Pandemia teve forte impacto na renda da população do Nordeste, MG e ES
Estudo da Sudene mostra os efeitos da pandemia na área de atuação da autarquia, que leva em consideração o Nordeste e parte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo
17:09 | Ago. 04, 2021
A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) divulgou, nesta terça-feira, 3, o resultado da pesquisa sobre os efeitos da pandemia de Covid-19 em sua área de atuação, que inclui os nove estados do Nordeste, além de parte de Minas Gerais e do Espírito Santo. Realizado pela Datamétrica Pesquisa e Consultoria Ltda., o levantamento tem objetivo de avaliar os impactos da crise sanitária e econômica na Região. O trabalho foi feito com quatro grupos: governos, categorias profissionais, setor produtivo e população.
Na pesquisa com a população, foram analisados fatores como renda, emprego, acesso a programas sociais, hábitos de consumo, saúde e educação. A pandemia da Covid-19 afetou negativamente a renda de 59% dos entrevistados. O impacto negativo foi maior entre os jovens adultos entre 31 e 40 anos (67%), com instrução até nível médio (60%) e renda até 1 salário mínimo (60%). Considerando os resultados por unidade da federação, os moradores do Piauí (79%), Ceará (65%) e Espírito Santo (64%) foram os que mais indicaram ter perdido renda por conta da pandemia. Mas outros estados também tiveram forte efeito como Pernambuco (34%), na Paraíba (28%) e na Bahia (28%), com perda na renda entre 75% e 100%.
Período da retomada
Na avaliação de 30% dos entrevistados, será necessário um período superior a um ano para retornar a renda pessoal semelhante ao que tinha antes da pandemia. Adultos de 31 a 40 anos de idade (37%), pessoas com instrução até nível fundamental (32%) e com renda até um salário mínimo (33%) foram os que mais citaram esse tempo de retomada. Entre os estados, os moradores que mais contribuíram para o índice de 79 foram os do Piauí (93%), Alagoas (87%) e Ceará (83%).
Foi avaliado também o impacto da pandemia na necessidade de aprender novas habilidades para continuar trabalhando, cujo indicador atingiu o resultado de 73 (impacto negativo elevado). 73% das pessoas entrevistadas afirmam que tiveram que aprender alguma habilidade nova. Pessoas de até 30 anos (87%), aquelas com nível superior (82%) e os que possuem renda superior a cinco salários mínimos (83%) foram os que mais afirmaram ter aprendido novas habilidades para seguir trabalhando durante a pandemia. A população de Minas Gerais (97%), Espirito Santo (84%), Piauí (82%) Rio Grande do Norte (80%) e Alagoas (80%) foram os que mais desenvolveram novas habilidades.
Nas entrevistas com representantes de diversas categorias profissionais, foi relatado que os impactos foram heterogêneos, tendo sido mais negativo entre os empreendimentos que não conseguiram se reinventar. “Na agropecuária, por exemplo, empresas maiores tiveram aumento da renda: cadeias produtivas mais eficientes, câmbio favoreceu exportadores, acesso ao crédito mais fácil”. Por outro lado, o pequeno produtor esteve mais vulnerável em função de cadeias produtivas mais desorganizadas, menor fluxo de caixa, falta de crédito e informalidade.
Leia mais
Esse grupo de entrevistados afirma que a pandemia acelerou uma série de mudanças tecnológicas no setor produtivo da região, o que vem forçando alterações nos modelos de trabalho e no perfil dos trabalhadores exigidos pelo mercado. Para os entrevistados das áreas de comércio e serviços surgiram novas oportunidades que provocaram o crescimento na criação de MEIs, principalmente as que funcionam com base em plataformas digitais. Houve intensificação da migração do varejo convencional para plataformas digitais e crescimento dos negócios de base tecnológica e de oportunidades na área de logística, sobretudo voltadas à realização de entregas domiciliares.
