Permanência é um dos maiores desafios para a população LGBT+ no mercado de trabalho

O cenário alarmante é retratado nos dados divulgados pelo Observatório sobre Empregabilidade LGBT, pois revela que 35% dos respondentes já sofreram discriminação devido à orientação sexual no mercado de trabalho

Com dificuldades para entrar no mercado de trabalho, a população LGBTQIAPN+ enxerga que a permanência é um dos maiores desafios. O assunto foi tratado durante o seminário de empregabilidade e empreendedorismo, promovido pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). 

De acordo com Silvinha Cavalleire, presidenta Nacional da União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (UNALGBT), quem consegue algum emprego, enfrenta, na maioria dos casos, homofobia e transfobia de forma sutil ou velada. 

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Contudo, reforça que a questão da empregabilidade e do empreendedorismo é uma das maneiras de ter autonomia para defender as suas identidades e orientações sexuais.

"Sem trabalho e renda, não temos voz. Precisamos desse poder aquisitivo que apenas um emprego ou trabalho podem garantir, além de políticas de cuidado por parte das empresas para que possamos permanecer nelas."

Além disso, ela explica que a política de cotas são estratégias para abrir possibilidades, mas não devem ser a única forma de garantir acesso à empregabilidade, especialmente para pessoas travestis e transexuais. 

"É fundamental para demonstrar que a convivência entre pessoas cis e trans é possível e deve ser expandida. No entanto, precisa ser amplamente trabalhada para garantir os direitos dessas pessoas. Caso contrário, serão estratégias falhas que não atingirão o sucesso esperado de abrir caminhos para a contratação natural baseada em capacidades e competências, independentemente da identidade de gênero."

Outro ponto levantado por Silvinha Cavalleire é a educação. "Sem uma educação de qualidade, não vamos conseguir disputar as melhores vagas no mercado de trabalho. Sempre vão nos empurrar para os empregos mais subalternos, aqueles que exigem maior esforço físico ou são menos visíveis."

O cenário alarmante é retratado nos dados divulgados pelo Observatório sobre Empregabilidade LGBT, pois revela que 35% dos respondentes já sofreram discriminação devido à orientação sexual no mercado de trabalho, e apenas 8% das posições de liderança nas empresas são ocupadas por pessoas LGBT+.

Ademais, 45% dos funcionários LGBTQIA+ relataram ter sofrido algum tipo de discriminação devido à orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho, enquanto 33% das empresas afirmaram que não contratariam pessoas LGBT+ para cargos de chefia.

"A dignidade das pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho exige mais do que o acolhimento pelas empresas. É necessário implementar políticas de cuidado, como o uso correto dos pronomes, a aceitação dos trejeitos e a inclusão plena dessas pessoas no ambiente de trabalho", finaliza Silvinha Cavalleire.

Nesse sentido, o Procurador-Geral de Justiça do Estado do Ceará, Haley de Carvalho Filho, afirmou que o MPCE vai criar um núcleo para abordar essa questão da inclusão dentro da instituição, analisando as práticas internas.

"Quantas pessoas da comunidade LGBTQIA+ estamos empregando? O que estamos exigindo em nossos serviços terceirizados em termos de empregabilidade dessa comunidade? Este questionamento nos fez ver a importância de termos políticas de inclusão nos contratos de terceirização, para incluir pessoas que estão fora ou têm dificuldade de ingressar no mercado de trabalho."

Já Leydomar Nunes Pereira, promotor de Justiça e coordenador auxiliar do Caocidadania, disse que a ideia de realizar o seminário é de unir movimentos sociais, entidades governamentais e instituições públicas à defesa dos direitos da população LGBTQIAPN+. 

"É importante essa parceria para fortalecer a rede de apoio e defesa dos direitos de uma população cujos direitos ainda não são plenamente respeitados e que sofrem na pele com homicídios e outros crimes, como lesões corporais, difamação e toda forma de preconceito."

