Cegás e Energia Pecém assinam termo de compromisso para distribuição de gás natural

Termelétrica e companhia estadual firmam acordo para garantir disponibilidade do sistema de distribuição de gás natural

19:23 | Nov. 07, 2024

Por: Samuel Pimentel
Energia Pecém fica localizada dentro do Complexo do Pecém (foto: Matheus Souza)

A termelétrica Energia Pecém e a Companhia de Gás do Ceará (Cegás) assinaram Termo de Compromisso para distribuição de gás natural no Complexo do Pecém.

O acordo firmado nessa terça-feira, 5, tem vigência de três anos, sendo considerado um passo essencial nos planos de conversão da termelétrica Energia Pecém para tornar a UTE Pecém uma usina geradora a gás natural.

No contexto atual da transição energética, a Energia Pecém estima a sua demanda de gás natural em até 6.800.000 Nm³/dia.

O presidente de Energia Pecém, Carlos Baldi, explica que a assinatura do termo é uma medida importante para o futuro da usina rumo à transição energética e à redução de emissões.

“A transição para o gás natural tem o objetivo de tornar nossa usina térmica ainda mais eficiente. E a assinatura do Termo de Compromisso é uma importante etapa desse processo”, comenta.

Oferta de gás natural ainda é desafio no Pecém

A usina termelétrica Energia Pecém está localizada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. A capacidade de produção de energia chega a 720 MW – cerca de 50% da capacidade geradora de energia do estado do Ceará.

Dividida em duas unidades geradoras, cujas operações comerciais foram iniciadas, respectivamente, em dezembro de 2012 e maio de 2013, a usina tem capacidade máxima de geração de 5.500 gigawatts-hora, suficiente para abastecer uma cidade de cerca de 5,6 milhões de habitantes.

O plano de transição energética da UTE Pecém, no entanto, esbarra numa crise de fornecimento de gás natural ao Ceará. A demanda de projetos tem sido muito maior do que a oferta atual.

O consultor e especialista no setor de Combustíveis e Energia, Bruno Iughetti, avalia que a movimentação entre a Energia Pecém e a Cegás é muito importante e estratégica.

No entanto, Bruno destaca que o Ceará passa por um momento delicado em que sente os reflexos negativos para grandes projetos após o deslocamento do navio regaseificador que estava atracado no Píer 2 do Porto do Pecém e que foi deslocado para Santa Catarina após encerramento de contrato com a Petrobras.

Negociações entre o Complexo do Pecém estão em andamento para que um novo fornecedor de gás natural seja viabilizado, inclusive, havendo conversas com a própria Petrobras e armadores estrangeiros para relocação de um navio regaseificador.

Na avaliação do especialista, o Ceará subestimou os problemas decorrentes da saída do navio da Petrobras, uma falha que considera grave.

"Fomos descuidados demais. Existia um contrato com o navio regaseificador que deveria ter sido renovado antes do seu encerramento pelo Governo do Estado e a Petrobras, mas isso não foi feito. As coisas caminharam a passos lentos, e já perdemos muitas oportunidades de grandes negócios. Agora é o momento em que não podemos dispensar essas novas garantias de abastecimento de gás natural no Pecém", afirma.

Empresas em expansão ou transição no Pecém buscam fornecimento de gás

Além da Energia Pecém, outras empresas buscam fornecimento de gás natural. Seja para realizar processo de transição energética ou mesmo início de operação, a demanda é grande.

Assim como a termelétrica UTE Pecém, outra empresa que assinou termo de compromisso para garantir a distribuição de gás natural foi a Jandaia S.A., do Grupo Ceiba Energy.

O movimento indica um "voto de confiança" das empresas ao Ceará a partir do indicativo de que o fornecimento de gás natural em nível a contento será viabilizado em breve.

Desde então acompanhando a questão, O POVO apurou em meados de junho que existe a expectativa de que a decisão do Complexo do Pecém sobre o operador de regás ocorra a partir da conclusão de um processo seletivo em que Petrobras e pelo menos outras três empresas demonstraram interesse.

Em contato com o Complexo do Pecém, O POVO apurou, no entanto, que o processo de escolha da empresa, programado para esse segundo semestre de 2024 ainda não teria começado.

Vale lembrar que a antiga estrutura onde ficava instalado o regás, no Píer 2, não será mais utilizada, pois servirá de base para operação de amônia verde.

O operador deste novo Píer 2 já foi escolhido, justamente por meio de processo seletivo - similar ao feito para decidir a nova operadora do regás -, que culminou na escolha do consórcio europeu Stolthaven.

A Ceiba possui projeto de termelétrica a gás natural com investimento estimado em até R$ 7,6 bilhões a ser implantado na Zona de Processamento de Exportação (ZPE). A intenção é construir um equipamento com licença prévia de 2.430 megawatts (MW) e um terminal de gás natural liquefeito (GNL).

Conforme O POVO noticiou em 29 de agosto deste ano, o empreendimento receberá gás de uma Unidade Flutuante de Armazenamento e Regaseificação (FSRU) que será afretada pela companhia.

A Ceiba Energy participará do próximo leilão de reserva de capacidade de potência, a ser realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) até o fim deste ano.

Naquela oportunidade, o diretor-presidente da Ceiba Energy, Emílio Vicens, ressaltou o poderio do empreendimento e reafirmou o comprometimento da empresa.

"Apoiados pelo Governo do Estado, estaremos aqui para fortalecer a infraestrutura energética e promover a implantação de um importante HUB de Gás Natural no Porto de Pecém”.

Vale lembrar que a Ceiba Energy é a mesma empresa por trás do projeto Portocem. O Grupo havia assinado pré-contrato com o Complexo do Pecém em 2022 para a construção de uma usina termelétrica movida a gás natural.

O investimento até então previsto era de R$ 4,7 bilhões e seria o segundo maior investimento privado da história do Pecém.

No entanto, em janeiro de 2024, a Ceiba Energy cancelou o projeto por falta de garantia de fornecimento de gás natural em quantidade suficiente e transferiu o projeto, já que o leilão de energia do qual havia participado exigia que disponibilidade da infraestrutura em 2026, o que não seria mais possível a partir do Ceará.

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