Primeiro estudo de hidrogênio verde do Ceará é entregue ao governo; conheça
A expectativa da empresa australiana Fortescue é de produzir 837 toneladas de hidrogênio verde por dia no Ceará; veja detalhes
13:30 | Jul. 21, 2023
A australiana Fortescue é a primeira empresa a apresentar, ao Governo do Ceará, estudos de impactos ambientais para a instalação de uma planta comercial de hidrogênio verde no Estado. A multinacional foi também a primeira a assinar a intenção de investir no combustível a partir de terras cearenses.
No documento, o detalhamento é de que o projeto será implantado em três fases em uma área de 100 hectares e com expectativa de empregar mais de 5 mil pessoas na construção do empreendimento.
O investimento será na ordem de R$ 20 bilhões e produzirá 837 toneladas de hidrogênio verde/dia.
No cronograma geral do licenciamento apresentado, há Audiência Pública marcada para o dia 2 de agosto de 2023.
Já reunião com o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema) está prevista para setembro.
A análise do estudo está em processo e a vistoria da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) será em 31 de julho de 2023.
Este processo de estudos faz parte de iniciativa que começou com assinatura de Memorando de Entendimentos (MoU) entre a empresa e o Governo do Ceará, no dia 7 de julho de 2021.
O momento foi o primeiro passo para o objetivo estadual de desenvolver o hub de hidrogênio verde no Ceará.
Já na apresentação do estudo, Gianpaola Ciniglio, gerente do Meio Ambiente da Fortescue Future Industries, subsidiária da Fortescue Metals Group, frisou que o projeto a ser instalado no Complexo do Pecém, é o primeiro da empresa com os estudos EIA/Rima no mundo.
O que foi apresentado ao Governo do Ceará?
A Fortescue Future Industries, subsidiária da Fortescue Metals Group, apresentou os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (Rima) para licenciar a produção de hidrogênio verde no Ceará.
O EIA é um levantamento técnico de todos os possíveis impactos ambientais que possam ser gerados por empreendimentos ou atividades que apresentem potencial de degradar o meio ambiente, ou que sejam efetivamente degradantes. Além disso, traz medidas para impedir ou mitigar tais impactos.
Já o Rima apresenta as conclusões obtidas através do EIA para o público em geral. Ele deve trazer os impactos possíveis do empreendimento ou atividade, as medidas migadoras que devem ser tomadas e o plano de monitoramento desenvolvido.
Participaram da apresentação:
- Secretária Executiva de Atração de Investimentos, Recursos Externos e Inteligência Comercial, Ludmilla Campos
- Secretário de Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho
- Secretário Executivo de Regionalização e Modernização da Casa Civil, Célio Fernando
- Secretário Executivo de Planejamento e Gestão Interna da Sema, Gustavo Vicentino
- Secretário Executivo da Indústria, Joaquim Rolim
- Diretora de Controle e Proteção Ambiental, Emanuelle Leitão
- Vice-presidente Financeiro do Cipp, Rebeca Oliveira
- Coordenador de Atração de Investimentos da Secretaria das Relações Internacionais, Alberto Antunes
- CEO da Fortescue, Luis Viga
- Gerente Regional de Relações Governamentais da Fortescue, Sebastian Delgui
- Gerente do Meio Ambiente da Fortescue, Gianpaola Ciniglio
- Além de equipe técnica e comunicação da Fortescue
Fortescue: lei para H2V precisa ter definição até o fim do ano
A discussão para que haja uma legislação que dite as regras para a produção de hidrogênio verde (H2V) no Brasil precisa ter início até o fim de 2023 para que a Fortescue confirme o investimento de R$ 20 bilhões estimados para a planta de geração do Pecém.
A empresa australiana foi a primeira a assinar um memorando de entendimento com o governo cearense e é responsável pelo maior projeto já anunciado para o hub de H2V do Ceará.
Com cinco projetos do tipo em desenvolvimento no mundo (Brasil, Noruega, África, Austrália e Estados Unidos), Luis Viga, diretor da Fortescue no Brasil, e Sebastián Delgui, gerente da América Latina de Assuntos Governamentais da empresa, apontam a unidade pensada para o Ceará como "top 3" da companhia.
