Venda da Lubnor gera incerteza sobre abastecimento do mercado local

Foco em exportação e distribuição podem prejudicar mercado local que poderá ficar refém de fornecedores multinacionais e preços mais caros

Em meio às críticas sobre a transparência, os valores e validade do processo de venda da refinaria da Petrobras no Ceará, especialistas do mercado de derivados do petróleo divergem sobre os impactos para os consumidores.

A perspectiva central é de que não ocorrerão elevações de preços significativas imediatamente após a conclusão do processo de privatização. Porém, devido à dinâmicas de mercado, a oferta dos produtos comercializados pela Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), em Fortaleza, sob administração privada poderá se voltar para o mercado internacional.

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"O preço do cimento asfáltico aumentou entre 20% e 25% acima dos reajustes da gasolina e combustíveis no mercado internacional, então, com a iniciativa privada no comando da Labnor, nada impede que ela opte por direcionar as vendas para fora do Brasil", pontua Ricardo Cavalcante, engenheiro e consultor de petróleo e gás.

Riscos de monopólio 

Na análise do especialidade, esse novo direcionamento apresenta "gigantescas chances" de se concretizar em médio e longo prazo após a finalização da compra da Lubnor. Tal mudança no posicionamento deixaria o mercado local à mercê da disponibilidade de exportadores multinacionais, o que na prática irá gerar uma pressão para elevação dos preços, especialmente diante das elevadas taxas de câmbio.

Por outro lado, as projeções de novos investimentos na expansão da refinaria geram expectativas promissoras para o futuro da Lubnor. Bruno Iughetti, consultor da área de petróleo o gás, projeta uma alta de 10% na produção do empreendimento após os investimentos privados previstos para depois do fim da compra do ativo.

A expansão elevaria a produção em Fortaleza, de modo que, segundo Bruno, seria o suficiente para manter os preços em patamares próximos dos atuais e ainda viabilizar uma escalda de produção para exportação.

"Diferentemente do que se tem julgado, não se trata de um monopólio privado. Não há proibição ou impeditivo para que outra empresa atue neste segmento na região, a questão é, por meio de uma gestão privada, dar a Lubnor o potencial de expansão por meio da retomada de investimentos na planta", defende.

Bruno também reconhece o potencial de exportação da Lubnor, mas diz acreditar que a eventual nova dona da refinaria dividirá suas ações entre manter a excelência no abastecimento interno e em inciativas para expandir a produção mirando o mercado internacional.

Ricardo, porém, pontua que a Petrobras, enquanto estatal, tinha uma "obrigação moral" de atender a demanda nacional e que o mesmo não se configura com a administração privada. O especialista destaca ainda o temor de que a compra da refinaria tenha sido motivada apenas pelo interesse na infraestrutura de tancagem e armazenamento de combustíveis. 

"É um aparo bilionário e muito atrativo. Mais do que refinar o petróleo, a compradora poderá se dedicar exclusivamente na compra e revenda dos combustíveis, tendo uma ampla margem de lucro e investindo bem menos", destaca. Tais apontamentos fundamentam ação pública que busca barrar o processo de privatização da refinaria

Tanto Bruno quanto Ricardo reiteram que os principais produtos da Lubnor representam itens de "pouco valor agregado" ainda que sejam fundamentais para obras de infraestrutura e bem valorizados no mercado internacional.

Os preços dos mesmos, por serem comprados para demandas específicas, pontuais e grande volume, acabam sendo regularizados por contratos de compra, assim, ainda que influenciados pela cotação do petróleo, o ajuste dos mesmos pode ser contido pelas clausulas contratuais no curto e médio prazo. 

Ambos, porém, reiteram que altas são inevitáveis e que em um longo prazo, a nova dona da refinaria, deverá adotar uma política de paridade de preços para se tornar mais competitiva no mercado internacional. 

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