Ceará tem maior volume de crédito em circulação da história em abril

As operações somaram R$ 77,37 bilhões, segundo dados apurados pelo Banco Central. Juros altos e diminuição da renda são motivos da elevação, diz economista

12:30 | Jun. 10, 2023

Por: Armando de Oliveira Lima
Uso de cartão de crédito é contabilizado pelo Banco Central no saldo de operações (foto: FCO FONTENELE)

As operações de crédito feitas pelos cearenses chegaram ao maior volume da história em abril deste ano ao somar R$ 77,37 bilhões. O montante reúne todo recurso em circulação a partir do crédito concedido no Estado. Ou seja, todo esse valor representa concessões em cartão de crédito, financiamentos diversos (casa, veículo, etc), cheque especial e demais modalidades contratadas e não quitadas ainda.

O saldo vem numa escalada desde maio de 2020, de acordo com os dados elaborados pelo Banco Central (BC). Naquele ano, o valor em crédito saiu de R$ 46,14 bilhões para R$ 45,86 bilhões entre o quarto e o quinto mês.

Mas não parou de crescer. Os R$ 50 bilhões em operações em curso foram atingidos ainda em 2020 (novembro), enquanto os R$ 60 bilhões chegaram em outubro de 2021 e os R$ 70 bilhões em agosto de 2022. A série histórica tem início em janeiro de 2004.

Selic alta explica

Para o economista Ricardo Coimbra, a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em dois dígitos pelo BC desde o ano passado torna o crédito mais caro, o que explica o montante atingido pelo saldo das operações em abril deste ano.

Ao mesmo tempo, a desoneração do poder aquisitivo observado nos últimos anos leva os cearenses a ter o crédito como uma das poucas opções para manter o ritmo de compra, mesmo que para bens básicos.

“Se há um comprometimento mais significativo da renda, têm mais dificuldade de as pessoas comprarem. Então, elas vão buscar algum tipo de alternativa para manter a capacidade de consumo e a busca pelo crédito é uma delas”, atesta Coimbra.

Tendência de alta

Coimbra indica ainda que "a tendência é que essa busca pelo crédito continue” e menciona a recuperação da atividade econômica e o Desenrola, o programa de regularização de dívidas do governo federal, como principais motivos da análise.

“O Desenrola deve ajudar não só na melhoria da reestruturação da dívida das pessoas, como potencializar um grande número de pessoas a voltar a consumir, a buscar crédito”, afirma sobre os efeitos do programa.

A expectativa é de que, na fase inicial, o programa promova a renegociação de débitos de brasileiros com renda de até dois salários mínimos (R$ 2,6 mil) e que tenham dívidas de até R$ 5 mil vencidas há mais de 180 dias desde o dia 31 de dezembro de 2022.

O movimento, no entanto, não garante que o saldo das operações de crédito continue batendo recorde, uma vez que ele pode diminuir a partir da quitação das tomadas feitas. Com isso, um menor custo do crédito e menor volume de dívidas em curso pode reduzir o montante.

Inadimplência recorde

Da mesma forma que o saldo das operações de crédito, a inadimplência dessas tomadas também atingiu o maior patamar em dez anos em abril de 2023. O índice chegou a 5,42% e é o maior desde abril de 2013, quando era medido em 5,5%.

"A inadimplência está muito relacionada à dificuldade de recuperação do poder de compra também. Ou seja, a inflação deteriora e também o nível de renda não consegue acompanhar esse crescimento. Pode ser que melhore com a recuperação da atividade econômica. A taxa de desemprego está começando a baixar e isso pode ajudar a melhorar um pouco o nível de renda, mas talvez não na mesma magnitude", indica Coimbra.

Organização financeira

Ele aponta também a expectativa de o Desenrola cumprir a projeção de reduzir em 40% a inadimplência no País, com reflexos diretos no Ceará. Mas o economista alerta para a necessidade de administrar melhor as finanças como forma de o consumidor evitar qualquer risco de figurar na lista de negativados nos bureaus de crédito, como Serasa e SPC.

“Tem que buscar se organizar, fazer um acompanhamento efetivo do que ganha e do que gasta e como gasta. Sempre que possível, fazer um reordenamento das dívidas. E quando na captação do crédito optar por aquilo que é mais baixo e consegue reordenar dentro da capacidade de pagamento”, aconselha.

Mais notícias de Economia