Crédito mais caro e inflação prejudicaram desempenho do varejo, avalia IBGE
Após uma sequência de quatro meses seguidos de avanços, o varejo encerrou o primeiro semestre com perda de fôlego disseminada, em meio a um cenário de inflação pressionada e crédito mais caro, de acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com o mês imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal, o volume vendido cresceu na média global do varejo em janeiro (2,3%), fevereiro (1,3%), março (1,2%) e abril (0,6%). Após uma revisão nos dados já divulgados, foram registradas quedas em maio (-0,4%) e em junho (-1,4%).
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Enquanto o bom desempenho dos primeiros meses do ano era considerado heterogêneo, sustentado por algumas atividades, a queda no volume vendido em junho ante maio foi generalizada, confirmou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE. "A queda (em junho) vem bastante distribuída", disse Santos.
Sete das oito atividades que integram o comércio varejista registraram perdas nas vendas em junho ante maio: Tecidos, vestuário e calçados (-5,4%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-3,8%), Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-1,7%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,3%), Combustíveis e lubrificantes (-1,1%), Móveis e eletrodomésticos (-0,7%) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,5%). O único segmento com avanço foi o de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 1,3%.
No comércio varejista ampliado, houve redução de 2,3% em junho ante maio. O segmento de Veículos, motos, partes e peças registrou queda de 4,1%, enquanto Material de construção caiu 1,0%.
Segundo o gerente do IBGE, o desempenho das vendas é impactado negativamente pela inflação pressionada e pelo crédito mais restrito e mais caro, em função das taxas de juros mais elevadas.
"A (pressão da) inflação foi mais forte nas empresas do comércio varejista em junho do que em maio", disse Santos. "A inflação estava bastante pronunciada para algumas atividades, como combustíveis e lubrificantes, supermercados", mencionou.
Segundo ele, elementos que puxaram o crescimento das vendas do varejo nos primeiros quatro meses do ano, como o crescimento da população ocupada no mercado de trabalho e a liberação de recursos extras pelo governo (como saques extraordinários do FGTS e antecipação de 13º salário a beneficiários do INSS), não foram suficientes para sustentar um aumento no consumo de bens pelas famílias também em maio e junho.
"A renda extra liberada pelo governo ajudou o crescimento do varejo até abril", contou Santos. "Parte dos recursos foi usada para a redução do endividamento e pagamento de dívidas", completou.
O volume de vendas do varejo chegou a junho em patamar 1,6% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operam 3,0% abaixo do pré-pandemia.
Apenas os segmentos de artigos farmacêuticos, material de construção e supermercados estão operando acima do patamar pré-crise sanitária: artigos farmacêuticos, 24,5% acima do pré-crise sanitária; material de construção, 5,2% acima; e supermercados, 2,3% acima.
Os veículos estão 9,5% aquém do nível de fevereiro de 2020; móveis e eletrodomésticos, 14,8% abaixo; vestuário, 9,9% abaixo; equipamentos de informática e comunicação, 11,0% abaixo; outros artigos de uso pessoal e domésticos, 1,3% abaixo; combustíveis, 0,9% abaixo; e livros e papelaria, 36,4% abaixo.