Acesso ao Pix pode gerar menor inadimplência entre jovens? Especialista explica
Com a ampliação do acesso aos serviços financeiros, os mais jovens devem chegar à faixa dos 30 anos com mais tempo de uso desses serviços do que as gerações anteriores
O acesso ao Pix e a serviços financeiros digitais tem sido ampliado entre os mais jovens. E existe o potencial de aumentar o acesso a crédito e diminuir a inadimplência dessa geração quando chegarem aos 30 anos. Mas pensar em educação financeira é fundamental, avalia o presidente executivo da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), Elias Sfeir.
Dados do Global Findex, do Banco Mundial, mostram que o percentual de jovens entre 15 e 24 anos com conta bancária cresceu de 36,3% para 79,9% entre 2011 e 2021, e o uso de cartões de crédito subiu de 32,5% para 70,1%.
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Os atuais dados de inadimplência apontam que os jovens de 18 a 24 anos chegam a 28,9%, o menor dentre as faixas consideradas economicamente ativas. Entretanto, apesar do acesso precoce às ferramentas de crédito gerar uma melhor ambiência, existem barreiras estruturais.
Para Elias, o cenário atual demonstra que, apesar da ampliação da empregabilidade - com nível mínimo de desemprego na série histórica, a inadimplência permanece elevada, sobretudo na faixa entre 25 e 50 anos, devido ao acúmulo de compromissos financeiros.
Ele entende que, para os mais jovens, a evolução do acesso ao crédito impõe desafios que podem influenciar a precificação do risco pelas instituições financeiras. No mercado, a falta de histórico bancário ainda faz com que os mais jovens paguem juros maiores, impactando diretamente a vida financeira desse público.
Um exemplo do quão prejudicial é a negativação para os jovens por causa do uso descontrolado de crédito nessa fase, é que isso pode comprometer o acesso a financiamentos mais estruturados no futuro, como crédito imobiliário e financiamento estudantil.

"A disseminação da educação financeira e o incentivo a um uso responsável do crédito são essenciais para mitigar o impacto da inadimplência futura e garantir um relacionamento financeiro saudável ao longo da vida", avalia.
Dados do Banco Central sobre o impacto de longo prazo da educação financeira mostram que, entre os jovens expostos a esse conhecimento durante a fase escolar, a probabilidade de inadimplência, anos depois, foi menor do que a verificada entre os demais.
“O cenário pode mudar rapidamente. Já as mudanças de comportamento e assimilação de bons hábitos financeiros requerem tempo. Daí a necessidade de investir na capacitação financeira dos mais jovens, de modo que eles levem as boas práticas para a vida adulta e estabeleçam uma relação saudável com o crédito”, continua.
Neste cenário, as instituições financeiras estão atentas com a ampliação de acesso aos serviços financeiros, os mais jovens devem chegar à faixa dos 30 anos com mais tempo de uso desses serviços do que as gerações anteriores.
Isso está relacionado ao fato de que o histórico de relacionamento financeiro que esses jovens estão construindo tem um peso na análise de crédito.
"Nesse sentido, construir uma boa reputação de crédito é fundamental para, aos poucos, ser reconhecido pelo bom histórico e obter condições de crédito mais favoráveis".
O POVO mostrou em março de 2024 que as instituições financeiras têm observado a procura e crescimento de contas para crianças e jovens. Bancos têm ofertado a modalidade com funcionalidades e permitem que os responsáveis acompanhem as movimentações dos jovens.
A facilidade impulsiona o nicho nos bancos, que veem a procura aumentar e o número de contas crescer em até 50% em um ano.
Um exemplo disso é o Banco do Brasil, que oferece o BB Cash, voltado para "clientes" entre 8 e 17 anos. A modalidade oferta conta corrente com Pix, investimentos, poupança, tudo com possibilidade de acompanhamento das movimentações realizadas. Foram mais de 260 mil contas abertas desde outubro de 2022.
Percentual de negativação de crédito - por faixa etária (% da população)
18 a 24 anos: 28,9%
25 a 29 anos: 50,7%
30 a 39 anos: 49,8%
40 a 49 anos: 47%
50 a 64 anos: 39%
65 a 84 anos: 32,2%
85 anos ou mais: 16,1%
Os desafios dos jovens na vida financeira
- Início da vida financeira a partir do crescimento da inclusão digital e financeira (18-24 anos) com um número crescente de jovens usando crédito sem histórico consolidado ou com comportamento financeiro impulsivo, questões estruturais impactam esse grupo, que enfrenta altos níveis de desemprego e juros no mercado, mas que precisam ter acesso à educação financeira para não manchar seu histórico e comprometer a obtenção de financiamentos mais estruturados no futuro.
- Saída da casa dos pais e independência financeira (25-34 anos), momento que exige maior controle financeiro devido ao aumento dos gastos com moradia e consumo próprio.
- Compra do primeiro imóvel (35-44 anos), criando compromissos financeiros de longo prazo, que podem comprometer a capacidade de pagamento de outras dívidas. A inadimplência nessa faixa etária não está apenas atrelada à renda disponível, mas também ao comportamento financeiro e ao acúmulo de responsabilidades.
Fonte: ANBC/Kantar Ibope
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