Petrobras investiu em 2021 menos da metade do que pagou em dividendos, diz FUP
17:37 | Fev. 24, 2022
A Petrobras investiu no ano passado menos da metade do que pagou em dividendos para seus acionistas, uma distribuição de R$ 101,4 bilhões, contra os cerca de R$ 47 bilhões investidos, criticou o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.
Segundo ele, os altos dividendos só foram possíveis pela manutenção da política de Paridade de Preço de Importação (PPI) da estatal, que traz ganhos para os milhares de acionistas, mas impulsiona a inflação com a alta dos derivados no mercado interno para milhões de brasileiros.
"A Petrobras teve lucro de R$ 106 bilhões e distribuiu dividendos de R$ 101,4 bilhões em 2021, o que significa a maior transferência de renda da história já vista no Brasil promovida pela gestão da Petrobras", disse Bacelar. Em 2021, a Petrobras investiu US$ 8,7 bilhões, ou cerca de R$ 47 bilhões.
Segundo levantamento da FUP, entre 2003 e 2015, quando a empresa não praticava o PPI, a média anual de investimentos era de US$ 26,8 bilhões.
"No ano em que a população brasileira pagou preços recordes dos combustíveis e do gás de cozinha, a gestão da Petrobras apresentou o maior lucro de sua história", destacou o sindicalista.
O PPI, criado em outubro de 2016, no governo Michel Temer, foi mantido e reforçado no governo Bolsonaro, com reajustes mais intensos na gestão do ex-presidente Roberto Castello Branco, e mais brandos com o atual presidente, general Joaquim Silva e Luna.
"Graças ao PPI, os preços dos derivados de petróleo subiram quase 70% no ano passado, puxando para cima as receitas da Petrobras, de mais de R$ 452 bilhões. Um boom de receita calcado no PPI, ou seja, no bolso da população brasileira", afirmou o dirigente da FUP.
A Petrobras anunciou na quarta-feira, 23, lucro líquido de R$ 106,7 bilhões em 2021, e informou que vai distribuir dividendos adicionais, que somados aos já previstos, totalizam R$ 101,4 bilhões.
PPI fica
O preço dos combustíveis tem sido ponto de tensão entre o governo e a estatal, conflito que deve se acirrar com a alta do petróleo no mercado internacional, agora ainda mais pressionado pela invasão da Ucrânia pela Rússia. E se depender da empresa, o PPI vai continuar, mesmo com as pressões externas impactando a inflação no Brasil.
Em videoconferência com analistas mais cedo, o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, Rodrigo Araújo, afirmou que a distribuição de dividendos vai continuar.
"Obviamente, a depender do cenário de preço, nosso compromisso é cumprir a política (de dividendos) e, eventualmente, tendo espaço para uma distribuição adicional, nosso entendimento é que a melhor alocação de capital é de fato fazer uma distribuição adicional", disse ao ser perguntado se os ganhos com os altos preços do petróleo poderiam antecipar investimentos.
"A gente não vê muito espaço para antecipação (de investimentos), a expectativa é de fato realizar o que está comprometido para o horizonte do plano (Plano Estratégico 2022-2026)", afirmou Araújo.