Enem 2023: professores analisam tema da redação, sobre trabalho invisível da mulher
O tema da redação do Enem 2023 é "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil" e para compreender melhor sobre, O POVO reuniu a análise de alguns professores de PortuguêsQuase 4 milhões de estudantes devem participar da edição 2023 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ao todo, a prova conta com quatro blocos de provas objetivas, em dois domingos seguidos, totalizando 180 questões, e a tão comentada e temida Redação.
Neste domingo, 5, os alunos fazem as provas de Linguagens e Códigos e suas tecnologias, Ciências Humanas e suas tecnologias e a Redação, que nesta edição tem como tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
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Para compreender melhor, O POVO reuniu a análise de alguns professores sobre o tema escolhido para este ano. Veja:
“Tecnicamente falando sobre o que é cobrado dentro da estrutura de uma redação, percebo os alunos mais preparados para obter êxito. Porém o tema abordado foi pouco trabalhado em sala para a clientela do Ensino Médio, assim como em Cursinhos preparatórios, algo que pode dificultar o resultado de muitos participantes. Enfim, espero um bom resultado, algo que mostre um crescimento educacional na aprendizagem dessa geração”. Professor Ariecílio Nobre, professor de português da REDECON
"Com esse tema, podemos relacionar com o patriarcalismo e machismo ainda muito existentes na sociedade, uma vez que o trabalho de cuidado ainda é mais voltado para as mulheres brasileiras. Além disso, invisível por ser desprezível pela grande maioria da população, afinal muito ainda se escuta dizer que o trabalho de cuidado demanda pouco esforço quando comparado com os trabalhos para fora do ambiente doméstico. O candidato precisa estar atento para não tangenciar o tema, pois a invisibilidade se trata do trabalho de cuidado praticado pelas mulheres e não da invisibilidade feminina, embora seja parecido, não é a mesma coisa". Anna Cabral, professora de redação do Estratégia Vestibulares
"O tema é bem atual, trata da desigualdade de gênero a partir de uma perspectiva específica. Seria possível realizar alguns recortes, pensando que o trabalho de cuidado envolve tanto o trabalho doméstico quanto a maternidade. Importante lembrar que o Brasil já prevê a possibilidade de aposentadoria para donas de casa, para não cair no erro de sugerir intervenções que já existem. Pensar sobre maneiras de dividir o cuidado doméstico entre homens e mulheres poderia ser um caminho também". Maria Celina Gil, professora de redação e Língua Portuguesa do Estratégia Vestibulares
“Temos um foco na problemática de reconhecimento insuficiente do trabalho doméstico e de cuidados tradicionalmente executados pelas mulheres, o que não é contabilizado na economia formal, esse desafio envolve superar barreiras culturais, promoção de políticas públicas eficazes e implementação de medidas que valorizem essas atividades essenciais. Em especial no contexto brasileiro é importante entender como é que essa invisibilidade afeta a participação econômica das mulheres interpretou a desigualdade de gênero que pode ser feito para e o que pode ser feito para mitigar as questões envolvendo ações de governo empresariais culturais e etc mas acho que é importante lembrar que a gente ainda Precisa dos textos que acompanham o tema da redação para que de fato a gente consiga fazer o entendimento geral do próprio tema”. Ademar Celedônio, Diretor de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Educação
“A partir da leitura dos textos motivadores dava para o estudante perceber que os textos já encaminhavam para esse tipo de reflexão de que o problema existe e muitas vezes, ele é invisibilizado como diz a própria proposta, é um problema invisibilizado e que ele existe a partir de certas circunstâncias, como a própria negligência governamental, o legado histórico que faz com que perpetue a desigualdade de gênero no país, a questão da desigualdade socioeconômica, a questão de lacuna educacional, enfim, pensar em possíveis teses. A partir dessas possíveis teses, é selecionar também os repertórios que são aqueles que nós usamos em sala de aula, que são os repertórios coringas, que são repertórios flexíveis. Como a constituição federal de 1988, a obra “Cidadão de Papel” de Gilberto Dimenstein, Simone de Beauvoir que é conhecida dentro da filosofia que caberia muito bem para esse tema específico e certos livros como “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus e outras escritoras também da nossa literatura. Enfim há inúmeras abordagens inúmeros caminhos”. Vanesca Ferro, professora da Escola Estadual de Educação Profissional Deputado José Maria Melo
"A prova de redação do Enem de 2023 é um tema muito pertinente e pouco debatido no tecido social. Embora a prova costume contemplar muitas palavras-chave e que o candidato tem como obrigação contemplá-las, o tema é muito pertinente e revela um cenário triste, porém urgente e necessário o debate sobre. Este ano, fiz um material de repertório inteiro sobre Bell Hooks e coloquei uma frase dela que me lembrou muito esse tema: "sem justiça, não pode haver amor" , do livro "Tudo sobre o amor". A justiça para nós mulheres, e principalmente para mulheres negras, falha e falhará, logo o amor torna-se frívolo quando se está num contexto capitalista, patriarcalista e colonial. O desconhecimento, a desvalorização, da jornada dupla, tripla da mulher é algo naturalizado. Os danos psicológicos nas mulheres diante desse cenário são extremamente constantes dentro da sociedade. Logo, o candidato que mostrou como o trabalho de cuidado realizado pela mulher é invisibilizado, revelando a estrutura machista a qual o público feminino está inserido, tem chances de obter uma nota alta na redação". Lizi Menezes, professora de Redação e Literatura.