

Em sua segunda tentativa, obteve nota para o segundo curso, mas não efetuou a matrícula. “Me arrependi”, lamentou. Todavia, não deixou o desejo de lado e se preparou neste ano “lendo muito”: “Acho que Enem é sobre ler. Antes de tudo, é ler. O estudante brasileiro precisar ler mais”.

Foi a primeira vez de Angeline Gomes Oliveira, 37, que casou em 2010 e parou de estudar no 3º ano do ensino médio. Após o fim do matrimônio, ela retornou à escola e, consequentemente, decidiu fazer o Exame Nacional.

Durante o ano, Angeline teve simulados e preparação para o Enem, porém, por trabalhar e ter dois filhos, não pôde participar tanto. “Ainda estudo à noite, e passo o dia andando”. O primeiro dia de prova foi “difícil, desafiador, fiquei nervosa. Por ser de rede pública. Mas a gente encara”.

Devido ao contexto e à rotina de mãe, Angeline sublinhou estar “exausta” para o exame. “Mas a gente vem e tenta. Meu sonho é fazer Letras”. A família dela “sabe que é difícil, mas apoia” o retorno aos estudos.

Seus filhos têm 11 anos e 4 anos. O mais velho “me apoia demais. Só de eu ter saído de um relacionamento que ele via que tinha muito sofrimento… Ele quer mais é ver a mãe dele viver bem”, contou a fortalezense.

Mauroá Spineler, 23, terminou o ensino médio, mas não ingressou no superior logo em seguida. Com o tempo, enveredou para a produção cultural. “Agora entendi que quero [fazer faculdade]. Ninguém é obrigado a entrar assim que termina [o ensino médio]. Eu segui uma carreira à parte, entendi o que eu queria e agora estou fazendo”, explicou a candidata.

“Porque entrar numa faculdade e não gostar, é mesmo que nada. Eu tinha uma visão, agora tenho outra, mais clara e mais madura”. Foi por meio da produção cultural que Mauroá entendeu seu desejo por cursar História.

“Eu leio muito sobre história, museus… Aí comecei a entender que queria história mesmo e, para além disso, queria ser antropóloga”.

A jornada ao ensino superior também é significativa para ela por ser travesti. Na visão dela, há uma “escassez”. “Eu, pelo menos, não vejo. No primeiro dia aqui na Uece, vi muitas pessoas, mas não vi nenhuma travesti. Vi pessoas da comunidade LGBT, mas não vi a letra T, que precisa de representatividade”.

Por conta do trabalho como produtora, Mauroá não se preparou muito para o Enem. “Mas eu tenho um conhecimento grande do ensino médio. Na prova de linguagens e códigos, faltei cinco questões para gabaritar”.

“Em humanas, faltaram 10. E a redação foi perfeita, porque trabalho com povos africanos, sabia boa parte [da discussão]. A galera fala muito e eu fico escutando, porque não é meu lugar de fala. Eu tinha muita bagagem”.

Preparação ao longo do ano

Tuanny Lima, 17, participou do Enem no ano passado como treineira, o que a ajudou a chegar neste ano com “mais tranquilidade”. A estudante contou ter tido “mais preparação, com a mente mais tranquila. Fiz uma boa prova, organizando o tempo e o conhecimento que eu tinha”.

Para isso, Tuanny se preparou “com suor” ao longo do ano. Porém, cometeu um “grande erro”: se esforçar muito no começo do ano. “No meio do ano, eu estava cansada. Então, no final do ano, tive um equilíbrio maior”.

“Uma dica que eu dou para as próximas pessoas que estarão no ‘terceirão’ e no Enem é: saibam equilibrar os estudos no ano, não estudem muito para depois não estarem exaustos mentalmente”, recomendou ela.

Além disso, a interação positiva com familiares é significativa, na visão da mãe Kariny Oliveira, 36, que ficou nos arredores da Uece após o fechamento dos portões, às 13 horas, para esperar o filho, Emanuel Leon.

Ela comentou ter conversado com ele antes do primeiro dia de prova. “Como ele é treineiro, disse que, se não quisesse, ele não precisaria vir. Também, se ele não quisesse fazer ano que vem até ele decidir o que de fato ele quer fazer da vida dele, ele não precisava”, contou.

“Porque acho que o que mais importa é que ele esteja bem com ele, na decisão dele. Independente de ‘ai, tá no terceiro ano, tem que fazer Enem, decidir o que fazer da vida’. Ele vai terminar com 18 anos, é um menino ainda. Não tem a menor necessidade ou obrigação de, nessa idade, saber o que quer da vida”.

Por isso, Kariny orientou Emanuel Leon a “fazer a prova, para lidar com a quantidade de questões, aprender a gerenciar tempo e se respeitar no limite do que pode fazer”, mas também “saber que há tempo para decidir o que quer, qual curso, se tentará universidade ou concurso público”.

“Converso para tirar a pressão que a escola, que todo mundo coloca nas costas dele”, narrou a mãe. “Mas que ele lembre também que ele não é herdeiro, porque eu sou professora”, brincou ela, que aguardará o filho até ele sair da sala de aplicação. A previsão do término do segundo dia é às 18h30min.