Retirada da PBio do plano de desinvestimento da Petrobras abre nova expectativa sobre a Usina de Quixadá
Em hibernação desde 2016, a planta é uma das três instaladas no Nordeste e que pode reforçar o fornecimento de biocombustível na Região
10:02 | Nov. 08, 2024
A decisão da Petrobras de não vender a subsidiária Petrobras Biocombustível (PBio) abre novas perspectivas para a Usina de Biodiesel de Quixadá (CE). A planta está hibernada desde 2016 e a medida, somada aos incentivos federais para a produção de combustíveis renováveis, projeta a expectativa de reativação da unidade.
No informe ao mercado, a Companhia admite que “está avaliando alternativas e modelos de negócio para a PBio por meio de parcerias que possam potencializar sua atuação, considerando novas oportunidades de negócios, possíveis sinergias entre os ativos da companhia e a maximização dos resultados do Sistema Petrobras.”
Quixadá, a 169,61 quilômetros de Fortaleza, possui uma das duas unidades da PBio localizadas no Nordeste. A outra está instalada em Candeias (BA). A subsidiária da Petrobras ainda opera uma terceira planta em Montes Claros (MG).
Perguntada sobre os planos futuros para a usina, a Petrobras afirmou ao O POVO que “a usina de Quixadá continua hibernada, mantida em condições de operação, e será considerada dentro das alternativas e modelos de negócio para a PBio.”
O que a Petrobras precisa fazer com a Usina de Biodiesel de Quixadá?
“A decisão da Petrobras sobre a PBio é uma importante notícia para a planta de Quixadá, aos olhos da Petrobras. Mesmo que a unidade fosse vendida, quem compraria, compraria para reativá-la. Ninguém compraria pra não reativá-la”, avalia o consultor internacional em biocombustíveis Expedito Parente Júnior.
Ele ressalta a importância da unidade para a economia local, vide os empregos de salários elevados, a tecnologia de ponta que dispunha a unidade e a geração de impostos e serviços ao redor da planta devido ao fluxo de matéria-prima.
Sobre a reativação ou não, ele afirma que depende exclusivamente da Petrobras, como é desde a decisão de hibernação em 2016, que teve os planos de venda frustrados até agora.
“O que a Petrobras precisa fazer é, de fato, agir: ou vender ou em colocar pra funcionar. Colocar no plano de desinvestimento e não vender ou retirar do plano de desinvestimento e não operar, continua mantendo um ativo ocioso, frustrando a região que poderia estar usufruindo da operação”, diz.
Por que a Usina de Biodiesel de Quixadá pode ser reativada?
No entanto, o momento é promissor para as duas possibilidades. O novo posicionamento de mercado da Petrobras vai ao encontro do novo momento da produção e consumo de biocombustível no Brasil e no mundo.
Apenas neste ano, o Governo Federal lançou dois programas de estímulo ao consumo de combustíveis sustentáveis, com destaque para a Lei do Combustível do Futuro e as linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“O mercado vive um novo entusiasmo muito grande no setor de biocombustíveis, que há muito tempo que não se via. Há pelo menos uns 15 anos ou 20 anos que o mercado não se vê tão entusiasmado como agora. Observa-se um conjunto de políticas: linhas de financiamento favorecidas, legislação que obriga a mistura obrigatória (de biocombustíveis nos combustíveis fósseis), uma agenda que dá previsibilidade de quanto a mistura obrigatória vai crescer com o tempo… Tudo isso facilita a vida do investidor, trazendo previsibilidade, permitindo que ele possa realmente planejar seus investimentos”, ressalta o consultor.
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Ele reforça que nesse cenário “há uma oportunidade para que as empresas de biocombustível, tanto ampliem suas operações como diversifiquem para essas novas indústrias.”
A reativação da Usina de Biodiesel de Quixadá estaria em sintonia ao novo momento do mercado brasileiro, com maior demanda de biocombustível e potencial de demarcar maior espaço da Petrobras neste segmento.
