Taxas de juros sobem com risco fiscal e Powell, com avanço também no acumulado do mês
18:13 | Set. 30, 2024
Os juros futuros terminaram a segunda-feira, 30, em alta nos principais contratos, e tiveram avanço bem mais expressivo na comparação aos níveis de fechamento de agosto. A piora na percepção de risco fiscal, após dados do setor público consolidado acentuarem o temor da dominância fiscal, pressionava as taxas já pela manhã e o avanço ganhou força à tarde após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, indicar redução no ritmo de corte de juros nas próximas reuniões se os dados econômicos não surpreenderem.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 11,005%, estável ante o ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 12,27% para 12,32%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,39% (de 12,30% na sexta-feira) e a taxa do DI para janeiro de 2029 avançou para 12,49%, de 12,37%. No acumulado do mês, as taxas de curto e médio prazos foram as que mais subiram, com queda nos níveis de inclinação da curva.
O principal estímulo ao acúmulo de prêmios ao longo do mês veio da piora da percepção sobre as contas públicas, hoje renovada pelo resultado do setor público em agosto. O déficit de R$ 21,4 bilhões ficou em linha com a mediana das estimativas (R$ 21 bilhões), mas a abertura do dado acentuou o temor de que o País possa entrar em dominância fiscal, na qual a política monetária perde sua eficácia em meio ao crescimento do endividamento público.
"O mercado está um pouco menos preocupado com o primário do arcabouço e mais preocupado com outras questões que passam por fora do arcabouço. Tem medo de que a dívida bruta do governo geral, também por conta da alta da taxa de juros, nos coloque numa situação bastante perigosa", afirma o diretor da Nomos Investimentos, Beto Saadia. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) em relação ao PIB em agosto atingiu 78,55%, o nível mais alto desde outubro de 2021, quando ficou em 79,51% do PIB.
Para os economistas do Bradesco, a expectativa é de que o ritmo da relação dívida/PIB seja mais baixo nos próximos meses, dado que a antecipação de despesas para o primeiro semestre deve gerar resultados primários mensais melhores no restante do ano. "Por outro lado, o início do ciclo de alta da Selic ainda manterá o déficit nominal em níveis elevados", afirmam os profissionais, que projetam déficit primário de 0,4% do PIB no fim do ano, levando a relação dívida/PIB para 79,5%.
O gasto com juros em agosto foi de R$ 68,955 bilhões, abaixo dos R$ 80,124 bilhões em julho, mas com a Selic em trajetória ascendente, as perspectivas para essa rubrica são ruins, considerando que a dívida pós-fixada é quase metade do total.
Na pesquisa Focus de hoje, houve ajuste para cima nas medianas da Selic para o fim de 2024, de 11,50% para 11,75%, e de 2025, de 10,50% para 10,75%. A alteração conseguiu aliviar pouco as expectativas para o IPCA. A de 2025 caiu de 3,62% para 3,60% e a mediana para inflação suavizada dos próximos 12 meses, que ganhou importância nas análises após a regulamentação da meta de inflação contínua, oscilou de 4,04% para 3,97%.
O exterior também contribuiu para o desempenho da curva, especialmente após as declarações de Powell derrubarem as apostas em novo corte de juros de 50 pontos-base e puxarem os retornos dos Treasuries para as máximas do dia.
Ele disse que o cenário base do Fed, caso os próximos indicadores venham dentro do esperado é cortar juros em 25 pontos nas duas próximas reuniões. Ressaltou que a instituição não tem a urgência para flexibilizar a política monetária, visto que o mercado de trabalho segue bem aquecido, muito embora venha desacelerando. A chance de redução de 25 pontos para a reunião de novembro saltou de 26,7% na sexta-feira para 67,3% no fim da tarde.