Leite: por que o preço caiu, mas queijo e manteiga não?

A medida que os preços da manteiga e do queijo subiram, o preço médio do litro de leite despencou. Por que isso aconteceu? Descubra a seguir

A medida que os preços da manteiga e do queijo sobem, o preço médio do litro de leite despenca. Por que esse fenômeno acontece? Importação barateou o leite, mas preços do queijo e da manteiga não caíram.

Um levantamento da empresa de pesquisa de mercado Kantar Worldpanel, ilustrado pela BBC News, mostra que o preço médio por quilo dos queijos em geral subiu 9,7%, e o da manteiga, 12,3% entre janeiro do ano passado e igual mês deste ano.

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A mussarela, tipo de queijo mais consumido no país, ficou 3,7% mais cara no período. Entenda a seguir a contradição que envolve o queda no valor do leite e o aumento do preço dos seus derivados.

Leite: por que o preço caiu?

Em 2022, fatores que levaram à alta do preço do leite na época estão relacionadas à estiagem no Sul do País, como consequência do fenômeno La Niña.

Além disso, a alta de custos, principalmente dos grãos (para alimentação dos animais) e dos combustíveis, por conta da guerra na Ucrânia e pelo aumento das exportações contribuiu para a elevação.

Como a pecuária leiteira é uma atividade de longos ciclos, os investimentos do período começaram a se refletir em um aumento na produção em meados de 2023.

O crescimento da oferta interna aconteceu no mesmo período do aumento da importação. Isso ocorreu devido a um ganho de competitividade do leite em pó oferecido por países vizinhos em relação ao produto brasileiro.

O preço do leite caiu em um momento em que os brasileiros ainda se recuperavam do baque econômico da pandemia e controlavam o consumo. A combinação de fatores prejudicou o setor leiteiro.

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Por que o preço dos derivados do leite não caiu?

Fábio Scarcelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Queijo (Abiq) e membro do conselho da Viva Lácteos, falou à BBC News que a culpa pelo alto preço dos derivados está no varejo e não na indústria.

Ele acredita que os supermercados não consideram o queijo um produto “de alto giro”, itens consumidos quase que diariamente e que costumam ser escolhidos muitas vezes pelo melhor preço.

Por isso, eles mantêm a diferença entre custos e preços mais elevadas no queijo do que em outros produtos. Em um produto vendido a R$ 100, o produtor rural fica com R$ 25, a indústria com R$ 25 e o varejo com R$ 50, por exemplo.

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Produtos caros mesmo com a matéria-prima barata

Mesmo que produtos lácteos sejam parte de uma mesma cadeia produtiva, eles são trabalhados pelas empresas de formas distintas, visando públicos diferentes, explica Natália Grigol, do Cepea, para a BBC News.

Há produtos nos quais a marca é menos importante e o consumidor compra apenas pelo preço. Há também uma diferença de custos para o varejo entre produtos refrigerados e não refrigerados.

No caso do queijo, existe ainda o custo da mão de obra empregada para dividir o alimento nas porções vendidas nas lojas. Essas diferenças explicam porque os derivados do leite não são tão baratos quanto ele.

“A transmissão da oscilação do custo de matéria-prima para o consumidor é muito diferente, porque o processamento, a logística, o armazenamento mudam muito”, afirmou a analista.

Aumento de escala das fazendas de leite

Fábio Scarcelli contou a BBC News que uma medida importante para atenuar a situação seria um aumento da escala das fazendas de leite. Isso reduziria os custos de captação da matéria-prima para a indústria e poderia resultar em produtos nacionais menos caros para o consumidor.

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“Precisamos ter mais produtividade, fazendas com produções maiores. É muito difícil administrar produtores de 100, 150 litros [por dia]. Com todo respeito à agricultura familiar, mas, para a indústria, é um custo muito alto”, diz o executivo.

Como ficam os pequenos produtores?

Paulo Aranã, produtor da terceira geração de sua família que trabalha com leite, disse que a crescente concentração do mercado em grandes fazendas produtoras pode deixar leite e laticínios mais caros.

Segundo o produtor rural, para a indústria e as grandes empresas de laticínios, a saída dos pequenos produtores do mercado é vista como algo positivo. Com isso, as empresas passam a negociar com menos gente, fazem compras em volumes maiores e economizam no transporte e logística.

“A indústria de laticínios já é muito concentrada, agora está acontecendo a concentração dos produtores. No fim das contas, vai ficando pouquíssima gente produzindo tudo”, alerta.

“Todo mundo fica dependente deles e, quando não houver mais alternativa, eles podem cobrar o quanto quiserem”, completa.

 Com informações da BBC News

 

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