Ameaça de greve dos caminhoneiros: últimas notícias de hoje, 11

Aumento da gasolina anunciado pela Petrobras teria inviabilizado o frete. Confira as últimas notícias de hoje, sexta, 11/03, da ameaça de greve dos caminhoneiros

18:07 | Mar. 11, 2022

Por: Redação O POVO
Ameaça de greve dos caminhoneiros: confira as últimas notícias de hoje, 11, em meio à alta no preço da gasolina (foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Caminhoneiros decidiram parar os caminhões em suas bases e ameaçaram uma greve a partir de hoje, sexta-feira, 11 de março (11/03). Empresas afirmaram que o aumento dos combustíveis anunciado pela Petrobras inviabilizou o frete e que, até que as condições financeiras sejam restabelecidas, a frota ficará parada.

A orientação para quem estiver com cargas em andamento é que terminem as entregas e voltem para as bases. O assessor executivo da presidência da Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA), Marlon Maués, diz que se trata de uma paralisação técnica, sem bloqueios nas estradas. "O aumento fez com que o sistema entrasse em colapso."

Wagner Jones Almeida, outro assessor da CNTA e empresário do ramo de transporte de combustível, também confirmou as paralisações na sua área. "Já havia uma defasagem nos preços do frete de 24% a 25%. O novo aumento inviabilizou o custo, pois as empresas já não aceitavam reajustar os valores", disse. "Agora piorou."

Nesta quinta-feira, 10, após 57 dias, a Petrobras anunciou aumento de 25% do diesel e de 19% da gasolina. O reajuste vale a partir de hoje. Com a escalada dos preços do petróleo por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia, a estatal não conseguiu segurar os reajustes. Ainda assim, o preço no mercado interno está bem abaixo do avanço da commodity no mercado internacional.

"O que temos de ter em mente é que não parou por aí. Daqui a pouco vem mais 11% de reajuste", disse o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão. Para ele, essa não é uma pauta só dos caminhoneiros, mas de toda a sociedade. "Como ocorreu em 2013, com as passagens de ônibus, chegou a hora de toda população protestar, pois isso vai acabar no bolso de todo consumidor."

Ele explica que, com os aumentos sendo repassados para o frete, todos os produtos vão encarecer nos supermercados, lojas e shoppings. Questionado sobre uma paralisação apenas dos caminhoneiros, ele diz que isso pode ocorrer de uma forma natural, mas não orquestrada - como os cegonheiros e transportadores de combustível. "Ou seja, com o aumentos dos custos, muitas viagens podem se tornar inviáveis economicamente. Ninguém vai trabalhar no prejuízo."

 

Para Maués, da CNTA, está se criando uma equação semelhante à de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros. "Hoje há um descontentamento geral com a situação, seja por parte das transportadoras, agronegócio e outros agentes da sociedade." Além dos caminhões, lembra ele, colheitadeiras, trens e ônibus também usam diesel. Portanto, segundo ele, o movimento contrário aos aumentos deve ser em conjunto com toda a sociedade. "O caminhoneiro não pode ser usado como massa de manobra."

Preço da gasolina: porque está tão cara? Entenda

O aumento no preço da gasolina ocorre em decorrência da implementação do reajuste de 18,8% no preço da gasolina comum cobrado nas refinarias anunciado pela Petrobras na quinta-feira, 10 de março, e implementado hoje, 11. A Petrobras reajustou ainda o preço do óleo diesel em 24,9% e do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o gás de cozinha, em 16%.

Todos os derivados de petróleo reajustados pela estatal já computam aumento de preços. As projeções indicam que, no Ceará por exemplo, os valores devem chegar na máxima de R$ 150 para um botijão de 13kg do gás de cozinha e R$ 9 para o litro da gasolina comum e de R$ 8 para o diesel.