Por isso, o seminário busca sensibilizar e abrir oportunidades para que essas pessoas possam ter acesso a postos de trabalho dignos. "Ainda enfrentamos desafios, pois muitas empresas no Brasil e aqui no Ceará não se abrem para aspectos da empregabilidade, especialmente para travestis e pessoas trans."

"As pequenas vitórias se tornam grandes conquistas quando se é marginalizado"

Léo Flávio, homem trans de 22 anos, trabalha hoje com arte. Todavia, sua trajetória começou muito antes: desde o ensino médio, enfrenta dificuldades para entrar no mercado formal.

Diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), tentou seguir uma carreira acadêmica depois de terminar o colégio, com uma bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni), porém, a instituição não estava preparada para o atender adequadamente.

"As provas não eram adaptadas e os professores não estavam preparados. Após dois anos de luta, precisei abandonar a faculdade. Eu amava a parte de educação física voltada para a saúde e a educação, mas infelizmente não consegui continuar."

Ele explica que adora dar oficinas de artes, mas não tem a estrutura adequada para isso. Agora, está tentando se firmar no mercado da arte. Por isso, fica feliz que algumas pessoas apreciem seu trabalho. 

"Cada venda, cada elogio, me faz sentir uma grande alegria por dentro, mesmo que por fora eu tente manter uma postura de adulto. As pequenas vitórias se tornam grandes conquistas quando se é marginalizado."

Léo Flávio reforça que não que apenas que a sua arte seja aceita, mas também seu corpo. "Quero que meu corpo, minha presença no mundo, sejam aceitos."

Já Fernanda Palhano é uma mulher lésbica e, atualmente, trabalha como consultora de diversidade. Porém, foi demitida do seu antigo emprego por causa da sua orientação sexual.

"Deixei de assumir um cargo de liderança quando descobriram que sou lésbica. Vivi na pele essa discriminação e, hoje, trabalho para criar um ambiente psicologicamente saudável nas empresas. Embora a empregabilidade seja promovida e as pessoas consigam entrar no mercado, muitas não se sentem bem devido ao preconceito velado."

Por outro lado, há Paula Costa, de 66 anos, que está desempregada. Ela é militante há mais de 22 anos e faz parte de diversos conselhos, porém, continua sem estar inserida no mercado de trabalho.

Ela tem formação em Serviço Social e, atualmente, cursa enfermagem. No entanto, afirmou que aceita qualquer tipo de emprego. Seu sentimento, portanto, é de frustação. 

"A travesti é sempre descriminada. A população só enxerga a travesti como ser da noite, a parte da prostituição. Ela não vê o ser humano, que tem capacidade de ser uma telefonista, uma recepcionista."

Governo do Ceará estuda implementar o "CrediLGBT"

A secretária da diversidade do Ceará, Mitchelle Benevides, está estudando a implementação do "CrediLGBT", uma modalidade de crédito que seria específica para a população LGBTQIAPN+, até o final deste ano.

Segundo a secretária, será semelhante ao crédito já oferecido para mulheres e jovens. Porém, a tarefa atual é de levantar informações sobre os empreendedores dessa população no Estado.

"O presidente do Sebrae mencionou ontem que 95% dos micro e pequenos empreendedores no Brasil não têm acesso a crédito. Imagine então a situação dos empreendedores LGBT. Precisamos organizar nossa casa para que possamos oferecer esse crédito de maneira eficaz."

Por isso, Mitchelle Benevides explica que é preciso uma base de dados bem estruturada para apresentar ao governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), e justificar a necessidade desse crédito específico.

"Além disso, realizaremos eventos, estudos, visitas, entrevistas com agentes públicos e empresas para desenvolver propostas e documentos orientadores. Quem souber de algum empreendedor LGBT, por favor, peça para se cadastrar, pois precisamos ter uma lista organizada."

Por fim, ressaltou que a inclusão da diversidade nas empresas é fundamental. "Estamos ajudando as empresas a cumprir suas obrigações sociais e a incluir a população LGBT+ em suas políticas de diversidade."

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