Ceará deve trabalhar para atrair cérebros, dizem especialistas em inovação

Ideia foi debatida durante painel do Ceará Global 2021, promovido pela Câmara Setorial de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro, que aborda os clusters, nesta edição

21:36 | Out. 14, 2021

Por: Adriano Queiroz
Atração de profissionais e pesquisadores altamente capacitados para o Estado depende, dentre outros fatores, da promoção de um ambiente de inovação e tecnologia (foto: Júlio Caesar)

E se em vez de o Estado do Ceará tentar evitar a chamada ‘fuga de cérebros’ trabalhasse para atrai-los? Essa foi uma das ideias debatidas durante o evento Ceará Global 2021, que neste ano, aborda a questão dos clusters, que são agrupamento de diferentes negócios, conectados por suas relações empresariais.

De acordo com o CEO da Elephants Labs e do Movimento Winds for Future, Igor Juaçaba, um dos painelistas do encontro online, promovido pela Câmara Setorial de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro, que segue até sexta-feira, 15, essa deveria ser uma meta quando se pensa em usar inovação para promover o empreendedorismo internacional de startups cearenses.

“Se a gente estiver atraindo cérebros (profissionais e pesquisadores altamente capacitados), isso significa que estaremos também fazendo um belo trabalho internamente”, defendeu. Ele citou que, além de promover um ambiente de inovação e tecnologia, o Ceará tem como diferenciais nesse processo itens como qualidade de vida e até mesmo um hobby, que costuma atrair não só amantes do esporte, mas também grandes investidores em seus momentos de lazer.

“Disparadamente, a principal plataforma desse público no Estado é o kitesurfe, mais notadamente na Praia do Cumbuco (em Caucaia). O esporte traz para cá investidores do mundo inteiro que alavancam a economia dos resorts. Tem muitos ‘CEOs Forbes 500’ (em referência à publicação das 500 maiores fortunas do mundo publicadas pela revista) vindo praticar o kitesurf e, assim como ele vem para se divertir pode vir para investir”, aposta.

Juaçaba acrescenta que outros países como o Canadá já trabalham a atração de talentos por meio da promoção da qualidade de vida e que o mesmo pode ser feito no Estado. “Principalmente, com a pandemia muita coisa foi acelerada. Uma delas é que se pode trabalhar de qualquer lugar do mundo. E se eu posso fazer isso por que não posso trabalhar em um local com melhor qualidade de vida”, questiona.

Em sentido semelhante, o vice-reitor de pesquisa da Universidade de Fortaleza, Milton Sousa, destacou uma iniciativa, da instituição de ensino, que busca promover troca de conhecimentos e ampliar a rede de relacionamentos (networking) entre empresas startups cearenses e estrangeiras. “Nós transformamos a incubadora que tínhamos em uma aceleradora e criamos um projeto que traz startups de fora para ficar um tempo na universidade, conhecendo também nossos parceiros. A partir disso, construímos networking e pontos de contato em outros países”, exemplifica.

Sousa cita como outra vantagem que essa espécie de intercâmbio possibilita que “quem vem de fora possa explicar melhor como funcionam outros mercados, principalmente na América Latina, Europa e também os países de língua portuguesa”. Atualmente, segundo o secretário executivo de Comércio, Serviço e Inovação da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho do Ceará (Sedet-CE), Júlio Cavalcante, o Estado conta com 48 startups distribuídas por 9 macrorregiões.

Cavalcante foi também o mediador do painel ‘Inovação e Desenvolvimento: A Chave Para o Empreendedorismo Internacional’, que contou ainda com a presença de Sampaio Filho, diretor de Inovação da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), que citou, por sua vez, um ‘case em desenvolvimento’ que está apresentando “grande avanço, em Juazeiro do Norte, por meio da parceria entre startups e uma grande indústria”.

E, por falar em avanço, mais cedo, durante o painel ‘Clusters: Estratégias de Desenvolvimento’, o titular da Sedet-CE, secretário Maia Júnior, disse que a celeridade no processo de formação de um ‘hub do hidrogênio verde’ no Estado ocorre por conta da estratégia do poder público em investir em mercados com forte demanda internacional.

“Onde houver demanda haverá investimento, seja de origem pública ou privada. Para atrair qualquer empresa é preciso ter mercado. Por que o Ceará atraiu tão rapidamente 16 grandes empresas na área de hidrogênio verde e apenas uma refinaria? Porque há um forte demanda global para uma indústria e não há para a outra”, disse.

No Ceará, segundo destacou Maia Júnior, a formação de clusters é potencializado pela existência de hubs como o portuário e o aeroportuário. Nesse sentido, ele lembrou o papel do Estado como indutor de investimentos, mas defendeu a importância de que os governos saibam “a hora de sair” e deixar a iniciativa privada “caminhar por conta própria”.

“O Estado tem que saber entrar e sair. Eu vejo que o Ceará está pronto para acolher e atrair o capital privado. Temos procurado dar liberdade econômica ao investidor, mas também é inegável que um equipamento como o Porto do Pecém, dificilmente teria surgido sem o papel estatal como o indutor e, agora, ele é parceiro do Porto de Roterdã”, argumenta.

Além de Maia Júnior, o painel contou com a presença do secretário de Regionalização e Modernização da Casa Civil do Ceará, Célio Bezerra, e do consultor sênior da Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI), André Barbosa. Já o diretor corporativo de O POVO, Cliff Vilar, foi o mediador dos debates.

O Ceará Global 2021 ‘Clusters’ começou nesta quinta-feira, 14, e segue até sexta, 15, com um total de 12 painéis. Entre alguns dos temas discutidos, estão: os investimentos estrangeiros; o hub do comércio exterior; transformação digital pública; desenvolvimento sustentável; além das chamadas ‘novas economias’.

O POVO é parceiro de mídia do evento, que está em sua quinta edição, a segunda realizada de forma online, por conta da pandemia de Covid-19.