Empréstimos abusivos a aposentados: Procon Fortaleza multa financeiras em R$ 14 mi

Para se ter ideia, idosa que recebia apenas R$ 70 de benefício após descontos das dívidas. Ao todo, foram instaurados 102 processos de investigação em que as partes foram ouvidas

17:36 | Abr. 02, 2024

Por: Samuel Pimentel
Fiscais do Procon Fortaleza realizaram investigações sobre empréstimos consignados conduzidos de maneira abusiva pelas financeiras (foto: Thais Mesquita/Procon Fortaleza)

Financeiras que oferecem empréstimos para aposentados foram multadas pelo Procon Fortaleza em R$ 14,1 milhões. O movimento ocorre após operação realizada que investigou práticas abusivas, como publicidade enganosa e empréstimo sem o conhecimento do consumidor.

De acordo com o Procon, nos últimos quatro anos a quantidade de reclamações sobre a modalidade de crédito consignado saltou 1.265%. Em 2020, foram 32 registros, já em 2023 houve 437 reclamações. (Confira os dados no fim da matéria).

Entre as empresas impactadas pelas multas do Procon Fortaleza estão o Banco do Brasil, Bradesco Financiamentos, Crefisa, Exponencial Promotora, GFT Credmais, Help Loja de Crédito e Santander receberam penalidades de multa que variam de R$ 11 mil a R$ 262 mil.

O Procon instaurou 102 processos de investigação, que ouviu todas as partes, bem como as defesas das respectivas empresas.

Conforme o Procon Fortaleza apurou nas investigações, o público-alvo da empresa eram idosos, aposentados e beneficiários de programas assistenciais em situação de vulnerabilidade social. Estes consumidores relataram casos de comprometimento da renda em valores superiores a 90%.

Em um dos casos investigados pelo Procon Fortaleza foi o de uma consumidora idosa que recebia um Benefício de Prestação Continuada (BPC), que à época da denúncia era R$ 1.212.

Ela chegou a contrair três débitos ativos junto à Crefisa e outras financeiras, que somaram R$ 51.796,68, sendo este o valor principal, sem juros e multas. Após não conseguir pagar sucessivos empréstimos para cobrir as dívidas em aberto, a idosa disse que recebia apenas R$ 70 de seu benefício.

Investigações também apontaram cobranças abusivas no valor final dos empréstimos

Também foram constatadas cobranças abusivas no valor final dos empréstimos. Alguns até triplicaram o valor inicial contraído.

Em outro caso, o valor originário de um empréstimo de R$ 2 mil, passou para R$ 6.630,60, após o plano de pagamento de 12 parcelas de R$ 552,25.

Já em uma outra situação, um valor de R$ 3.793,36, pagando 15 parcelas de R$ 940, totalizava o valor final de pagamento em R$ 14.100. Outra prática abusiva era a cobrança de R$ 130 para a confecção de cadastro.

Segundo o Procon, somente a Crefisa somou 96 processos com um total de R$ 14 milhões em multas.

Contra a financeira, que possui uma taxa de não resolutividade de 80,89%, pesaram denúncias de refinanciamento automático em casos de consumidores que possuíam parcelas em atraso, além de induzir consumidores a contratar novos empréstimos, sem clareza de juros e taxas.

A Crefisa é a empresa que menos resolve os problemas de consumidores no Procon Fortaleza.

Consumidor que suspeitar cobranças abusivas pode pedir revisão às instituições

O presidente do Procon Fortaleza, Wellington Sabóia, destaca que as investigações conduzidas comprovaram que as financeiras não respeitavam o limite máximo de endividamento dos consumidores.

No período da investigação, esse limite de endividamento não poderia passar de 30% da renda. "Encontramos consumidores idosos em situação de penúria, relatando casos em que de um salário mínimo, só ficavam com algo em torno de cem reais para sobreviver. Isto é inadmissível", afirma.

Ainda conforme Wellington, caso o consumidor desconfie dos juros cobrados e desconfie que esteja sendo vítima de juros abusivos ou clareza de informações, ele tem o direito de pedir a revisão da dívida.

"Na maioria, são consumidores idosos aposentados que buscam o Procon pedindo ajuda, tendo comprometido toda sua renda com o consignado, muitas vezes para atender necessidades financeiras de familiares, por exemplo, passando, inclusive, por situação de fome e doenças mentais após contraírem empréstimos de crédito consignado", complementa.

Confira o crescimento das reclamações sobre crédito consignado no Procon Fortaleza

  • 2020: 32 reclamações
  • 2021: 252 reclamações
  • 2022: 500 reclamações
  • 2023: 437 reclamações
    Fonte: Procon Fortaleza

Como registrar reclamação

O consumidor pode agendar seu atendimento presencial no portal da Prefeitura de Fortaleza (www.fortaleza.ce.gov.br), no campo defesa do consumidor, clicando em "agendamento para atendimento presencial".

Também é possível realizar abertura de reclamação, de forma virtual, no mesmo endereço eletrônico (www.fortaleza.ce.gov.br), no campo defesa do consumidor, clicando em "reclamação virtual".

Dicas e direitos na contratação do crédito consignado

  1. Verifique, junto a órgãos de defesa do consumidor, reclamações contra a empresa que está ofertando crédito;
  2. Evite fornecer dados da conta corrente e do cadastro do INSS para desconhecidos, e suspeite de ligações telefônicas em nome da Previdência Social;
  3. Não comprometa mais de 30% de sua renda com o pagamento do empréstimo;
  4. Tente não refinanciar a dívida, pois isto pode acarretar uma "bola de neve", incidindo juros sobre juros, algo que pode tornar-se impossível de liquidar;
  5. Solicite o Custo Efetivo Total (CET) da operação de crédito;
  6. Faça uma pesquisa entre as instituições financeiras para obter melhores taxas de juros;
  7. Cuidado com a "venda casada" . Não aceite que o banco condicione a liberação do crédito consignado à contratação de seguros ou outros serviços. A prática é proibida pelo CDC;
  8. Caso sofra uma cobrança indevida, faça uma reclamação por escrito ao banco e à Previdência Social (pensionistas e aposentados), ao órgão público vinculado (funcionários públicos) ou ao departamento de Recursos Humanos das empresas (funcionários da iniciativa privada);
  9. O consumidor possui o direito de pedir revisão da dívida, caso desconfie ou identifique juros abusivos.

Empréstimo consignado: o que é e como funciona?