Bloqueio no Canal de Suez eleva preços de produtos e do frete marítimo de exportação no Ceará

O aumento nos valores se deve à especulação econômica do mercado. Prejuízos nas atividades portuárias do Estado ainda são mensurados

Com o bloqueio total do Canal de Suez, no Egito, devido ao encalhe do porta-contêineres Ever Given ainda na manhã da última terça-feira, 23, o valor do frete de cargas para navios, que mantinha uma tendência de queda desde 1º de fevereiro, passa a se tornar instável, marcado pela tendência de alta. As consequências chegam à dinâmica de exportações, incluindo aquelas desenvolvidas no Ceará.

Frente aos impactos na economia do Estado em decorrência do sinistro, Augusto Fernandes, diretor fundador da JM Negócios Internacionais, atuante no setor de comércio exterior há 33 anos, avalia que existem muitos achismos em relação à gravidade dos prejuízos e que isso aumenta as especulações de mercado, elevando os preços das tarifas e dos produtos associados ao transporte marítimo.

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“O impacto real de até onde vai influenciar, vai estar sempre dependendo do tempo, atrasos de três dias, até uma semana, a depender da rota, do clima, da carga, isso é normal. Agora, se passar de uma semana, se chegar domingo e o navio continuar encalhado, aí as consequências serão mais intensas”, detalha.

Devido à instabilidade no mercado, a tarifa maior do frete marítimo não está sendo tabelada. Conforme Augusto, em virtude da elevação estar associada à grande especulação econômica de quanto tempo o Canal ficará fechado, não é possível determinar uma faixa de encarecimento padrão. "O valor do aumento não está associado a um reajuste geral, então, ele depende muito de fatores como o tamanho do navio, a quantidade e demais características da carga, a rota traçada e ainda a companhia responsável pelo transporte", explica.

Principal polo para navios atracarem no Ceará, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém reconheceu há possibilidade de as atividades no local serem afetadas pelo sinistro em Suez, mas que, até o momento, as consequências não foram sentidas. “Ainda estamos fazendo nossos cálculos junto às companhias de navegação (armadores) que operam no nosso terminal”, destacou Raul Viana, gerente de Negócios Portuários do Pecém, ao ponderar que a situação está sendo monitorada como forma de antecipar efeitos colaterais e minimizar prejuízos.

Em situação semelhante, a administradora do Porto do Mucuripe, em Fortaleza, também afirmou que ainda carece de informações suficientes para mensurar os impactos do bloqueio e que realiza uma análise detalhada dos impactos “tão logo seja possível”.

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Augusto analisa ainda que as consequências no Ceará serão sentidas por meio de um efeito cascata diante do atraso das mercadorias na Europa, das elevações do preço e do aumento do tempo das entregas das exportações, já que as importações do Estado não dependem, em sua maioria, da rota Suez.

Com relação à elevação dos custos com frete marítimo para exportações feitas no Ceará, Augusto explica que a programação feita pelas companhias, em geral, leva em consideração o tempo de uma semana e que assim, tendem a estar preparados para lidar com atrasos usuais. “Na programação da semana, se algo sai do previsto, então, tenta-se compensar antecipando outra atracação ou acelerando o despache, tudo para minimizar os prejuízos". Ele detalha ainda que as exportações feitas nesta sexta-feira, 26, já apresentaram variações no preço devido ao frete e que os aumentos serão sazonais e crescentes até que o Canal de Suez seja liberado.

“Mesmo que ainda não tenha um ciclo de consequências fechado interligando as pontas, a especulação do mercado já aumenta os preços. Quem despacha essa semana já paga preços como se o encalhe tivesse se estendido por ainda mais tempo”, afirma. Ele comenta ainda que um agravante seria caso o fechamento do canal tivesse ocorrido na safra de hortifruti do Estado. Mas, como o sinistro ocorreu entressafras, as exportações cearenses encontram-se em um nível mais regular, o que fará com que as elevações no frete, a princípio, não sejam tão intensas, mas podem se agravar a depender da liberação ou não do Canal de Suez no domingo.

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