Ceará tem mais de 46% da população fora da força de trabalho, aponta Pnad

Das pessoas ocupadas, mais de 42% tem como o nível de instrução o médio completo e superior incompleto. Quem tem superior completo é responsável por apenas 17,6% do total

11:10 | Jun. 21, 2024

Por: Fabiana Melo
NO Ceará, a maior parte da população ocupada possui ensino superior incompleto, conforme dados da Pnad (foto: FERNANDA BARROS)

O Ceará tem mais de 46% da população fora da força de trabalho. Ao todo, cerca de 7,5 milhões de pessoas, acima de 14 anos, estão aptos para atuar no mercado. Porém, pouco mais de 4 milhões estão inseridos enquanto aproximadamente 3,5 milhões não trabalham. No Brasil, a taxa é de 37,6%. 

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) - Características Adicionais do Mercado de Trabalho 2023, divulgados nesta sexta, 21, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vale ressaltar que é considerado o mercado formal e informal. 

Para o economista Alex Araújo, o elevado percentual se deve a uma combinação de fatores estruturais, econômicos e sociais.

"A predominância de MPEs (Micro e Pequenas Empresas), alta taxa de trabalho por conta própria, baixa escolaridade da força de trabalho, falta de diversificação econômica e infraestrutura deficiente são todos elementos que contribuem para esse cenário."

Em Fortaleza, o percentual é um pouco mais reduzido: dos 3,3 milhões de indivíduos, em torno de 2 milhões estão na força de trabalho (59,3%) e 1,35 milhão está fora (40,7%).  

Além disso, no Estado, mais de 3,67 milhões estavam ocupadas no ano de 2023. O número representa uma leve queda em relação ao ano anterior, de 10 mil pessoas. Por outro lado, houve um crescimento de 5% quando comparado a 2013, há 10 anos. 

Conforme o economista explica, este aumento é um sinal positivo dentro do contexto regional, mostrando que o Ceará está superando a média do Nordeste, visto que no período, obteve o terceiro melhor resultado regional.

"No entanto, o crescimento inferior à média nacional (10,2%) e ao desempenho de regiões como o Centro-Oeste (19,3%) destaca a necessidade de políticas mais eficazes para acelerar o desenvolvimento econômico do estado."

O levantamento também traz informações sobre as pessoas ocupadas no Ceará levando em consideração o nível de instrução. O recorte de médio completo e superior incompleto representa a maior parcela, com mais de 1,5 milhão, ou seja, 42,8% do total. 

Em seguida, aparece os que não possuem instrução e fundamental incompleto (25,1%). Quem tem superior completo é responsável por apenas 17,6% dos ocupados. Por fim, o fundamental completo e médio incompleto tem uma parcela de 14,5%. 

De acordo com Alex Araújo, a predominância de trabalhadores com qualificação média sugere que muitos empregos disponíveis no Ceará estão em setores que requerem formação técnica ou ensino médio completo, como comércio, serviços, e indústrias de baixa a média tecnologia.

Já os setores que demandam maior qualificação, como tecnologia da informação, engenharia e setores de alta tecnologia, estão sub-representados.

"Além disso, os principais empregadores são micro e pequenas empresas, com menor capacidade financeira de pagar elevados salários, e há muita informalidade. Assim, pode-se inferir que a remuneração é uma boa representação da complexidade econômica do estado e que a transformação do perfil educacional e ocupacional do Ceará requer um esforço conjunto entre governo, setor privado e sociedade civil."

Nesse sentido, ele reforça que investir em educação, capacitação profissional, infraestrutura e inovação são passos cruciais para aumentar a proporção de trabalhadores com ensino superior completo e desenvolver uma economia mais diversificada e sustentável.

