Extrema pobreza cresce entre homens e reduz entre as mulheres, em 2 anos no CE

Aumento também é observado no recorte de corte e raça. Levantamento é do FGV Ibre com dados da Pnad Contínua, do IBGE

20:45 | Ago. 23, 2024

Por: Révinna Nobre
Artigo da FGV-Ibre analisa dados da extrema pobreza no Brasil (foto: Samuel Setubal)

O cenário da extrema pobreza no Ceará apresentou um crescimento entre os homens e uma redução entre as mulheres de 2021 a 2023.

Em 2021, a distribuição de homens na extrema pobreza era de 46,3%, já no ano passado, o número passou para 52%.

Em relação à população feminina, 57,3% se encontravam no cenário. Em 2023, o valor foi reduzido para 48%.

O levantamento é do artigo "Perfil da população em extrema pobreza: diferenças regionais e entre os estados do Nordeste" do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre).

O estudo apresenta dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente aos dados de 2021 e 2023.

Os motivos que explicam a diferença entre os dois grupos requerem mais análises, mas apresentam fatores ligados às políticas públicas, explica Flávio Ataliba, coordenador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV Ibre.

"Mas talvez como grande parte dos benefícios serem direcionados diretamente para mães chefe de famílias a incidência maior de redução seja entre elas".

Por outro lado, quando é analisada a incidência do estudo, ou seja, a proporção, a redução atinge os dois grupos.

Na faixa masculina, em 2021, o número passou de 15,3% para 10% em 2023. Já nas mulheres, o índice foi de 16,2% para 8,7%.

"Pela própria redução da extrema pobreza, por conta especialmente do aumento do Bolsa Família, mas também por melhorias no mercado de trabalho", comenta Ataliba.

No que se refere à distribuição por cor e raça na população em extrema pobreza, os brancos são referentes a 21,3% na situação em 2021 e 18,5% em 2023.

Entretanto, a conjuntura se difere para negros e pardos. Em 2021, o resultado era 78,7% na extrema pobreza. Com aumento de 2,8 pontos percentuais, o valor passou para 81,5% no ano anterior.

Acerca da faixa etária que se encontrava no cenário discutido, a que sofreu maior redução foi o grupo de 30 a 49 anos. Em 2021, o percentual era de 29,3%. Em 2023, o número passou para 24,1%.

Outra análise permitida por meio do estudo é que as crianças e jovens, de zero a 14 anos, são o maior grupo em extrema pobreza. O índice, que em 2021 era 32,3%, passou para 33,1% em 2023.

"Examinando a extrema pobreza por faixa etária, constata-se que ela está significativamente concentrada entre as crianças e jovens de 0 a 14 anos para todos os estados. Em outros termos, pode-se dizer que a incidência da extrema pobreza nessa faixa etária é mais que proporcional à composição da população nessa idade", diz o artigo.

Quanto à redução ocorrida de 2021 a 2023 sobre as populações mais vulneráveis no Ceará que residiam em zonas rurais, o número passou de 34,8% para 15,22% no período analisado.

Por fim, a última análise do artigo considera a variável de nível educacional.

No documento, o estado cearense é destaque, dentre os estados do Nordeste, por apresentar a menor proporção de pessoas com ensino fundamental incompleto, tanto na população total, quanto no grupo de extremamente pobres.

"Por sua vez, a representação dos menos escolarizados no grupo dos extremamente pobres apresentou redução na grande maioria dos estados, com destaque para a redução no Ceará (de 58,3% para 49,2%), enquanto nos estados do Maranhão, Alagoas e Bahia essa redução proporcional não ocorreu".

Mais considerações do artigo

O estudo adotou o conceito de pobreza monetária com a identificação recomendada pelo Banco Mundial de US$2,15/dia per capita.

O documento identificou que mais de 9,6 milhões de brasileiros saíram da condição de extrema pobreza no País, sendo que mais da metade da redução ocorreu na região Nordeste.

Outro apontamento é que a distribuição na população em extrema pobreza mostra uma proporção maior de mulheres.

Em 2023, 52,4% das pessoas em condições econômicas vulneráveis eram mulheres. Na região Nordeste este percentual representava 52,3%.

Relativo a cor e raça, no Brasil, em 2023, 74,8% da população em extrema pobreza se declara preta ou parda. No Nordeste, a proporção é de 81,5%.

Entre 2021 e 2023, a representação do grupo de pretos e pardos aumentou entre os extremamente pobres apenas nas regiões Centro Oeste e Nordeste, ou seja, nas demais regiões a redução da extrema pobreza ocorreu de forma mais que proporcional neste grupo.

Em relação à faixa etária, em 2023, 7,4% de todas as crianças e adolescentes até 14 anos do Brasil estavam em extrema pobreza.

No Nordeste esta proporção era de 14,5%, maior que todas as regiões e quase o dobro da média nacional, aponta o levantamento.

No nível de escolaridade, a extrema pobreza reduziu proporcionalmente entre os menos escolarizados do Nordeste e Centro-Oeste.

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