A transição da ArcelorMittal do carvão para gás e hidrogênio verde no Ceará
Segundo o titular da SDE, a descarbonização do Estado como um todo já está em curso, e isso inclui, por exemplo, a possibilidade de instalação de um terminal de gás no Complexo do Pecém
13:35 | Ago. 12, 2024

A ArcelorMittal, produtora de aço mundial, já sinalizou a intenção de transitar do uso de carvão para o gás natural e, eventualmente, para o hidrogênio verde (H2V), conforme detalhou o secretário de Desenvolvimento Econômico do Ceará, Salmito Filho.
Segundo o titular da pasta, a descarbonização no Estado como um todo já está em curso, e isso inclui, por exemplo, a possibilidade de instalação de um terminal de gás no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).
"Essa é uma das expectativas a curto prazo, que tem grande importância para a redução das emissões de CO2 nas indústrias", explica ele durante o Fiec Summit 2024, evento com foco na cadeia do hidrogênio verde, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), de segunda-feira, 12, a terça-feira, 13, no Centro de Eventos.
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Erick Torres, CEO da ArcelorMittal Pecém, detalha que hoje a empresa, no Ceará, quando observada internamente, possui a capacidade de gerar sua própria energia e ainda fornecer o excedente ao cliente.
"Existe, ainda, a possibilidade de produção de hidrogênio, uma iniciativa que a empresa está explorando, tanto globalmente quanto no Brasil, como uma alternativa para apoiar a descarbonização no setor siderúrgico. A empresa está comprometida e é pioneira nesse caminho, acreditando fortemente na transição energética, com um compromisso de atingir a neutralidade de carbono até 2050", complementa.
Acrescenta ainda que os projetos de descarbonização são complexos e requerem "muita dedicação".
"Já conseguimos alguns avanços, como a melhoria da performance e a redução do uso de combustíveis. De 2022 para 2023, conseguimos reduzir em 4% as emissões apenas com melhorias em nossa performance. Além disso, estamos investindo no aumento do consumo de sucata, pois o aço é 100% reciclável e infinitamente reaproveitável, o que também contribui para a redução de emissões", detalha.
Em relação ao uso da água, Erick frisa que 100% da água está sendo reutilizada pela companhia no Ceará.
"O que temos de dissipação é basicamente devido ao calor. Portanto, a água é um recurso crucial, e nossa gestão se concentra em evitar qualquer tipo de desperdício."
No Complexo, o objetivo é semelhante ao da empresa. Isso porque deverá ter a primeira termelétrica de carvão mineral a ser convertida para o gás natural e, posteriormente, para hidrogênio verde (H2V).
Com capacidade instalada de 720 megawatts (MW) e contrato previsto até 2027, a usina a carvão, Mercurio Partners, foi comprada da EDP pela Mercurio Partners em 2023, em valores não anunciados.
O local fornece suporte ao sistema elétrico do Nordeste por meio de contratos de disponibilidade.
À época, o governador Elmano de Freitas (PT) afirmou que, no encontro, foi tratado sobre a conversão do carvão em gás natural.
"A proposta é impulsionar o desenvolvimento industrial e o mercado de Hidrogênio Verde no Ceará", disse na plataforma X (antigo Twitter).
Assim, a ideia é que a Mercurio apresente um plano de transição até 2027, data de vigência do contrato atual, mas as perspectivas da companhia indicam que isso pode acontecer antes do prazo estipulado, segundo Linhares.
Questionado sobre o valor a ser investido na transição, o secretário informou que ainda não há números específicos, mas não deverá haver nenhum investimento financeiro do Estado.
Ele reforçou que "a iniciativa é privada, e o suporte financeiro não está em discussão”.
“O Estado pode contribuir em termos de pesquisas de desenvolvimento, inovação tecnológica e ações ambientais, sem participação financeira direta”, complementou.
Hidrogênio Verde no Pecém
O POVO apurou, com uma fonte a par do assunto, que a Mercurio Partners também tem interesse em avaliar a expansão de hidrogênio verde no Complexo do Pecém.
Os planos ainda estão em estudo e sem nada concreto, visto que a transição energética passa, primeiro, pelo gás natural e, depois, pelo H2V.
Imbróglio no fornecimento de gás
As mudanças globais nas condições de mercado, causadas pela pandemia e a guerra na Ucrânia, desestabilizaram o mercado de gás natural, o que levou a Shell a cancelar o seu fornecimento no Ceará.
O navio regaseificador da Petrobras também deixou o Pecém. Isso fez com que termelétricas cancelassem investimentos no local.
Este imbróglio gerou dúvidas quanto ao fornecimento de gás para as outras termelétricas, já que, hoje, a Cegás, distribuidora de gás natural no Estado, depende do volume recebido via tubulações terrestres da Transportadora Associada de Gás (TAG), que não chega a 1 milhão de metros cúbicos (m³), conforme apuração do O POVO.
A empresa destacou, todavia, que o abastecimento está garantido.
O governo vê como uma questão de mercado e de atrair empresas para a região. Afinal, já há infraestrutura no Pecém.
Quanto ao futuro, a expectativa é que, através de leilões, o Estado possa atrair empresas interessadas em investir em termelétricas, aproveitando as condições favoráveis que o Ceará oferece.
Nova operação de regaseificação no Porto do Pecém
Conforme O POVO apurou, o Grupo Edson Queiroz (GEQ) é um dos postulantes à operação da área de regaseificação (regás) do Porto do Pecém, conforme confirmou com exclusividade o presidente executivo do GEQ, Carlos Rotella.
O grupo empresarial é dono da Nacional Gás e tem forte presença no mercado de distribuição de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) em botijões de 13 kg, além do fornecimento para empresas, sendo a maior do ramo no Norte e Nordeste.
Segundo o executivo, o grupo enxerga positivamente a participação no processo seletivo a ser conduzido pelo Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) para a escolha do operador desse espaço de operação para fornecimento de gás natural, que diz respeito à movimentação de Gás Natural Liquefeito (GNL).
"Vamos, sim, participar. Entendo que é uma boa oportunidade para o grupo (de desenvolvimento no mercado de gás), mas não posso detalhar", afirmou.
Conforme O POVO apurou, existe a expectativa de que a decisão do Complexo do Pecém sobre o operador deste espaço de regás ocorra ainda neste ano.
O anúncio de que a direção do Cipp realizaria um processo seletivo para a operação de regás ocorreu no último dia 9 de julho, pelo presidente do Complexo do Pecém, Hugo Figueirêdo.
Naquela oportunidade Hugo detalhou que a Petrobras e mais três empresas já haviam demonstrado interesse em operar o espaço.
Devido à alta demanda, a escolha seria feita por meio de um processo seletivo neste segundo semestre.
A escolha de um processo seletivo é um movimento similar ao feito para decidir a nova operadora do Píer 2, separado para operação de amônia verde e que culminou na escolha do consórcio europeu Stolthaven.
O consórcio tem previsão de início de obras para 2028.
*Com informações de Ana Luiza Serrão e Samuel Pimentel