Entidade de bancos, com 119 empresas, assina carta para a democracia
O manifesto subscrito foi o intitulado "Em Defesa da Democracia e da Justiça", escrito em nome da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e faz coro à carta organizada pela Faculdade de Direito da USP já com mais de 30 mil assinaturas
15:35 | Jul. 27, 2022
A entidade que representa 119 instituições bancárias do País comunicou nesta quarta-feira, 27 de julho, que assinou a carta para a democracia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), intitulado “Em Defesa da Democracia e da Justiça”.
Trata-se de apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febrabran), que deliberou, por maioria, subscrever documento encaminhado à entidade pela Fiesp.
O manifesto é o segundo desta semana e se soma a outro preparado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), que já passa de 30 mil assinaturas em favor da democracia, do sistema eleitoral brasileiro e defesa das instituições do País, principalmente STF e TSE.
Este último, inclusive, é chamado de “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” e foi apoiado pela própria Fiesp, que, segundo seu presidente, Josué Gomes, vai apoiar qualquer movimento democrático.
No ano passado, a Febraban decidiu não assinar um documento que também contava com o envolvimento da Fiesp, e que pedia harmonia entre os Poderes às vésperas dos atos de 7 de Setembro.
Entenda a primeira carta à democracia
Banqueiros e empresários assinaram na terça-feira, 26 de julho, manifesto em defesa da democracia organizado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
O documento que tinha 3,1 mil subscritos até ontem já tem mais de 30 mil assinaturas nesta quarta-feira, 27 de julho. A lista completa pode ser vista no site da FDUSP.
Dentre os cearenses que subscrevem o documento, está o conselheiro de empresas, Geraldo Luciano, e a secretária da Fazenda do Ceará (Sefaz), Fernanda Pacobahyba.
Dentre os nomes de relevância estão: Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, Candido Bracher, integrante do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, Eduardo Vassimon, presidente do Conselho de Administração da Votorantim, Guilherme Leal, copresidente da Natura e Walter Schalka, presidente da Suzano.
A carta revela apoio ao sistema eleitoral por meio das urnas eletrônicas, que são grifadas como "seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral." Vai de encontro ao discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL), que intensificou os ataques ao formato de votação brasileiro.
Sobre o momento político de 2022, o documento frisa que "ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República einsinuações de desacato ao resultado das eleições."
Também há reação ao que chamam de "ataques infundados" e desacompanhados de provas, que questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito "tão duramente conquistado" pela sociedade brasileira.
"São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional", frisa o manifesto.
A carta compara o movimento ao que ocorreu nos Estados Unidos. "Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão."
A mensagem é que a consciência cívica dos que apoiam o manifesto "é muito maior do que imaginam os adversários da democracia".
"Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática", complementa o documento.
Ao fim, o manifesto destaca que no Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários.
"Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições. Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona: Estado Democrático de Direito Sempre!"
O que é a carta pela democracia
A carta divulgada na terça-feira, 26 de julho, é um manifesto ao Estado Democrático de Direito organizado pela Faculdade de Direito da USP.
Faz parte de um movimento mais amplo que ressalta a importância de defender as instituições brasileiras e os Tribunais Superiores – especialmente o STF e TSE – que vêm sofrendo constantes ataques.
Haverá desdobramento do manifesto ainda no dia 11 de agosto, em união com outras entidades e diversos representantes da sociedade.
Na ocasião, haverá a leitura de uma nova “Carta aos Brasileiros e Brasileiras”, no Pátio das Arcadas, às 11h, que será realizada pelo ministro aposentado do STF Celso de Mello.
O espaço foi onde, em 1977, diante das dificuldades impostas pelo Estado de Exceção, o jurista e professor das Arcadas Goffredo da Silva Telles Jr. marcou a luta contra a Ditadura.
O que diz a carta pela democracia
O texto adverte para os atuais problemas, em especial os ataques contra o Tribunal Superior Eleitoral e as urnas eletrônicas e ressalta a lição deixada pelo professor Goffredo, que denunciava a ilegitimidade do governo militar e o estado de exceção e pedia a instauração de uma Assembleia Nacional Constituinte.
“O documento já tem centenas de adesões. Temos professores de Direito do Brasil inteiro e mais de milhares profissionais de diversas áreas subscrevendo o texto”, assinalou o diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
Em um dos trechos, a Carta ressalta: “Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona: ‘Estado Democrático de Direito sempre!’”.
Saiba alguns nomes que assinaram a carta pela democracia
- Alberto Toron: advogado
- Armínio Fraga: ex-presidente do Banco Central
- Arnaldo Antunes: cantor
- Candido Bracher: integrante do Conselho de Administração do Itaú Unibanco
- Celso Antônio Bandeira de Mello: advogado
- Chico Buarque de Hollanda: cantor
- Eduardo Vassimon: presidente do Conselho de Administração da Votorantim
- Fábio Alperowitch: sócio-fundador do Fama Investimentos
- Guilherme Leal: copresidente da Natura
- Horácio Lafer Piva: acionista e integrante do Conselho de Administração da Klabin
- João Moreira Salles: cineasta
- João Paulo Pacifico: CEO do Grupo Gaia
- José Roberto Mendonça de Barros: economista
- José Olympio Pereira: ex-presidente do banco Credit Suisse no Brasil
- Miguel Reale Júnior: ex-ministro da Justiça
- Natália Dias: CEO do Standard Bank
- Paulo Hartung: ex-governador do Espírito Santo
- Pedro Malan: ex-ministro da Fazenda
- Pedro Moreira Salles: copresidente do Conselho de administração do Itaú Unibanco
- Pedro Passos: conselheiro da Natura
- Pedro Serrano: advogado
- Pierpaolo Bottini: advogado
- Roberto Setubal: copresidente do Conselho de administração do Itaú Unibanco
- Sérgio Renault: advogado
- Walter Casagrande: ex-jogador de futebol
- Walter Schalka: presidente da Suzano
Veja a íntegra da carta pela democracia abaixo
"Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito
Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos.
Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A semente plantada rendeu frutos.
O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o Estado Democrático de Direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.
Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal. Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.
A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição: " Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição ".
Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.
Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em um país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública.
Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável.
O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.
Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais.
Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.
Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.
Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira.
São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.
Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana.
Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão. Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia.
Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.
Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e aos brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.
No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado.
A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições. Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona: Estado Democrático de Direito Sempre!"
Confira aqui quem já assinou o documento
Saiba Mais:
Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito
Organização: Faculdade de Direito da USP
Link para assinatura: Estado de Direito Sempre
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