Urânio em poços: Sesa iniciou nova testagem e quer apoio do Ministério da Saúde

Maior concentração se deu por causas naturais e plano de amostragem já está em curso, segundo afirmou o Governo do Estado

O Governo do Estado do Ceará pôs em prática um novo plano de amostragem da água no distrito de Trapiá, em Santa Quitéria, após identificar concentração de urânio sete vezes maior que o recomendado em três poços da localidade.

A concentração além do recomendado para o consumo humano se deu de forma natural, de acordo com o Estado.

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Ao O POVO, a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) informou que "solicitou apoio ao Ministério da Saúde na investigação epidemiológica", apesar de nenhum caso ter sido identificado até agora.

Em nota, a Sesa observa que "as funções renais são mais predispostas a sofrerem efeitos do urânio", que é encontrado em "alta concentração" naquela região do Estado.

Conforme portaria de potabilidade GM/MS nº 888/21, o valor máximo permitido é de 0,03 miligrama de urânio por litro (mg/L).

A ocorrência de maior concentração foi motivo de comunicado formal ao Ministério da Saúde e, no âmbito estadual, foram comunicadas a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) e suas vinculadas, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), a Casa Civil e outros entes relacionados ao tema.

O que vai ser feito pelo Estado?

"Nesta primeira fase, é realizado o mapeamento, com cartografia, dos pontos em que será realizada a coleta. As novas amostras devem ser reunidas no início de novembro", informou o governo.

Depois de colhidas, as amostras passarão por avaliação do Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen), que posteriormente as encaminha ao Instituto Evandro Chagas (IEC) para revisão.

"De acordo com a série histórica registrada pela Sesa para a localidade, até o momento não foram identificadas condições clínicas e epidemiológicas de doenças sob suspeita de estarem relacionadas ao metal no distrito, que fica a um raio de 70 km de distância da jazida de Itataia", reforça a Sesa.

A menção diz respeito à maior jazida de urânio do Brasil, atualmente. Descoberta na década de 1970, a reserva nunca foi explorada comercialmente até hoje. Apenas sondagens para medir o tamanho foram executadas.

O Estado reforça ainda que medidas estão em curso há cerca de 10 dias, desde que os primeiros laudos foram conhecidos pela Sesa. São elas:

  • Criação de um Comitê Emergencial para Gerenciamento de Riscos e Contenção de Danos, formado pelas secretarias da Casa Civil, Recursos Hídricos, Saúde e Procuradoria-Geral do Estado, além dos órgãos Cagece, Cogerh, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros Militar;
  • Interdição dos pontos de coleta de amostras em que foi identificada a presença de urânio;
  • Orientação e acompanhamento multidisciplinar da população local;
  • Garantia do abastecimento à população da localidade com 15 carros-pipa diários; Início do funcionamento da adutora nesta semana, que levará água do açude Araras até a localidade;
  • Elaboração de Plano de Contingência em resposta ao evento adverso, a partir de estratégia planejada e intersetorialmente articulada, objetivando minimizar efeitos;

MAM cobra mais medidas do governo

O Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) expressou preocupação com as informações apresentadas pela Sesa. Ao O POVO disse que “o subsolo da região já apresenta muitos eventos de rochas uriníferas com relevante potencial de risco à saúde humana.”

"Há enorme desconhecimento dos órgãos competentes sobre a extensão destas contaminações e de seus riscos à saúde. Ainda que tenham sido analisados três poços, há um número significativo de outros poços públicos e de uso particular para abastecimento humano e animal que não foram analisados", aponta.

O MAM destina atenção ainda aos itens produzidos pela população habitante daquela região e que são consumidos por eles e demais pessoas do entorno, como leite, queijo, carne, frutas, verduras e legumes.

O MAM ainda lista medidas que consideram necessárias para que haja segurança para os habitantes do entorno da jazida de Itataia. São elas:

  1. Que os laudos técnicos das análises realizadas pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará sejam publicizados;
  2. Que a Sesa e a Cagece façam a análise das águas de todo o distrito de Trapiá, considerando os poços profundos de uso particular, cacimbão e toda e qualquer estrutura hídrica de uso particular e coletivo para abastecimento humano e animal;
  3. Que seja realizado o sequenciamento genético das famílias do distrito de Trapiá para averiguar potenciais contaminações;
  4. Que a Sesa e a Cagece façam a análise de todas as infraestruturas hídricas de uso particular e coletivo para abastecimento humano e animal de todos os distritos do município de Santa Quitéria, em especial, dos assentamentos Saco do Belém, Morrinhos, Queimadas e Alegre e Tatajuba, além das comunidades do entorno do distrito de Riacho das Pedras;
  5. Que todas as análises de água realizadas pelo Consórcio Santa Quitéria sejam publicizadas e que, independentemente do resultado, novas análises sejam realizadas pela Sesa e Cagece;
  6. Que seja realizado um estudo de base epidemiológica para que se estabeleça uma linha de corte que permita identificar a situação da saúde do povo de Santa Quitéria e região.

Crítica à exploração de urânio na Região

"Fica, ainda, tecnicamente comprovado, refutando o que o Consórcio Santa Quitéria insiste em afirmar, que rochas uriníferas emitem sim radiação a níveis prejudiciais à saúde e que, em um eventual cenário de licenciamento do Projeto Santa Quitéria, os danos à saúde, águas e solo poderão ser catastróficos", apontou.

Responsável pelo projeto que quer explorar urânio e fosfato na Fazenda Itataia, o Consórcio Santa Quitéria reforçou que a concentração de urânio na água do distrito de Trapiá não está associado à exploração da jazida - a qual está a 70 km de distância dos poços interditados pelo Estado.

Projeto Santa Quitéria | Trailer O POVO+ | Exploração de urânio e fosfato gera conflito no Ceará

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