O efeito da guerra no preço da gasolina

Em meio às instabilidades causadas no mercado pelo conflito entre Ucrânia e Rússia, o preço do barril do petróleo Brent disparou. Com base na atual política de preços, analistas já estimavam no último dia 8 que um novo reajuste da Petrobras poderia aumentar o preço da gasolina para patamar superior a R$ 11 e do diesel para acima dos R$ 10. Por isso, Governo Federal e Congresso se movimentaram em torno de iniciativas que visam diminuir essa pressão no consumidor final.

Preço da gasolina: governo tenta minimizar aumento do combustível

O presidente Jair Bolsonaro disse que sancionará ainda hoje, 11, o projeto de lei (PL) que prevê a cobrança em uma só vez do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, inclusive importados. O texto, aprovado na madrugada desta sexta-feira, na Câmara dos Deputados, e um pouco antes no Senado, prevê que a cobrança seja feita com base em alíquota fixa por volume comercializado e única em todo o país.

"Quero cumprimentar o Senado e a Câmara dos Deputado pela aprovação que, na prática, visa suavizar o aumento no óleo diesel no dia de ontem [10]" disse Bolsonaro, durante o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), referindo-se ao aumento no preço dos combustíveis anunciado pela Petrobras.

No final de 2021, o presidente Jair Bolsonaro atribuiu a alta nos preços do derivado de petróleo na bomba ICMS cobrado pelos estados. A média nacional do preço do litro de gasolina chegava, à época, a quase R$ 6, e em cidades do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Acre e Tocantins já superava os R$ 7.

A porcentagem do imposto estadual cobrado pelas unidades federativas, apesar de compor parte relevante do valor que os consumidores pagam pelos combustíveis nos postos de abastecimento, não sofreu alterações ano passado.

Foram os reajustes feitos pela Petrobras que pesaram na conta dos motoristas que rodam em carros movidos à gasolina, commodity que já acumula, no Brasil, alta de 51% desde janeiro de 2021.

Segundo levantamento realizado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) em abril de 2021, o valor do ICMS correspondia a 28,1% do preço do combustível. O componente que mais pesou no bolso do consumidor, porém, não foi o imposto, e sim o valor cobrado na refinaria que corresponde a 35,6% do preço médio do hidrocarboneto na bomba.

Além disso, a própria Petrobras destacou que até chegar ao consumidor, são acrescidos ao valor do combustível tributos federais e estaduais (39,1%); custos para aquisição e mistura obrigatória de etanol anidro (15,7%) e custos das companhias distribuidoras e dos revendedores (12,2%).

Segundo o IBGE, o combustível teve alta acumulada de 27,5% este ano; e nos últimos 12 meses, os preços subiram 37%.

Em informação concedida ao Portal Uol, Carla Ferreira, pesquisadora do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, ligado à Federação Única dos Petroleiros) afirmou que os reajustes são uma consequência da política de preços da Petrobras adotada em 2016 que associa os valores praticados no País ao preço do barril de petróleo no mercado internacional. Com isso, os preços no Brasil sobem devido à drástica valorização do dólar em relação ao real.

“É claro que, como o ICMS é um percentual sobre o preço final, quando o preço sobe, a arrecadação aumenta. Mas ele não é o vilão das altas de agora. A grande questão é esse preço que sai da refinaria, que vem da política de paridade de importação.”

Ainda conforme Carla Ferreira, um exemplo de que os tributos não foram os fatores que determinaram as altas da gasolina foi a baixa influência que a isenção de PIS e Cofins, impostos federais, teve sobre o preço do diesel (também derivado do petróleo). Ela disse que apesar de a diminuição no imposto ter sido de R$ 0,31, a queda no valor do combustível na bomba foi de somente R$ 0,03.

Componentes do preço da gasolina

O preço da gasolina na bomba, conforme a ANP, é influenciado diretamente por cinco fatores:

  • Preço do produtor (Petrobras e importadores);
  • Preço do etanol - o combustível comercializado nos postos do País é composto por 73% de derivado de petróleo (gasolina A) e 27% de etanol de origem canavieira;
  • Tributos federais - PIS, Cofins e Cide;
  • Imposto estadual - ICMS;
  • Distribuição, transporte e revenda.