Fitch rebaixa nota da Aeris e alerta para processo similar à inadimplência

Agência global de classificação de risco vê com preocupação renegociações de dívidas da Aeris e diz que empresa possui apenas um cliente

16:18 | Jan. 17, 2025

Por: Ana Luiza Serrão
Galpão da Aeris Energy no Pecém (foto: Davi Capistrano/Aeris/Divulgação)

A agência global de classificação de risco Fitch Ratings alertou o mercado financeiro sobre indícios de um processo semelhante à inadimplência nas renegociações de dívidas da fabricante cearense de pás eólicas Aeris Energy, rebaixando sua classificação.

A Fitch removeu a observação negativa e rebaixou de "BBB(bra)" para "C(bra)" os ratings nacionais de longo prazo da Aeris e de suas primeira e segunda emissões de  no mercado financeiro.

Os debêntures são uma forma de investimento em que uma empresa emite títulos de dívida para captar recursos. Quem compra debênture está, na prática, "emprestando" dinheiro para a empresa e, em troca, receberá o valor investido com juros.

Aeris possui apenas um cliente

Atualmente, a Aeris possui apenas um cliente, o que representa um fator de risco para os seus negócios, segundo a Fitch.

"A empresa vivencia uma queda nos projetos de geração eólica no País, com consequente saída ou encerramento de atividade dos fabricantes de aerogeradores que utilizavam suas pás", detalhou.

A Fitch indicou que a empresa iniciou conversas para a reestruturação das dívidas. A agência vê estresse no desempenho, com a menor demanda por pás de rotores de aerogeradores tanto no Brasil quanto no mundo.

As informações foram divulgadas pela Aeris na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na noite de quinta-feira, 16.

Por volta das 14h01min, as ações ordinárias da Aeris negociadas na bolsa de valores (B3) caíam 1,45%, a R$ 6,81. Nos últimos 12 meses, a queda é de 58,48%.

Ociosidade produtiva

A Fitch vê a Aeris com elevada ociosidade da capacidade produtiva e projeta uma receita líquida aproximada de R$ 1,7 bilhão em 2024. Para 2025, R$ 823 milhões.

A produção de pás ficaria em 1,7 gigawatt (GW) no ano passado e em 813 megawatt (MW) neste ano. Já a geração de caixa deve ficar pressionada com as menores vendas em 2025.

Um dos principais indicadores financeiros, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Aeris deve ser de R$ 50 milhões em 2025. Em 2024, o indicador previsto é de R$ 180 milhões.

"A redução da atividade em 2025 aliviará as pressões no fluxo de caixa, enquanto o de 2024 foi impactado pela devolução de antecipações de clientes", detalhou a Fitch.

A perspectiva da agência é de que a Aeris registre um fluxo de caixa das operações (CFFO, em inglês) negativo em R$ 439 milhões e um fluxo de caixa livre (FCF, em inglês) negativo em R$ 530 milhões em 2024.

Para 2025, deve haver leve recuperação, com CFFO positivo em R$ 5 milhões. Porém, o FCF deve permanecer negativo em R$ 21 milhões.

Os números refletem a pressão financeira enfrentada pela empresa em meio à redução das atividades e da renegociação das dívidas.

Renegociação de dívidas

A reavaliação ocorre após os acordos de renegociação da Aeris, denominado standtill, junto a instituições financeiras credoras e a aprovação dos debenturistas para postergar o pagamento da primeira emissão de debêntures até 28 de fevereiro.

A empresa conseguiu junto aos seus debenturistas um acordo para adiar em até 60 dias o pagamento de juros remuneratórios e amortização, conforme O POVO noticiou no dia 9 de janeiro.

O movimento está sendo discutido, também, com bancos credores. Na prática, há a suspensão do vencimento ou de ações de cobrança no período estipulado, isto é, até o início do mês de março.

Entre os representantes dos debenturistas que votaram favoravelmente ao acordo na Assembleia Geral realizada na quarta-feira, 8, estão as gestoras Itaú Asset, XP Vista, JGP, Icatu Vanguarda, Galápagos e Exploritas.

O documento estabelece, todavia, que um novo acordo de confidencialidade seja entregue até o dia 20 de janeiro. Além disso, deve haver a obtenção do standstill junto ao Santander, Banco do Brasil e Votorantim nas mesmas condições.

A Aeris não deve dar novas garantias a terceiros até o dia 28 de fevereiro, de acordo com determinação da Assembleia. O objetivo é que a empresa ganhe tempo antes de realizar os pagamentos.

"As deliberações da presente AGD (assembleia) são tomadas por mera liberalidade dos debenturistas e não impedem, restringem e/ou limitam o exercício, pelos debenturistas, de quaisquer direitos pactuados na Escritura de Emissão", esclareceu em comunicado.

Aeris à venda?

A coluna Radar Econômico, da Veja, divulgou, na manhã de quinta-feira, 9, que a fabricante de pás eólicas chinesa Sinoma Blade está perto de comprar a Aeris, em uma oferta acima de R$ 20 por ação.

Segundo a coluna, a família Negrão, controladora da Aeris, deve aceitar a proposta. Isso porque o preço da ação está superior a cotação atual e o setor enfrenta desafios no Brasil.

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