No recorte por setor de atuação, o comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas empregam 778 mil. Isso significa o maior percentual entre os demais, de 21,2%. Confira a distribuição dos restantes:

  • Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (694 mil)
  • Indústria geral (436 mil)
  • Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (345 mil)
  • Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (323 mil)
  • Construção (265 mil)
  • Alojamento e alimentação (248 mil) 
  • Serviços domésticos (231 mil)
  • Outros serviços (204 mil)
  • Transporte, armazenagem e correio (152 mil)

Número de sindicalizados está em queda

Outro dado importante foi sobre o número de trabalhadores sindicalizados. No Nordeste, por exemplo, a queda foi de 42% em 10 anos. Isso porque, em 2023, pouco mais de 2,1 milhões estão associados enquanto em 2013 o número era de 3,6 milhões.

No Brasil, o movimento é parecido, com diminuição de 42,4%. O número, há dez anos, era de 14,6 milhões e, atualmente, é de 8,4 milhões. 

Tanto no País quanto na Região, o setor que tem o maior percentual de sindicalizados é o de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, com 30,6% e 35,1%, respectivamente. 

Em 2023, das 100,7 milhões de pessoas ocupadas no Brasil, apenas 8,4% eram associadas a algum sindicato, apontando para a redução de trabalhadores sindicalizados em relação a 2022 (9,2% dos ocupados), fenômeno que está ocorrendo desde 2012.

As regiões Nordeste (9,5%) e Sul (9,4%) permaneceram com os valores mais altos, enquanto Norte (6,9%) e Centro-Oeste (7,3%), tiveram os menores índices.

William Kratochwill, analista da Pnad Contínua, explica que os índices de pessoas associadas a sindicato caíram, assim como o nível de ocupação até 2017, período de crise econômica. "A partir daí, o nível da ocupação voltou a se recuperar, mas a queda no percentual de sindicalizados se intensificou."

Para os pesquisadores, um dos fatores que podem ter acelerado essa queda ao longo dos anos foi a implementação da reforma trabalhista (Lei 13.467/2017), que tornou facultativa a contribuição sindical. Outro ponto seria a própria forma de inserção no mercado de trabalho.

A coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy, analisa que, nos últimos anos, há cada vez mais trabalhadores inseridos na ocupação de forma independente, intensificados pela reforma trabalhista de 2017.

"Além disso, atividades que tradicionalmente registram maior cobertura sindical, como a indústria, vêm retraindo sua participação total no conjunto de trabalhadores e, portanto, no contingente de sindicalizados."

Cenário nacional

Em 2023, a população brasileira ocupada alcançou 100,7 milhões de pessoas. Esse contingente representa acréscimo de 1,1% em relação a 2022 (99,6 milhões de pessoas) e de 12,3% frente à população de 2012 (89,7 milhões).

Em relação a 2022, o total da população em idade de trabalhar expandiu 0,9%, e foi estimada em 174,8 milhões de pessoas em 2023, ano em que o nível da ocupação ficou estimado em 57,6%.

O percentual de empregados com carteira assinada no setor privado teve expansão de 2012 (39,2%) a 2014 (40,2%); no entanto, a partir de 2015, essa categoria passou a registrar queda. Em 2023, voltou a crescer, alcançando 37,4% da população ocupada - ante a 36,3%, em 2022. O número desses trabalhadores em 2023 (37,7 milhões) foi o maior da série.

Os empregados sem carteira assinada no setor privado atingiram o percentual de 13,3% em 2023, queda de 0,3 ponto percentual em um ano. Contudo, apesar da queda, a estimativa continua sendo uma das maiores da série histórica.

Sem grandes variações ao longo da série, os empregados no setor público (inclusive servidor estatutário e militar) mantiveram sua participação em torno de 12% em 2023, equivalente a 12,2 milhões de trabalhadores.

Os trabalhadores domésticos seguiram em estabilidade, apresentando o mesmo percentual de 2022, isto é, 6% dos ocupados. Já entre os empregadores houve a interrupção do movimento expansivo, observado até 2018 (4,8%), passando para 4,6% em 2019, 4,4% em 2022 e 4,3% em 2023.

Além disso, a proporção de pessoas que trabalham em casa mais que dobrou em 10 anos. Em 2013, a porcentagem era de 3,6% enquanto, no ano passado, foi de de 8,3%. 

Com Agência Brasil

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