Fitch rebaixa nota da Aeris e alerta para processo similar à inadimplência

Agência global de classificação de risco vê com preocupação renegociações de dívidas da Aeris e diz que empresa possui apenas um cliente

A agência global de classificação de risco Fitch Ratings alertou o mercado financeiro sobre indícios de um processo semelhante à inadimplência nas renegociações de dívidas da fabricante cearense de pás eólicas Aeris Energy, rebaixando sua classificação.

A Fitch removeu a observação negativa e rebaixou de "BBB(bra)" para "C(bra)" os ratings nacionais de longo prazo da Aeris e de suas primeira e segunda emissões de debêntures quirografárias "Debêntures que não precisam de garantia"  no mercado financeiro.

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Os debêntures são uma forma de investimento em que uma empresa emite títulos de dívida para captar recursos. Quem compra debênture está, na prática, "emprestando" dinheiro para a empresa e, em troca, receberá o valor investido com juros.

Aeris possui apenas um cliente

Atualmente, a Aeris possui apenas um cliente, o que representa um fator de risco para os seus negócios, segundo a Fitch.

"A empresa vivencia uma queda nos projetos de geração eólica no País, com consequente saída ou encerramento de atividade dos fabricantes de aerogeradores que utilizavam suas pás", detalhou.

A Fitch indicou que a empresa iniciou conversas para a reestruturação das dívidas. A agência vê estresse no desempenho, com a menor demanda por pás de rotores de aerogeradores tanto no Brasil quanto no mundo.

As informações foram divulgadas pela Aeris na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na noite de quinta-feira, 16.

Por volta das 14h01min, as ações ordinárias da Aeris negociadas na bolsa de valores (B3) caíam 1,45%, a R$ 6,81. Nos últimos 12 meses, a queda é de 58,48%.

Ociosidade produtiva

A Fitch vê a Aeris com elevada ociosidade da capacidade produtiva e projeta uma receita líquida aproximada de R$ 1,7 bilhão em 2024. Para 2025, R$ 823 milhões.

A produção de pás ficaria em 1,7 gigawatt (GW) no ano passado e em 813 megawatt (MW) neste ano. Já a geração de caixa deve ficar pressionada com as menores vendas em 2025.

Um dos principais indicadores financeiros, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Aeris deve ser de R$ 50 milhões em 2025. Em 2024, o indicador previsto é de R$ 180 milhões.

"A redução da atividade em 2025 aliviará as pressões no fluxo de caixa, enquanto o de 2024 foi impactado pela devolução de antecipações de clientes", detalhou a Fitch.

A perspectiva da agência é de que a Aeris registre um fluxo de caixa das operações (CFFO, em inglês) negativo em R$ 439 milhões e um fluxo de caixa livre (FCF, em inglês) negativo em R$ 530 milhões em 2024.

Para 2025, deve haver leve recuperação, com CFFO positivo em R$ 5 milhões. Porém, o FCF deve permanecer negativo em R$ 21 milhões.

Os números refletem a pressão financeira enfrentada pela empresa em meio à redução das atividades e da renegociação das dívidas.

Renegociação de dívidas

A reavaliação ocorre após os acordos de renegociação da Aeris, denominado standtill, junto a instituições financeiras credoras e a aprovação dos debenturistas para postergar o pagamento da primeira emissão de debêntures até 28 de fevereiro.

A empresa conseguiu junto aos seus debenturistas um acordo para adiar em até 60 dias o pagamento de juros remuneratórios e amortização, conforme O POVO noticiou no dia 9 de janeiro.

O movimento está sendo discutido, também, com bancos credores. Na prática, há a suspensão do vencimento ou de ações de cobrança no período estipulado, isto é, até o início do mês de março.

Entre os representantes dos debenturistas que votaram favoravelmente ao acordo na Assembleia Geral realizada na quarta-feira, 8, estão as gestoras Itaú Asset, XP Vista, JGP, Icatu Vanguarda, Galápagos e Exploritas.

O documento estabelece, todavia, que um novo acordo de confidencialidade seja entregue até o dia 20 de janeiro. Além disso, deve haver a obtenção do standstill junto ao Santander, Banco do Brasil e Votorantim nas mesmas condições.

A Aeris não deve dar novas garantias a terceiros até o dia 28 de fevereiro, de acordo com determinação da Assembleia. O objetivo é que a empresa ganhe tempo antes de realizar os pagamentos.

"As deliberações da presente AGD (assembleia) são tomadas por mera liberalidade dos debenturistas e não impedem, restringem e/ou limitam o exercício, pelos debenturistas, de quaisquer direitos pactuados na Escritura de Emissão", esclareceu em comunicado.

Aeris à venda?

A coluna Radar Econômico, da Veja, divulgou, na manhã de quinta-feira, 9, que a fabricante de pás eólicas chinesa Sinoma Blade está perto de comprar a Aeris, em uma oferta acima de R$ 20 por ação.

Segundo a coluna, a família Negrão, controladora da Aeris, deve aceitar a proposta. Isso porque o preço da ação está superior a cotação atual e o setor enfrenta desafios no Brasil.

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