“A decisão está alinhada aos direcionadores estratégicos vigentes, que consideram a atuação da Petrobras em negócios de baixo carbono, diversificando o portfólio de forma rentável e promovendo a perenização da companhia”, informou a Companhia ao anunciar a retirada da venda da PBio.
Mercado consumidor estimula criação e reativação de usinas
Parente também avalia que ter um mercado consumidor forte, como é o caso do Ceará e do Nordeste como um todo, estimula a criação de novas usinas e, no caso de Quixadá, a reativação da planta em hibernação, pela exigência do aumento da mistura do biocombustível nos combustíveis fósseis, por conta da Lei Combustível do Futuro.
O desafio, aponta, é “estruturar uma operação de produção de biodiesel no Estado, na qual se aproveite esse mercado comprador e consiga neutralizar a dificuldade da oferta de matéria-prima.”
“Muitas vezes, mesmo estando longe da matéria-prima, estando perto do mercado comprador, é possível habilitar uma operação de biocombustível”, observa.
Quanto é o investimento para reativar a Usina de Biodiesel de Quixadá?
Para reativar a Usina de Biodiesel de Quixadá, explica Expedito Parente Júnior, seriam necessários mais recursos em capital de giro, especialmente suprimento de matéria-prima, do que na operação em si, com recursos para equipamentos.
"De uma maneira geral, uma planta de biodiesel que está há quase 10 anos sem funcionar, ela certamente exigirá investimentos para poder ser reativada. Agora, são investimentos pequenos. Mesmo que fosse montar uma planta do zero, uma usina de biodiesel é relativamente barata quando comparada à planta de etanol de milho ou com refinaria de petróleo. São modelos de operação bem diferentes, mas uma refinaria de petróleo é ordem aí de, pelo menos, 10 a 20 vezes mais capital do que uma planta de biodiesel, considerando a capacidade de equivalente de geração de combustível", explica.
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Uma unidade de biodiesel em operação em Floriano (PI) é dada por ele como exemplo. Responsável pelo projeto de instalação da planta, Parente conta que a unidade ficou dez anos inativa e foi reativada por um grupo brasileiro e está em operação há quatro anos.
"Algo equivalente poderia estar acontecendo em Quixadá. Mas, para isso, a Petrobras ou tem que vender ou tem que reativar", reforça.
Como está a Usina de Biodiesel de Quixadá hoje?
O POVO apurou que a Usina de Biodiesel de Quixadá permanece com apenas uma funcionária realizando o serviço de manutenção dos equipamentos no que a Petrobras classifica de hibernação da unidade.
A decisão de cancelar a venda da PBio animou o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Petróleo nos Estados do Ceará e Piauí (Sindipetro/CE-PI), que considera a retirada da subsidiária do plano de desinvestimento como "excelente", mas nenhum gesto no sentido de reativação foi feito até agora.
"Por enquanto, seguem em andamento os estudos sobre (a Usina de) Quixadá, que irão subsidiar qualquer decisão sobre o ativo", confirma o Sindicato.
No entanto, mesmo se dizendo empenhada em encaminhar a situação da unidade, a Petrobras não enviou equipes para a cidade cearense e continua fazendo as análises à distância.
O que aconteceu com a Usina de Biodiesel de Quixadá?
Em 2024, completam oito anos desde que a fábrica foi incluída no plano de desmonte da Petrobras no Ceará - levado a cabo pelo Governo Michel Temer (2016-2018). A decisão desfez a iniciativa que levou tecnologia de ponta, salários acima da média e a promessa de um futuro promissor aos habitantes do Sertão Central do Ceará.
Após reunir 20 mil funcionários na construção com o investimento de R$ 80 milhões aplicado entre 2007 e 2008, a Usina de Quixadá manteve mão de obra qualificada na região e um fluxo elevado de caminhões entre o interior cearense e os produtores de matéria-prima de biodiesel no Centro-Oeste e Nordeste como um todo.
No fim, após transferência de mais de 60 funcionários da Petrobras, e centenas de terceirizados, ficou a expectativa de venda da usina e a esperança de uma reativação que levaria a economia local a um novo ciclo de crescimento. Mas isso não aconteceu.