Exportação de rochas via Pecém deve superar as 50 mil toneladas em 2024
Pedra conhecida internacionalmente como Taj Mahal é a mais cobiçada no mundo e é encontrada somente em cidades cearenses. Veja fotos e saiba mais sobre a exploração da rocha
17:58 | Out. 03, 2024
O Ceará deve encerrar 2024 com 50 mil toneladas de rochas exportadas via Porto do Pecém. Atualmente, a marca é de 40,192 mil toneladas registradas no dia 2 de outubro, quando o navio MV Jacamar Arrow partiu com 12,146 mil toneladas para o Porto de Livorno, na Itália.
A projeção é de Carlos Rubens Araújo, presidente do Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran-CE), e representa um crescimento de 14,29% sobre as 43,745 mil toneladas movimentadas no ano passado.
Mas a expansão sobre a marca de 2023 não supera a de 2022, quando o Pecém movimentou 68,364 mil toneladas de rochas para o exterior. No entanto, observa o presidente do Simagran, isso é uma questão de incentivo.
Com estímulos, ele acredita que o setor pode saltar dos atuais 3,5% de participação nas exportações cearenses para mais de 7% e a explicação está na atenção que o mercado internacional está dando ao Ceará.
Taj Mahal: a pedra mais cobiçada no mundo e que só é encontrada no Ceará
“O Ceará, hoje, é a fronteira da pedra natural no mundo. As pedras que são mais desejadas no mundo estão no Ceará. A pedra que é mais conhecida no mundo é extraída aqui no Estado do Ceará e se chama Taj Mahal, como o monumento da Índia”, ressalta.
Carlos Rubens comenta que investidores de Estados Unidos, França, Bélgica, China e inúmeros outros mercados estão de olho e importam os blocos desta pedra, que são usados na construção civil.
O material bruto, como o movimentado no Pecém pela Tecer Terminais nos últimos três dias, vai prioritariamente para a Itália e para a China. Nesses destinos, os blocos são beneficiados, ou seja, são laminados e divididos para a aplicação em pisos de hoteis, aeroportos e edifícios em geral por todo o mundo.
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A Taj Mahal, explica o presidente do Simagran, “tem 98,5% de cristal de quartzo, então, é uma rocha que resiste à abrasão, não arranha e possui tonalidade bege.” Um exemplo de aplicação dela no próprio Ceará é o piso do BS Design.
“É um prédio que tem 7 anos e parece que o piso foi colocado hoje. E daqui a 20 anos vai estar do mesmo jeito. É uma rocha que tem uma caracterização tecnológica fantástica e alia isso com o aspecto decorativo. É o sonho, o que sempre se desejou que estivesse numa rocha”, cita, mostrando o porquê do interesse dos investidores no produto.
Onde a Taj Mahal é explorada no Ceará?
A pedra cobiçada por investidores internacionais e só encontrada no Ceará tem em Uruoca e Santana do Acaraú a zona de maior produção, atualmente. O presidente do Simagran-CE aponta ainda que já foram descobertas jazidas de Taj Mahal em Viçosa do Ceará e Granja também.
No entanto, o Grupo Vermont Mineração afirma que a Taj Mahal "é um material geológico distinto, encontrado em uma única lavra no município de Uruoca, no estado do Ceará, e explorado exclusivamente pelo Grupo."
"O Quartzito Taj Mahal não é extraído em diversos locais sob diferentes nomenclaturas. As rochas comercializadas com nomes como Avohay, Naica, Matira, Perla Venata e Perla Santana, são materiais diferentes, com características geológicas próprias, que conferem a elas também suas qualidades, e não devem ser confundidas com o Quartzito Taj Mahal", acrescenta a Vermont.
Pecém já carregou 4 navios com rochas em 2024
Para o transporte da Taj Mahal e das demais pedras exploradas no Ceará, o Porto do Pecém recebeu quatro navios em 2024. O quinto navio que deve selar a projeção feita pelo Siamgran-CE chega por volta do Natal, segundo informou Carlos Alberto Nunes, diretor comercial da Tecer.
A última operação feita pela empresa movimentou 458 blocos entre os dias 29 de setembro e 2 de outubro no Terminal de Múltiplo Uso (Tmut) do Pecém. Foi a segunda maior embarcação do tipo a atracar no porto para transportar rochas cearenses.
“É um mercado muito promissor. Nós operamos este tipo de carga há oito anos. Enviamos para Carrara (Itália), que é o hub internacional de rochas, mas também para outros portos da Itália e China, além dos Estados Unidos”, detalha Nunes.
O diretor comercial conta que a operação não se dá apenas com o navio específico para blocos, mas como os blocos alocados em contêineres também. A operação é feita no Pecém, mas passa por Santos, a partir de um transbordo de cargas rumo à China.
De 2018 até o fim deste ano, a Tecer projeta uma movimentação de rochas de 10.050 blocos e um total de 276,087 mil toneladas movimentadas a partir do Pecém. O que pode se tornar bem mais, segundo o presidente do Simagran-CE.
Ceará perde US$ 200 mi para o Espírito Santo
Carlos Rubens comenta que as rochas extraídas do Ceará e enviadas para o Espírito Santo, principal beneficiador do material no Brasil, representam US$ 200 milhões na balança comercial daquele estado.
“Ou seja, se tivéssemos indústrias que fizessem esse trabalho aqui e exportando pelo Porto do Pecém, a gente estaria ganhando esses US$ 200 milhões”, aponta.
Ele avalia que “é previsível que, em pouco tempo, uns dois a três anos, a gente passe a ter indústrias aqui, porque o custo do frete é muito alto e a tendência é que venham para perto da pedra, como é em todo o mundo.”
Hoje, explica, os blocos de rocha são extraídos nas cidades cearenses e levados por carretas para o Espírito Santo, onde está a sede das empresas. No destino, eles são laminados e preparados para o uso na construção civil, sendo exportados por um valor maior, que varia a depender da cotação de cada pedra.
Essa movimentação pelo estado capixaba representa 80% de tudo que o Brasil exporta de rochas e representa 13% do PIB estadual.
Pecém busca captar indústria de rochas
Ao O POVO, Rebeca Oliveira, vice-presidente do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), afirmou que é do interesse do Estado captar uma empresa que faça a laminação na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará e dê mais valor ao produto exportado pelo Pecém.
“Existe uma tratativa já há alguns anos. O que mais dificulta é a questão da armazenagem, porque eles precisam juntar o material até um número X para exportar. Então, a gente trabalha no sentido de ver o tempo que eles precisam e que não seja muito oneroso. Agora, a ZPE consegue trazer os maquinários de que a indústria precisa com melhores valores e isenção de impostos”, ressalta.
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Ela conta que a captação atual foi fruto de parceria com o Simagran-CE, que fez os contatos com os empresários que exploram no Ceará e poderiam enviar os blocos diretamente pelo Pecém.
Para o diretor comercial da Tecer, o ideal seria uma empresa que fizesse a laminação de forma terceirizada. Carlos Alberto Nunes sugere um modelo coletivo, onde todas as empresas levassem os blocos até à ZPE e uma única empresa laminasse as rochas. Mas, até agora, a modulação disso ainda não foi definida.