Nordestino de baixa renda usa quase 60% do salário com comida e moradia

Segundo estudo divulgado pelo FGV, os mais impactados pela inflação são os moradores do Nordeste que recebem até um salário mínimo e meio

10:08 | Mai. 09, 2023

Por: Lennon Costa
ALIMENTAÇÃO é o que mais pesa na renda das famílias de baixa renda no NE (foto: FERNANDA BARROS)

As famílias de baixa renda do Nordeste são o grupo mais impactado pela inflação. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Regional (IPC-Regional), 59,26% do salário desta categoria são usados com alimentação e habitação.

Os dados foram divulgados nesta terça-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE).

Segundo o estudo, a inflação varia de forma distinta para quem ganha até um salário mínimo e meio. A alimentação é o segmento que mais compromete o orçamento do grupo (30,65%), número superior ao de pessoas da mesma faixa de renda de outras regiões (23,41%). Já com habitação, esse comprometimento no salário é de 28,61% nos nordestinos de baixa renda.

Já levando em conta a sociedade de alta renda, a alimentação compromete apenas 16,02% do orçamento dos nordestinos e 17,68% em outras regiões. O índice que mais impacta este grupo é o de transportes (25,43%), impulsionado pela alta na gasolina.

Segundo o FGV, entre janeiro de 2020 e março de 2023, a inflação foi influenciada por diversos fatores, como a pandemia de Covid-19, a crise hídrica e aumento do preço do petróleo em 2021 e o conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia em 2022, que afetou novamente o preço do petróleo, bem como de importantes commodities agrícolas, como trigo e milho.

Em 2020, o maior desafio foram os alimentos, cujos preços sofreram com o aumento da demanda. Em 2021, foi a vez da crise hídrica afetar o preço da energia e a alta do petróleo impactar o preço dos combustíveis. Por fim, em 2022, os preços dos alimentos sofreram novo impulso por causa da guerra.

No acumulado de janeiro de 2020 a março de 2023, a inflação no Nordeste foi a que mais cresceu em comparação às outras regiões do Brasil, registrando alta para famílias com renda até 1,5 salário-mínimo mensal de 26,46%, e de 23,04% para quem ganha acima deste valor.

A alimentação foi o índice que mais teve elevação no período para as famílias de baixa renda do Nordeste, subindo 43,24%, impulsionado pela alta de itens como óleo de soja (119,02%), arroz (80,41%), milho de pipoca (76,46%) e outros. Em seguida veio a habitação (25,80%) e saúde e cuidados pessoais (19,24%).

Já para quem recebe mais de um salário mínimo e meio, a alimentação também registrou maior alta, de 36,15%, seguido por educação, leitura e recreação (34,12%) e transportes (24,66%), puxado pelos gastos com veículos (30,79%), peças e acessórios (25,97%) e combustíveis e lubrificantes (25,56%).

Projeção

De acordo com o levantamento, o pico do IPC-Nordeste em 12 meses deve acontecer em dezembro de 2023, sendo de 5,8% para baixa renda e 6,4% para alta renda, mas antes passarão por índices de desaceleração até junho, de 3,80% e 2,95%, respectivamente.

Considerou-se para a projeção a queda do preço das commodities agropecuárias e minerais em dólar, o crescimento da produção de grãos, segundo a Conab 2022/2023, a normalização das condições climáticas, a desaceleração da demanda doméstica ligada ao crédito e a estabilidade do câmbio.

Segundo o economista da FGV, André Braz, essa trégua nos alimentos "pode gerar um conforto para as famílias de baixa renda" no decorrer do ano.

A volta do Pis/Cofins e Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) na gasolina e no etanol, além da pressão de preços administrados em 2023 também deverão ter contribuição significativa no cenário econômico.

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