Consumo de carne bovina no Brasil chega ao menor nível em 26 anos
Para 2022, o consumo estimado do produto é de 24,8 kg por habitante, menor patamar da série histórica iniciada em 1996
13:39 | Ago. 03, 2022
O brasileiro nunca ingeriu tão pouca carne bovina como em 2022. A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que o consumo médio por habitante esteja em torno de 24,8 kg, o menor nível desde o início da série histórica iniciada em 1996. Essa quantidade é 18,25% menor que a verificada em 2019, ano anterior à chegada da pandemia de Covid-19 ao País.
Dentre as razões para esse fenômeno, está a alta dos preços da carne bovina no mercado interno e o crescimento das exportações, que foi de 16,6% nesse período.
A redução no consumo da proteína após a eclosão da crise sanitária representa quase metade da verificada em um período de 10 anos, que foi de 35,2%, quando esse consumo era de 38,3 kg por habitante. No mesmo intervalo de tempo, por outro lado, as exportações subiram 40%.
Inflação corrói poder de compra
Outro levantamento, desta vez do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dá a dimensão do peso dos preços do produto sobre o orçamento das famílias. Desde março de 2020 a abril deste ano, o preço médio das carnes aumentou 42,6%.
Nem mesmo a desaceleração do processo inflacionário registrada nos últimos 12 meses, quando o preço médio das carnes subiu 3,92%, abaixo da inflação geral, que foi de 11,89%, reverteu essa tendência.
Para o supervisor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Ceará, Reginaldo Aguiar, a relação entre inflação e redução no consumo de carne bovina é direta.
“Nós já vínhamos de um problema de elevação no preço dessa proteína desde o fim de 2019, mesmo antes da pandemia, mas como o mesmo não ocorria com outros produtos o impacto para o consumidor era menor. Veio 2020 e, além da pandemia, a China passou a enfrentar um problema com relação à carne suína, por conta de uma doença que contaminou o rebanho daquele país, e passou a exportar mais, inclusive do Brasil. Isso fez disparar não só o preço internacional da carne de porco, mas também a de boi”, explica.
Ele prossegue argumentando que o aumento do preço do produto no mercado internacional associado à desvalorização do real frente ao dólar, que se acentuou durante a crise sanitária, levou a um aumento das exportações, paralelamente.
“Muitos produtores passaram a vender para fora do País porque o preço disparou e isso acabou levando à queda da oferta no mercado interno. Então, o valor da carne bovina passou a subir ainda mais. Em resumo, houve três fatores importantíssimos para esse aumento nas exportações: demanda internacional em alta, preço elevado no mercado doméstico e a nossa moeda em queda”, complementa.
Para o presidente do Sindicato Varejista de Carnes Frescas e Congeladas de Fortaleza (Sindicarnes), Everton da Silva, o período da pandemia também foi marcado por outros dois fenômenos que ajudam a explicar a queda no consumo da proteína bovina: a falta de emprego e a queda na renda do trabalhador.
“Nesse período, o consumo caiu e o preço subiu fora do padrão normal porque nós chegamos a ter taxa de desemprego na casa dos dois dígitos”, lembra.
Ele projeta, contudo, uma recuperação do consumo já a partir desse mês, com a redução das taxas de desemprego, que ficaram em 9,3% em junho, segundo o IBGE. “Agora, quem estava desempregado e não estava consumido carne bovina voltará a consumir, mesmo que em quantidade pequena. E o setor espera uma cenário diferente e mais positivo de agosto a dezembro”, avalia.
Consumo de carne de porco cresce 10,75% no período
Na contramão da queda no consumo da carne bovina, a carne de porco teve um aumento na procura pelo brasileiro durante a pandemia.
Com preço mais competitivo no mercado interno, o produto teve crescimento de 10,75% no consumo por habitante passando de 15,8 kg por habitante em 2019 para uma estimativa de 17,5 kg por habitante em 2022.
Essa quantidade já equivale a pouco mais de 70% do consumo anual de carne bovina. Por sua vez, as carnes de aves tiveram aumento de consumo na ordem de 4,7% e representam quase o dobro do consumo da carne bovina, chegando a 48,6 kg por habitante.
Segundo observa o presidente do Sindicarnes, Everton da Silva, "a carne suína está com um preço mais acessível que qualquer outra, seja na comparação com a bovina, com o peixe ou a ave. Então, houve uma migração de consumo. No mundo, ela já era a carne mais consumida antes da pandemia, mas no Brasil as pessoas tinham aquele conceito de que só comprariam suínos em festividades. E, através, da necessidade de comprar um alimento mais barato e de qualidade ele tem sentido como é um produto saboroso".
Para o supervisor técnico do Dieese, Reginaldo Aguiar, o grande crescimento no consumo de carne de porco decorre da perda de poder aquisitivo da população.
"Em um primeiro momento, o brasileiro substituiu as carnes bovinas de primeira por cortes de segunda ou de terceira. Depois, passou a migrar para o frango, para o peixe e para o porco. O que vemos é que a coisa piorou e se passou a consumir subprodutos, tais como pés e até pele de frango e até o ovo subiu de preço", pondera.
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