Nova pesquisa aponta queda de 40% da extrema pobreza no Brasil em 2023
A queda foi observada em todas as regiões do País, além de ter sido mais significativa em mulheres negras, com uma redução de 45,2%
13:16 | Ago. 29, 2024
A população brasileira em extrema pobreza diminuiu 40% em um ano. A queda foi observada em todas as regiões do País, além de ter sido mais significativa em mulheres negras, com uma redução de 45,2%. Dentre as regiões, o segundo maior decréscimo ocorreu no Nordeste (de 4,7% para 2,7%).
Entretanto, o Nordeste é a região com o maior percentual de extremamente pobres (2,7%). Os dados são do relatório de 2024 do Observatório Brasileiro das Desigualdades, publicado na última terça-feira, 27, e se referem ao ano de 2023.
As demais regiões também recuaram. No Sudeste, a desigualdade foi de 2% para 1,3%, enquanto que no Sul foi de 1,7% para 1% e o Norte apresentou recuo de 3,6% para 2%.
No comparativo dos grupos, a redução foi maior entre mulheres do que homens, especialmente mulheres negras, com taxa de redução de 45,2%, que é bastante superior a redução ocorrida no grupo de homens não negros, 30,7%.
Além disso, apesar dessa redução, os 1% mais ricos continuam com renda de 31 vezes maior que dos 50% mais pobres. Em 2022, era 30,8 vezes.
De acordo com nota divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o aumento no rendimento mensal dos trabalhadores e a queda da taxa de desemprego são fatores que influenciam na diminuição da extrema pobreza no país.
“Isso mostra que estamos no caminho certo. Cada vez mais tirar da fome, da extrema pobreza e da pobreza, fazer crescer e melhorar de vida”, apontou o titular do MDS, Wellington Dias.
Segundo o que foi apurado pela pesquisa, o índice de desemprego diminuiu 20%. O Norte e o Sudeste tiveram as maiores reduções, 21,7% e 21,3%, respectivamente, e o Nordeste a menor redução, 15,4%.
Já o rendimento médio aumentou 8,3%, sendo maior entre as mulheres do que entre os homens: 9,6% contra 7,7%.
Rendimento
Porém, mesmo com o rendimento aumentando mais, em 2023, homens ganhavam R$ 3.252,00, enquanto as mulheres ganhavam R$ 2.386,00, ou seja, a remuneração das mulheres é 27% menor que a dos homens.
Ao acrescentar o recorte racial se observa que pessoas negras ganhavam R$ 2.149,00, em média, enquanto as não negras ganhavam R$ 3.668,00. Dessa forma, os negros possuem um rendimento mensal médio 41% menor do que não negros.
Vale ressaltar que o rendimento médio no Nordeste é o menor do Brasil, sendo de R$ 1847 em 2023. Na região com o maior rendimento, centro-oeste, o valor é R$ 3310, ou seja, 55,8% mais alto.
Em relação à escolaridade, segundo dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) de 2018, 29,4% da população brasileira entre 15 e 64 anos era considerada analfabeta funcional. Dentre as regiões, o Nordeste é a que possui a maior taxa, com 42,1% desse público sendo analfabeto funcional.
O relatório também apresenta que, em 2023, apenas 33,2% das crianças de 0 a 3 anos estavam matriculadas em creches, a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é de 50%.
Esse índice muda também de acordo com a região, por exemplo, a diferença em ponto percentual (p.p.) entre a região com maior acesso, Sul (43,1%), e a de menor, Norte (17,1%), é de 26 p.p.
Veja os índices dos outros territórios do País:
- Nordeste 26.5
- Centro-Oeste 28.4
- Sudeste 40.2
No que se refere ao ensino médio, o levantamento indica que o número de estudantes aumentou 0,3 p.p. de 2022 para 2023, o crescimento maior foi observado entre os homens, enquanto o número de mulheres diminuiu.
“Para este resultado tivemos a maior contribuição vinda dos estados do Nordeste com 3,9 pontos percentuais de aumento atribuídos a maior participação de meninos negros e não negros”, apresenta o relatório.
Entretanto, o homem negro, por sua vez, continua apresentando maior exclusão do sistema educacional. A taxa de escolarização líquida no ensino médio foi de 66% em 2023, contra 78% da mulher não negra.
“Homens negros (32,8%) que ganham até 1 salário-mínimo (48,3%) é o público mais vulnerável deste indicador. Sabemos que este perfil está presente em todo território nacional, mas afeta sobre maneira a população do Nordeste”, destaca.
Além disso, a proporção de mulheres negras de 18 a 24 anos que cursa o ensino superior foi de 19,2%, um crescimento de 12,3% em relação ao ano anterior.
Outros dados apresentados pelo estudo são em relação à saúde. De acordo com o apurado, a taxa de óbito por causa evitavéis de homens negros foi 41% maior se comparado a homens não negro e 43% maior em comparação com as mulheres negras e não negras.
Além disso, a pesquisa destacou que 50% das mortes por causa evitáveis dos homens negos poderiam ter sido evitadas por políticas públicas.
Políticas públicas
Entre as políticas públicas, o Programa Bolsa Família (PBF) é apontado por diversos estudos como eficaz no combate à pobreza.
Entre a cesta de benefícios, cada criança de zero a seis anos recebe um adicional de R$ 150, enquanto gestantes, nutrizes e crianças e adolescentes entre sete e 18 anos incompletos têm direito a R$ 50. Para ter direito ao Bolsa Família, a principal regra é que a renda de cada pessoa da família seja de, no máximo, R$ 218 por mês.
Vale destacar que entre as mais de 20,7 milhões de famílias beneficiadas em agosto pelo Bolsa Família, 17,33 são chefiadas por mulheres (83,5%). Das mais de 54,53 milhões de pessoas, 31,73 milhões são do sexo feminino (58,2%) e 39,74 milhões são de cor preta/parda (73%).
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, coordenado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já apontou em abril a redução da taxa de pobreza no Brasil em 27,5% de 2022 para 2023 . Em números absolutos, mais de 8,5 milhões de indivíduos saíram da pobreza no ano passado. O recuo ocorreu em 26 das 27 Unidades da Federação.
Observatório Brasileiro das Desigualdades
O Observatório é resultado do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades e tem o objetivo de monitorar o comportamento dos indicadores de referência sobre as desigualdades no Brasil. O Estudo é coordenado pela ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades).
As áreas abordadas foram: educação, saúde, renda, segurança alimentar, segurança pública, representação política, clima e meio ambiente, acesso a serviços básicos e desigualdades urbanas.
As desigualdades de raça/cor, gênero e entre regiões brasileiras são eixos transversais de análise. Para a apuração dos dados foram analisados 42 indicadores, dos quais, 44% apontam para uma direção positiva, e os outros 21% apresentam uma variação negativa.