Vestas anuncia R$ 130 milhões na produção de energia eólica no Ceará

Medidas incluem lançamento de nova turbina, redução de juros para fornecedores ESG e concessão de créditos para quem instalar novos parques fabris no Estado

13:00 | Ago. 09, 2024

Por: Adriano Queiroz
Empresas parceiras da Vestas terão incentivo para instalação de novos parques eólicos (foto: JÚLIO CAESAR)

A Vestas, gigante dinamarquesa de produção de peças para indústria eólica, anuncia nesta sexta-feira, 9, em sua unidade fabril de Aquiraz, um pacote de medidas para incentivar o fortalecimento desse segmento no Ceará e no Brasil, que incluem investimentos da ordem dos R$ 130 milhões.

A ideia é que os recursos investidos e as iniciativas anunciadas ajudem a criar uma cadeia local de suprimentos para o setor com pouco mais de 100 empresas.

Estão entre as novidades:

  • A fabricação de turbinas eólicas V163-4,5 MW no parque fabril localizado no município de Aquiraz
  • O estabelecimento de parceria com o Banco Santander, relativa a operações realizadas por fornecedores da Vestas que adotem políticas socioambientais e de governança (a chamada agenda ESG)
  • Parceria com o Governo do Estado para concessão de créditos a empresas que instalarem parques eólicos no Ceará

Segundo o CEO das Vestas, Eduardo Ricotta, um dos principais objetivos é reduzir o custo de energia e tornar o segmento mais competitivo.

Sobre a parceria com o Santander, Ricotta disse que o montante envolvido nas operações será inicialmente de R$ 1 bilhão, podendo chegar até R$ 2,5 bilhões.

“Eles vão dar estímulos para os nossos fornecedores em recebíveis. Quanto mais ESG forem as empresas, mais barato é a redução do desconto. Hoje, se você pega o custo de capital, ele está em torno de 1,8% ao mês, mas com essa iniciativa, você consegue 0,65% ao mês”, exemplificou.

Na evento, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destacou que quando uma empresa do porte da Vestas anuncia que vai investir R$ 130 milhões no Brasil, é a certeza de que houve fortalecimento da indústria de energia eólica.

“Este investimento significa garantia de empregos, geração de riqueza para a região e crescimento do estado do Ceará”, acrescentou o ministro, que também visitou a empresa Aeris Energy no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, na manhã desta sexta-feira, 9.

A Aeris é responsável pela fabricação das pás eólicas usadas pela Vestas.

“80% do custo do aerogerador utilizado pela Vestas é de conteúdo local, inclusive, as naceles, principal parte do gerador, serão produzidas lá em Pecém. É o fortalecimento da nossa cadeia produtiva nacional, emprego e renda para o povo cearense”, segundo Silveira.

O evento no Aquiraz contou, ainda, com a presença do governador do Estado, Elmano de Freitas (PT), além de outras autoridades e executivos da Vestas.

Havia a expectativa da presença do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que cumpriu agenda mais cedo em Fortaleza ao anunciar o estabelecimento de um polo automotivo no Ceará, o que acabou não ocorrendo.

Elmano disse que a transição enérgica que faz a economia do mundo mudar passa por um momento importante, lembrando que as mudanças climáticas são um problema real, usando como exemplo a tragédia climática no Rio Grande do Sul.

“Para que isso não avance precisamos ter uma mudança da matriz energética e o trabalho da Vestas é importante neste processo”, afirma.

O governador citou, ademais, que o Estado está comprometido em criar políticas para apoiar o setor renovável, incluindo crédito tributário e acordos para fornecer condições adequadas aos negócios. A ideia é dar continuidade ao trabalho já iniciado nesta área.

De acordo com o ministro Silveira, o Brasil se destaca globalmente na energia eólica, especialmente no Nordeste, onde o vento é forte e o sol intenso. Assim, as políticas públicas visam a criação de um extenso parque de distribuição e transmissão de energia no País.

A ideia é manter o custo da energia o mais baixo possível a nível nacional, promovendo um círculo virtuoso na economia com a priorização das energias limpas e renováveis, explica o ministro.

Alexandre Silveira destacou, também, que o Marco Legal do Hidrogênio Verde, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última semana, promete gerar mais demanda e oportunidades no Nordeste.

Além disso, o Brasil voltou a atrair investimentos estrangeiros, como o da Vestas, ao restabelecer diálogos internacionais e realizar boas políticas públicas, na visão do ministro.

Parceria com Governo do Ceará

Com relação à parceria com o Governo do Estado, o CEO das Vestas, Eduardo Ricotta explicou que ela se baseará em créditos de impostos.

“Essa transferência de crédito será utilizada para os nossos clientes que colocarem parques eólicos aqui no Ceará. Então, esse é mais um incentivo que a gente tem para ampliar projetos no Estado. Então, esse pacote vem justamente para a gente conseguir dar a virada que se precisa na indústria eólica”, pontuou.

“A gente tem certeza que o Brasil vai fazer parte dessa transição energética: Por exemplo, quando eu comparo o fator de capacidade para gerar energia eólica no Brasil é de 50%. Você pegar, por exemplo, no Japão esse fator é de 25%. Isso significa que no Japão você precisa de duas turbinas para gerar a mesma energia que você consegue gerar com uma turbina no Brasil”, comparou o executivo.

“O recurso natural em termos de Sol e vento é muito bom aqui. A gente tem certeza que o Brasil vai ser um polo exportador de combustível verde. É só uma questão de tempo e de volume. Então, a gente tem certeza que essa transição vai acontecer“, enfatizou o CEO da Vestas.

Ele citou, por fim, as três principais cadeias industriais que devem demandar energia do Ceará e do Brasil nos próximos anos: a do hidrogênio verde, a de data centers e a automobilística, destacando, contudo, que outras indústrias também passarão por processos de descarbonização.

Linhas de Transmissão e MP 1.212/24

O ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, informou no evento, também, sobre ações do Governo Federal voltadas aos leilões de linhas de transmissão e a medida provisória Nº 1.212, de 2024, no intuito de antecipar a demanda crescente da indústria verde.

“O MME fez os leilões que garantiram R$ 60 bilhões em linhas de transmissão. Viabilizamos os projetos de geração limpa e renovável tanto no Nordeste brasileiro quanto no Jequitinhonha e no Norte da minha querida Minas Gerais”, disse.

“E, para tirar esses projetos do papel, lançamos a medida provisória 1.212, que criou condições favoráveis para ampliarmos a oferta de energia renovável no nosso país”, complementou o ministro.

O MME informou, ainda, que a MP destravou 600 projetos e quase 26 gigawatts de geração de energia limpa e renovável, o equivalente a R$ 100 bilhões em investimentos e 300 mil novos empregos no Nordeste, em média.

Sobre o desenvolvimento da energia eólica offshore, isto é, no mar, Ricotta disse que vai demorar um pouco para isso ocorrer, visto que há necessidade de um arcabouço regulatório, que deve ficar pronto entre 2024 e 2025.

Depois, vai levar de 5 a 10 anos para desenvolver mais este setor no País.

*Em colaboração com Ana Luiza Serrão e Samuel Pimentel.

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