A mulher cearense no trabalho: ganham até um salário mínimo e recebem menos que homens

As cearenses possuem uma renda média mensal de R$ 1.895 enquanto os homens chegam a R$ 2.043. É uma diferença de ganhos de 12%

15:51 | Mar. 06, 2024

Por: Beatriz Cavalcante
Mulheres negras são maioria das ocupadas no mercado de trabalho do Brasil (foto: fizkes | Shutterstock)

No Ceará, o perfil das cearenses no mercado de trabalho retrata ainda a desigualdade frente aos homens e o desafio do desemprego, informalidade e renda mais baixa.

Para se ter ideia, no Estado, 65,5% das mulheres ocupadas ganham até um salário mínimo e, destas, 68,9% são negras.

É a terceira unidade da Federação com maior percentual de mulheres nesta situação. Fica atrás apenas da Bahia (66,5%), do Maranhão (66,3%) e empata com Piauí e Sergipe.

A menor proporção desta base de comparação no País foi em Santa Catarina (17,7%).

 

Os dados fazem parte do levantamento "Mulheres: Inserção no mercado de trabalho", divulgado nesta quarta-feira, 6 de março, pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A base de análise são os números do quarto trimestre de 2023 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O cenário apresentado aponta para 1,5 milhão de mulheres ocupadas no Ceará, o segundo maior contigente do Nordeste, perdendo apenas para a Bahia, com 2,6 milhões, e empatando com Pernambuco.

Já 178 mil estão desocupadas, sendo também o terceiro estado da Região neste número, vindo depois de Bahia (492 mil) e Pernambuco (255 mil).

Ao todo 2,3 milhões de cearenses do gênero feminino estão fora da força de trabalho, atrás da Bahia (3,3 milhões) e de Pernambuco (2,4 milhões) no Nordeste.

E a taxa de informalidade feminina no Estado chega 50,1%, acima da média nacional (37,5%). É o segundo índice da Região, com Maranhão (52,6%) à frente.

Para o cenário, a econômica produzida no Ceará reflete os números, analisa Reginaldo Aguiar, supervisor técnico do Dieese. 

"Como a economia nordestina é de baixo efeito dinâmico e muito levada pela informalidade, você encontra esse reflexo muito mais forte no público feminino, marcado pela atividade do cuidar, da atividade doméstica", destaca. 

Outro dado é o percentual de mulheres do Ceará sem contribuição previdenciária, que alcança 49%, também com Maranhão (52,6%) na liderança do Nordeste.

Na análise da renda média mensal, as cearenses ganham R$ 1.895 enquanto os homens R$ 2.043. É uma diferença de ganhos de 12%.

No Brasil, o rendimento médio mensal de homens é de R$ 3.233 enquanto o das mulheres é de R$ 2.562, e o das negras fica ainda abaixo, em R$ 1.957.

Esses valores aumentam quando há formação com ensino superior. Com média de R$ 4.701, as mulheres ainda ganham menos do que os homens, com R$ 7.283, e o valor é menor ainda se forem negras (R$ 3.721).

E em igual cargo de direção ou gerência elas ganham 27% menos, alcançando R$ 6.672 contra R$ 9.183 deles.

Mercado de trabalho da mulher no Brasil

No País, os dados mostram que existem 90,6 milhões de mulheres com 14 anos ou mais, das quais 47,8 milhões fazem parte da força de trabalho e 42,8 milhões estão fora.

Das que estão aptas a trabalhar, 43,4 milhões são ocupadas e, destas, 23 milhões são negras.

Já 4,4 milhões estão em situação de desocupação e, destas, 2,9 milhões são mulheres negras.

Mais um cenário que chama a atenção são as desalentadas. Das 42,8 milhões de mulheres fora do mercado de trabalho, 1,9 milhão gostariam de trabalhar, mas desistiram de procurar vaga, porque acham que não vão encontrar.

Vale frisar que deste montante 1,4 milhão, a maioria, são negras.

Sobre a taxa de informalidade, o Brasil tem 37,5% das mulheres nesta situação, sendo 41,9% negras. Outro dado é que 36,2% das pessoas do gênero feminino não têm contribuição previdenciária.

Além da Pnad, o Dieese também levantou dados que mostram que, em 2022, mulheres dedicavam mais de 925 horas aos afazeres domésticos, cerca de 354 horas (15 dias) a mais do que os homens.

À época, a proporção de mulheres que conseguiam trabalhar era 23 pontos percentuais maior entre as que tinham todos os filhos na creche. Enquanto 41,4% das brasileiras não tinham nenhum filho na creche, 64,8% tinham todos os filhos.

Reginaldo Aguiar pontua que o período da Covid-19 aumentou, ainda mais, a participação da mulher no trabalho doméstico. 

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