Com relação as medidas de contenção dos impactos socioeconômicos da pandemia tomadas pelo Governo Federal, entre elas o auxílio emergencial e as medidas de proteção ao emprego, a percepção é de que elas foram essenciais no enfrentamento da crise econômica decorrente da crise sanitária. Entre as ações do Governo Federal, está a prorrogação das parcelas de financiamentos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), proposta construída pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), em parceria com bancos e superintendências regionais, entre elas a Sudene. Outra medida importante para a Região foi a linha de crédito emergencial do FNE, que fechou o ano de 2020 disponibilizando pouco mais de R$ 3 bilhões em crédito facilitado e a juros baixos para empreendedores de toda a área de atuação da Sudene. O FNE Emergencial foi criado em decorrência dos efeitos da pandemia do covid-19.
Projeção do futuro
Em relação ao futuro, os entrevistados esperam que as próximas medidas foquem, entre outras coisas, na redução tributária, subsídios à produção, redução de encargos, novas linhas de crédito, redução de tarifas de água e luz. Quando perguntados sobre o tempo que levará para que a situação se normalize, o final de 2021 vem sendo considerado um marco para a retomada positiva da economia e da vida de modo geral, mas um grupo de entrevistados acredita que a recuperação vai variar muito de setor para setor.
Nos grupos com representantes dos entes governamentais e associações municipalistas; instituições de categorias profissionais (representantes das Confederações e Federações estaduais de Agricultura e Pecuária, da Indústria, do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, e do Sistema S), foram avaliados os impactos financeiros, no mercado, nos processos organizacionais, no emprego e no acesso à programas de apoio. Esses grupos da pesquisa apontam que os que mais sofreram com os efeitos da pandemia foram mercados menos estruturados e menos regulamentados e setores que dependem do contato com o consumidor direto, afetando especialmente municípios menores, com economias mais frágeis. Esses municípios foram atingidos por perda de renda, desarticulação da cadeia produtiva da qual eles participam e aumento nas despesas públicas.
A lista dos que mais sofreram conta, ainda, com pequenos produtores, menos inseridos nas grandes cadeias produtivas, setor informal e comércio de varejo (principalmente aquele voltado para bens não essenciais) e o turismo. De uma forma geral, representantes da área de atuação da Sudene destacaram impacto negativo mais evidente nos setores de turismo, comércio e serviços.
A Bahia destaca, ainda, setor leiteiro e cacaueiro, enquanto o Espírito Santo cita a pesca. Segundo representantes de Alagoas, Pernambuco e Sergipe, a agricultura familiar também foi bastante afetada, especialmente em decorrência da suspensão por um período das feiras livres. O Maranhão chamou atenção para a perda na arrecadação própria e de transferência constitucional. Minas Gerais Informou que os municípios menores, com menos indústrias e mais focados no comércio sofreram mais. Paraíba ressaltou que setores representativos do estado, como couro, calçados, metalurgia e química também tiveram impacto negativo. Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte citaram, respectivamente, setor de eventos, comércio varejista; e laticínios e fruticultura.
A Coordenação-Geral de Estudos e Pesquisas, Tecnologia e Inovação (CGEP) da Diretoria de Planejamento da Sudene, responsável pela pesquisa, enfatiza a importância desse levantamento para o pós pandemia e informa que “embora haja alguns estudos e pesquisas que buscam aferir os efeitos decorrentes da pandemia da Covid-19 no Brasil, são escassos os estudos com recortes regionais mais abrangentes, como para a região Nordeste ou a área de atuação da Sudene, que, ao mesmo tempo, permitam obter um entendimento com maior precisão dos efeitos adversos da pandemia nos territórios e obter uma visão consolidada sobre os desafios do setor produtivo e o impacto social da crise”.
De acordo com a CGEP, esse trabalho vai municiar a Sudene com informações estratégicas para que se construa uma maior compreensão do fenômeno e os desafios que estão postos para seu enfrentamento, no sentido do planejamento e articulação de políticas voltadas ao desenvolvimento includente e sustentável da região. A pesquisa ouviu cerca de 3.200 pessoas, entre os meses de janeiro e abril deste ano.