Pecém bate recorde com um único navio a movimentar mais de 4 mil contêineres
Atracado no Porto entre sexta e domingo últimos, a embarcação MSC Mariagrazia possui comprimento equivalente ao de três quarteirões e altura (contando os contêineres) de um prédio de 17 andares. Veja imagens
18:21 | Set. 30, 2024
O Porto do Pecém bateu recorde de movimentação de carga em um único navio no último fim de semana. A operação feita pela APM Terminals movimentou 4.016 contêineres trazidos pelo MSC Mariagrazia entre 11h da sexta-feira, 27, e 15h37min do domingo, 29 - parte do trabalho acompanhado com exclusividade pelo O POVO.
O feito inédito confirma a capacidade técnica do terminal cearense de se tornar um hub portuário e agir em megaoperações do tipo.
Com partida da China e passagem pelo Canal do Panamá, o navio recebido no último fim de semana trouxe cargas que irão para 14 outros portos - entre linhas nacionais e internacionais, além de rotas rodoviárias - a partir do Pecém.
Este é o perfil que o porto cearense almeja, ressaltou o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), aproveitando a localização estratégica e o formato offshore (no qual o acesso das embarcações se dá no mar e não na costa).
André Gonzaga, gerente de Operações da APM, classificou o trabalho feito sem interrupção por mais de 50h “como um marco para o Ceará” e capaz de abrir as portas do setor de grandes embarcações de rotas de longo curso para o Estado.
“É uma oportunidade para demonstrar para o mercado que a APM e o Complexo têm a capacidade de operar esses navios e é um desenvolvimento para o Estado. Dá mais oportunidade para o mercado local e até para os estados vizinhos, com geração e melhoria dos empregos”, projetou.
Gonzaga explicou que, hoje, navios do tipo do Mariagrazia vão para o Porto de Santos, onde fazem o transbordo das cargas, as quais são enviadas para o restante do Brasil e países vizinhos.
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Mas o objetivo é fazer com que o Pecém vire referência para este tipo de operação, especialmente, com embarcações com partidas da China.
O interesse é ter acesso ao mercado chinês para os produtos brasileiros a partir do Ceará. O principal atrativo seria a proximidade com os destinos europeus e também o melhor tempo de embarque e desembarque do terminal quando comparado a Santos.
No entanto, a concorrência no Nordeste existe, vide que os portos de Suape (PE) e Salvador (BA) já movimentaram embarcações semelhantes.
A movimentação do MSC Mariagrazia em números
Com a construção concluída em 2024, o MSC Mariagrazia navega com bandeira da Libéria e possui 366 metros de comprimento, o que é equivalente a três quarteirões.
São mais 51 metros de largura e, ao chegar no Pecém carregado com mais de 4 mil contêineres, ele apresentava uma altura de cerca de 50 metros - o equivalente a um prédio de 17 andares.
Para a atracação, a embarcação precisou de três rebocadores e atracou no terminal de múltiplo uso (Tmut) com 14,2 metros de calado (parte submersa do navio) - quase um metro a menos que a capacidade verificada do terminal, de 15,7 metros.
O tempo também foi destaque, levando menos de 1h30min para que estivesse apto para a descarga.
Inédito, o transbordo das cargas somou 7391 TEUs (unidade equivalente a 20 pés) e ocupou áreas até então não utilizadas pelo Porto do Pecém. Além do próprio Tmut, pátios paralelos às vias de acesso aos píeres também foram usados para empilhar os contêineres ao mesmo tempo do pátio de cargas.
Na operação entre o navio e o pátio atuaram os equipamentos da APM, todos elétricos. "Tivemos duas semanas de preparação para isso porque foi um volume muito alto. E as janelas de atração dos navios nos berços continuam e eu tenho um extra de 4 mil contêineres em pleno período de safra (de frutas frescas)", contou Gonzaga.
A operadora, braço da dinamarquesa Maersk, possui três guindastes do tipo RTG (guindastes do tipo pneu de borracha), conhecidos como empilhadores de contêiner e que atuam no pátio de cargas.
Mais três equipamentos, do tipo STS (navio para terra, da sigla em inglês), agiram no desembarque do MSC Mariagrazia.
Sob trilhos, os STSs tem altura de 89 metros e são capazes de fazer 30 movimentos por hora. Ao todo, em torno de 120 profissionais por turno foram envolvidos, incluindo, uma sala de controle que orientava e calculava a produtividade de cada etapa do processo.
Entre os tipos de cargas que vieram nos contêineres do MSC Mariagrazia, o gerente de Operações da APM cita placas solares, peças automotivas e até carnes, em equipamentos refrigerados. Itens do comércio varejista, como utensílios domésticos de plásticos e brinquedos, fazem parte da lista.
Economia e menos emissão de carbono
André Magalhães, diretor comercial da Cipp e da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará, observou que a movimentação feita de uma só vez representou um custo menor por unidades e ainda economia de combustível e menos emissão de carbono quando comparada ao mesmo número de contêineres transportados em diferentes embarcações.
“Devido ao seu tamanho, esses navios têm a capacidade de transportar uma quantidade significativamente maior de carga por viagem. Tal capacidade reduz o número de viagens necessárias para movimentar o mesmo volume de mercadorias, o que, por sua vez, diminui o consumo total de combustível e as emissões de CO2 por tonelada transportada”, explicou.
Pecém negocia com mais duas grandes embarcações
Os números observados ao longo dos últimos três dias confirmaram as expectativas do Complexo, que disse trabalhar para atrair mais navios de 366 metros de comprimento.
“Estamos atualmente em negociações para receber mais dois navios deste porte”, revelou André Magalhães.
A meta é que as atracações aconteçam ainda em 2024, o que deve elevar mais ainda as movimentações de contêineres do porto cearense. O diretor comercial da Cipp e da ZPE do Ceará reforçou ainda que “esta iniciativa trará benefícios não apenas para o porto, mas também para a sociedade e o Estado como um todo.”
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E, ressaltou que o “Pecém está estrategicamente localizado nesta rota asiática, sem restrições operacionais” e acrescentou que “as cargas provenientes da Ásia estão chegando progressivamente mais rápido ao Nordeste, com uma redução média de 10 dias no tempo de trânsito.”
“O cliente ganha vindo para cá em tempo, ao invés de ir ainda para o Sul e voltar, a carga já desembarca no Ceará. Os estados do Centro-Sul do País se beneficiam ”, ressaltou André Gonzaga.