Ceará: corante extraído da pitaia é alternativa sustentável para produtos do mercado

De cor vermelho-violeta, o corante natural pode representar oportunidade de geração de emprego e renda para produtores cearenses. A fruta se adaptou bem ao solo do Estado e é cultivada no Vale do Jaguaribe e na Serra da Ibiapaba

Cientistas dos laboratórios da Embrapa Agroindústria Tropical, localizados no Ceará, desenvolveram um corante natural vermelho-violeta a partir da fruta pitaia. Com uso de tecnologia limpa e que faz bem à saúde, o produto está pronto para elevação de escala tecnológica junto a empresas interessadas em sua produção. O corante deve interessar especialmente aos mercados alimentício e de cosméticos.

O insumo pode servir como alternativa para o carmim de cochonilha, o mais famoso corante natural dessa cor, conhecido por causar alergia em algumas pessoas. Na Europa e na América do Norte, por exemplo, a indústria deve informar a presença do corante em seus rótulos devido às reações alérgicas. O produto ainda é reprovado pelo mercado à base de plantas, porque é produzido a partir de um inseto que vive em cactos.

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Conforme a Embrapa, a pitaia ainda leva vantagem sobre a beterraba — única alternativa usada em larga escala além do carmim — por não apresentar aroma ou sabor que exijam processos adicionais para neutralização. A betanina, corante alimentar obtido das beterrabas, é indicado para alimentos que durante o processamento não sejam submetidos a temperaturas muito altas e que tenham tempo curto de armazenamento, segundo estudo do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo).

Outro benefício no uso da pitaia é o alto rendimento industrial da polpa, chegando a 65%, de acordo com o engenheiro de alimentos da Embrapa Agroindústria Tropical Fernando Abreu. O especialista explica ainda que o processamento industrial é facilitado, já que basta redimensionar outros equipamentos já utilizados pela indústria de polpas de frutas. É aplicada ainda uma tecnologia de microfiltração por membranas que, embora apresente um custo mais elevado, proporciona um rendimento maior na concentração.

“Quanto mais concentrado, menor o custo de transporte e maior facilidade operacional”, defende Abreu em nota divulgada pela Embrapa. Quando misturado com produtos lácteos, o corante da pitaia ganha uma coloração atrativa, que se assemelha ao tom do morango. Uma outra característica do produto é a variação da cor dependendo da concentração, alcançando vermelho, violeta e rosa.

Quando misturado com produtos lácteos, o corante apresenta tom de cor próximo ao do morango
Quando misturado com produtos lácteos, o corante apresenta tom de cor próximo ao do morango (Foto: Divulgação/Embrapa)

Pitaia tem boa adaptação ao solo do Ceará e pode gerar emprego e renda

Em agosto deste ano, o secretário executivo de Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Sílvio Carlos Ribeiro, ressaltou a importância da pitaia para a transformação do setor no Estado, com cultivo no Vale do Jaguaribe e na Serra da Ibiapaba. Conforme o gestor, isso acontece devido à boa adaptação ao solo, o consumo de pouca água e o alto valor agregado no mercado internacional.

A Embrapa defende que o uso de uma fruta que se adapta a diversos tipos de clima pode abrir caminho para um novo nicho de mercado. Para o pesquisador Guilherme Julião Zocolo, o desenvolvimento do produto pode abrir grandes oportunidades de renda para o agricultor e a indústria. “Recursos naturais aliados à utilização de alta tecnologia agem em consonância com propósitos de criar produtos e serviços mais sustentáveis”, diz Zocolo em nota.

Uma vantagem é que as frutas não selecionadas para o consumo humano podem ser utilizadas para obtenção do corante, com aproveitamento integral de cascas. “O estabelecimento de sistemas de produção que atendam às demandas da indústria deve impactar positivamente pequenos, médios e grandes produtores rurais na região do Semiárido”, acrescenta Ana Dionísio, pesquisadora da Embrapa e doutora em Ciência de Alimentos pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (Unicamp).

A pitaia, cujo sabor é doce e suave, se aproximando do kiwi, é uma boa fonte de vitaminas, carboidratos e minerais, com alto teor de potássio, além de guardar poder antioxidante e de ter ação laxante. Ela também pode ser uma aliada na prevenção de doenças cardiovasculares, envelhecimento precoce e diabetes, conforme estudos da Universidade Federal do Ceará (UFC). A instituição conduz pesquisas sobre a fruta, originária de florestas tropicais do continente americano, principalmente da região que vai do México à Colômbia e à Venezuela.

A Embrapa busca uma parceria com empresa da área de corantes para a elevação da escala em nível industrial e inserção do produto no mercado, para ser utilizado por indústrias de alimentos ou cosméticos e chegar até o consumidor final. Empresas que tenham interesse no uso da tecnologia para produção do corante podem entrar em contato com a Embrapa através deste e-mail: cnpat.chtt@embrapa.br.

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