Comércio pode perder até R$ 117 bi por ano devido às bets, diz CNC

Conforme o estudo produzido pela instituição, somente no primeiro semestre deste ano os cassinos on-line colocaram mais de 1 milhão de brasileiros em situação de inadimplência

12:42 | Set. 26, 2024

Por: Fabiana Melo
Beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em bets (empresas de apostas eletrônicas) via Pix em agosto (foto: AURÉLIO ALVES)

O comprometimento da renda das famílias com as bets pode reduzir em até R$ 117 bilhões o faturamento da atividade varejista por ano.

Foi o que afirmou Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em entrevista à Rádio O POVO CBN.

De acordo com ele, o aumento das dívidas impacta diretamente o resultado do setor. 

Conforme o estudo produzido pela instituição, somente no primeiro semestre deste ano os cassinos on-line, como o "jogo do tigrinho", colocaram mais de 1 milhão de brasileiros em situação de inadimplência.

Assim, explica que há uma forte relação desse fenômeno com fatores sociais, visto que as apostas esportivas são apresentadas como se fossem um investimento ou planejamento financeiro.

"Destacamos a forte relação desse fenômeno com fatores sociais. Estamos observando indícios de que uma parte significativa dos repasses do Bolsa Família está sendo direcionada para apostas, afetando especialmente um grupo com menor escolaridade e educação financeira."

Segundo nota técnica elaborada pelo Banco Central (BC), os beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em bets (empresas de apostas eletrônicas) via Pix em agosto. 

Além disso, cerca de 5 milhões de um total aproximado de 20 milhões fizeram apostas via Pix. 

Nesse sentido, Felipe Tavares acredita que apenas limitar o uso de cartão de crédito não resolve o problema, pois as pessoas vão começar a se endividar de outras formas.

Por exemplo, utilizar o CPF para obter crédito consignado, dinheiro em espécie ou, em casos extremos, recorrer a agiotas ou vender seus bens.

"Precisamos atacar a raiz do problema, que é o fato de termos um modelo de apostas sem regulamentação, sediado em paraísos fiscais fora do país, sobre o qual não conseguimos exercer nenhum tipo de controle."

Outro ponto defendido pelo economista-chefe da CNC é que, com o intenso assédio dos cassinos online à população, a modalidade não pode ser liberada no País. 

"Devemos começar, como todos os países fizeram, com a regulamentação dos cassinos físicos. É fundamental proteger a sociedade e o consumidor, garantindo que isso seja um instrumento de desenvolvimento, e não uma ferramenta de cobiça e ganância descontrolada."

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