Urânio em água: Ceará planeja força-tarefa com ministérios, diz Elmano

Governador falou pela primeira vez sobre a concentração do minério na água de distrito de Santa Quitéria e disse contar com ministérios da Saúde, Meio Ambiente e Integração Regional para dar diagnóstico preciso da situação

17:02 | Out. 17, 2024

Por: Armando de Oliveira Lima
GOVERNADOR falou pela primeira vez sobre o assunto nesta quinta-feira, 17 (foto: Samuel Setubal)

A população do distrito cearense de Trapiá, onde a água de três poços apresentou concentração de urânio sete vezes acima do aceitável pelos órgãos de saúde, deve contar com representantes dos ministérios da Saúde, Meio Ambiente e Mudança do Clima e Integração e Desenvolvimento Regional no trabalho de diagnóstico da situação.

“Pedimos apoio para fazer análise já desde o começo quando encontramos urânio acima do permitido. Determinei que a secretária de Saúde (Tânia Mara Silva Coelho) fosse até o distrito de Trapiá para que, de maneira transparente como determina a lei e como é obrigação nossa de ser transparente com o nosso povo e, sem criar pânico, dar os dados corretos e demonstrar as medidas que estavam sendo tomadas”, afirmou o governador Elmano de Freitas (PT).

Foi a primeira manifestação pública do gestor sobre o assunto revelado em primeira mão em matéria do O POVO. Ele ainda ressaltou que o aumento da concentração do metal na água se deu de forma natural.

O distrito fica localizado na cidade de Santa Quitéria, a 222 quilômetros de Fortaleza. Há cerca de dez dias, segundo informou a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), laudos apontaram medições sete vezes acima dos 0,03 miligramas de urânio por litro de água em 14 das 15 amostras coletadas.

De imediato, ressaltou o governador na manhã desta quinta-feira, 17, o Estado interditou os poços e enviou carros-pipa para o abastecimento das famílias do distrito, e tomou mais as seguintes medidas:

  • Criação de um Comitê Emergencial para Gerenciamento de Riscos e Contenção de Danos, formado pelas secretarias da Casa Civil, Recursos Hídricos, Saúde e Procuradoria-Geral do Estado, além dos órgãos Cagece, Cogerh, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros Militar;
  • Orientação e acompanhamento multidisciplinar da população local;
  • Início do funcionamento da adutora nesta semana, que levará água do açude Araras até a localidade;
  • Elaboração de Plano de Contingência em resposta ao evento adverso, a partir de estratégia planejada e intersetorialmente articulada, objetivando minimizar efeitos;

Adutora em teste

Elmano afirmou ainda que a adutora em questão “já está concluída e em teste neste momento” e assegurou que “daqui a pouco, em alguns dias, a água tratada vai chegar sem nenhum risco para a população.”

Com capacidade de bombeamento de 18 metros cúbicos por hora, a adutora tem aproximadamente 16.400 metros de extensão e leva água açude Paulo Sarasate, conhecido como Araras, através do Sistema de Abastecimento de Água da comunidade de Sangradouro, gerenciada pelo Sistema Integrado de Saneamento Rural - Bacia Acaraú e Coreaú (Sisar-BAC) e localizada às margens do açude.

Ele reforçou  ainda que, embora tenham ocorrido esses episódios nos poços de Trapiá, a principal fonte de abastecimento de água do município é o açude Edson Queiroz, que não tem problema de contaminação. 

“Quero deixar muito claro que a água que abastece Santa Quitéria é do açude Edson Queiroz, que não tem nenhum problema (para consumo)”, acrescentou o governador.

Ministérios vão participar de diagnósticos

A participação dos ministérios citada por Elmano deve se dar na testagem e diagnóstico da água da região. Após o alerta feito e as medidas tomadas, o governo pôs em prática um novo plano de amostragem da água no distrito de Trapiá.

O Estado informou que será realizado o mapeamento, com cartografia, dos pontos em que será realizada a coleta. As novas amostras devem ser reunidas no início de novembro e avaliadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen), que posteriormente as encaminha ao Instituto Evandro Chagas (IEC) para revisão.

“Os ministérios do Meio Ambiente, da Saúde e da integração é para nos ajudar a fazer um diagnóstico preciso por ser o máximo transparente e de responsabilidade porque envolve a saúde das pessoas”, reforçou o governador.

Proximidade da jazida de urânio

Ao O POVO, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) observou que “a composição das rochas em uma região influencia diretamente as características dos recursos hídricos e do solo, mesmo na ausência de intervenções humanas.”

“Quando as rochas contêm uma maior concentração de minerais, como o urânio, há uma probabilidade elevada de que o solo e os recursos hídricos locais apresentem concentrações desse mineral”, disse a nota.

Trapiá fica a 70km de distância da mina de urânio da Fazenda Itataia, em Santa Quitéria. Descoberta ainda na década de 1970, o local nunca foi explorado. Hoje, um projeto está em trâmite no Ibama para tal, mas segue em análise.

O governador reforçou que “a princípio, (a alta concentração de urânio nos poços da localidade) não tem a ver com (o projeto para) a usina. Tem a ver com o solo do distrito, mas efetivamente vamos procurar pesquisadores, academia” para atestar.

Fiscalização e medidas pelo Ibama

Sobre uma medida pelo Ibama, o órgão federal informou que “até o momento, não há ações a serem realizadas por esta autarquia, uma vez que não foram identificados indícios de relação com atividades licenciadas pelo Ibama, nem se configura uma emergência ambiental.”

Já o governo cearense destacou, em nota, que “outras medidas serão adotadas de acordo com a necessidade, com o objetivo de proteger os cidadãos e cidadãs da comunidade de Trapiá.”

Colaborou Ana Luiza Serrão

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