O desafio da regulamentação
Em entrevista exclusiva ao O POVO, os executivos ressaltaram a necessidade de o Governo Federal replicar o comportamento observado por eles no governo do Estado, fazendo com que a regulamentação para a produção do hidrogênio verde seja estabelecida.
O prazo de até o fim do ano é apontado por eles após observar a movimentação internacional acerca do novo combustível.
A demanda acelerada na Europa após o início da Guerra da Ucrânia e as decisões de países, especialmente os Estados Unidos, motivam essa pressa para que o Brasil mantenha a vantagem competitiva atual.
A estratégia dos Estados Unidos é citada como o melhor exemplo internacional pelo diretor da Fortescue.
O país aplicou US$ 360 bilhões no esforço de tornar o hidrogênio verde como um dos principais insumos do parque industrial norte-americano, substituindo combustíveis poluentes, e saltou na frente na corrida mundial do H2V.
"Estados Unidos já passou todo mundo. É o melhor lugar para fazer hidrogênio verde. O plano deles é ter US$ 1 para cada quilo de hidrogênio. Assim, toda a indústria de base vai utilizar e vai produzir aço verde, cimento verde… Reindustrializa os Estados Unidos. É uma maneira de geopoliticamente se posicionar ante ao mundo e as novas gerações", diz, apontando a necessidade de ter uma vontade política semelhante no Brasil.
De olho no mercado consumidor brasileiro, Viga e Delgui, contam que o mercado brasileiro continua no páreo com destaque no mundo.
Os dois revelaram que já foram procurados por mineradoras, além de, em conversas com indústrias multinacionais instaladas no Pecém, saberem de que os planos de conversão para hidrogênio foram adiantados devido ao posicionamento agressivo do Ceará.
Na tentativa de despertar a vontade política federal, os dois já estiveram reunidos com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e o senador Cid Gomes (PDT), presidente da Comissão Mista de Hidrogênio Verde, após intermediação do governador Elmano de Freitas (PT) com apoio de Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
"A gente tem que ter alguém para estabelecer essas diretrizes. Precisamos de decretos, medidas provisórias, o que seja para mostrar para o mundo, especialmente os investidores, que já tem essa vontade no Brasil. Não adianta a gente dizer que estamos querendo fazer hidrogênio verde. Esse tempo acabou", alertou Viga.
Projeto será confirmado entre 2024 e 2025
Não será a Fortescue a empresa a atender as expectativas do Porto do Pecém e da Zona de Processamento de Exportação do Ceará de ter ao menos um dos três projetos com área reservada no complexo industrial confirmada até o fim do ano.
Luis Viga, diretor da Fortescue no Brasil, afirmou com exclusividade ao O POVO que a empresa só vai definir o investimento entre o fim de 2024 e o início de 2025, o que pode atrasar caso não haja uma sinalização de regulamentação pelo governo federal.
"A gente está em fase de estudo. Passando todas as etapas, R$ 20 bilhões é o que a gente espera investir. Se passar a fase de engenharia e tudo que a gente precisa trabalhar com o governo federal, entre o fim do ano que vem e o início do próximo, é o que a gente tem para investir", reforçou.
Os trabalhos de Hugo Figueirêdo, presidente do Complexo do Pecém, e de Eduardo Neves, presidente da ZPE do Ceará, miram investimentos robustos no Porto e na zona de processamento para que Fortescue, AES ou Casa dos Ventos possam confirmar e iniciar uma nova etapa nos projetos de hidrogênio verde que somam cerca de R$ 16 bilhões.
Hoje, a empresa está entre a primeira e a segunda etapas do projeto, finalizando a análise inicial e iniciando a viabilidade. Com isso, já concluiu a investigação de diferentes opções para identificar recursos, como terra e água; a avaliação da viabilidade comercial e técnica da oportunidade; e iniciou o relacionamento com o público de interesse. (Com Armando de Oliveira Lima)
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