Carta de economistas e banqueiros cobrando ações do Governo Federal contra a Covid-19 passa de mil assinaturas
Entre os que depositaram suas assinaturas no documento, os ex-ministros da Fazenda, Pedro Malan, Marcílio Marques Moreira, Maílson da Nóbrega e Ruben Ricupero, os ex-presidentes do Banco Central, Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Pérsio Arida, Ilan Goldfajn e Affonso Celso Pastore, e ligados ao mercado financeiro, como o presidente do Credit Suisse, José Olympio Pereira, e o conselheiro do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles
16:05 | Mar. 22, 2021
Depois de ser divulgada no último sábado, 21, e ganhar grande repercussão, a carta assinada por economistas e banqueiros cobrando ações do Governo Federal contra a pandemia de Covid-19 no Brasil teve uma grande expansão na quantidade de signatários. Inicialmente assinada por um grupo de quase 200 profissionais do mercado financeiro, acadêmico e ex-membros da área econômica do governo, agora a soma chega a mais de mil assinaturas nesta segunda-feira, 22. O manifesto será enviado nesta semana aos líderes dos três poderes: o presidente da República, Jair Bolsonaro, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco e o da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
Entre os que depositaram suas assinaturas no documento, os ex-ministros da Fazenda, Pedro Malan, Marcílio Marques Moreira, Maílson da Nóbrega e Ruben Ricupero, os ex-presidentes do Banco Central, Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Pérsio Arida, Ilan Goldfajn e Affonso Celso Pastore, e ligados ao mercado financeiro, como o presidente do Credit Suisse, José Olympio Pereira, e o conselheiro do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles.
Flávio Ataliba, secretário executivo do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag) e signatário do documento, explica, em entrevista a rádio O POVO/CBN, que a ideia surgiu a partir das discussões dos economistas em um grupo de Whatsapp. Foram duas semanas de trabalho na produção da carta.
Uma das questões centrais de discussão tem sido sobre o processo de combate à pandemia e reativação da atividade econômica, especificamente a adoção de lockdown e a reativação da economia. "É um documento técnico em que a mensagem central é de que enquanto nós não controlarmos a pandemia, a atividade econômica não consegue voltar a funcionar"
Ataliba destaca que não houve um planejamento efetivo de gestão sanitária desde o início da crise, inclusive com a compra de vacina dos diversos laboratórios. Falta uma coordenação federal, pois os estados por si só não conseguem atender à demanda, avalia. "Por exemplo: quando foi liberado o auxílio emergencial em 2020, deveríamos ter entrado em um isolamento social nacional. Se não em todas as cidades, mas nas principais regiões. Era o tempo para realmente reduzirmos fortemente a taxa de contaminação, como aconteceu em vários países da Europa, inclusive Portugal, que estava no início de janeiro com 300 mortes por dia, mas após o isolamento nacional caiu para 18 mortes diárias".
"O que não pode é a situação de querer voltar a economia, sem as ações necessárias. Aí o que temos um grande número de pessoas contaminadas, infelizmente, uma parte expressiva vai precisar de tratamento médico, vai recorrer ao atendimento público nos hospitais e UPAs, precisando de leitos e UTIs. Então, se não tivermos um alinhamento federal, não conseguiremos avançar nesta capacidade de retomada da economia", completa.
Para o economista PhD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Lauro Chaves Neto, a crítica veio de grandes nomes e em sua maioria grandes personalidades do pensamento liberal brasileiro, que até então estavam alinhados com os planos do governo. Lauro ainda observa que a carta, por não citar nomes, deixa em aberto a cobrança de ações do Poder Executivo nacional, estadual e municipal, mas também do Legislativo.
Lauro observa que, para a economia, o mais urgente é garantir logo o fortalecimento de medidas de proteção das populações mais vulneráveis, como o auxílio emergencial enquanto durar a pandemia, e também as medidas de socorro às empresas e manutenção do emprego. O impacto da carta na economia de imediato é a consolidação do nível de incerteza já observado. Nas últimas semanas, aponta o economista, a taxa de juros aumentou em patamar acima do esperado pelo mercado, a inflação sobre a cadeia de consumo crescente, assim como o nível de desemprego.
"A carta vem um ano após o início da pandemia. E ela vem por estarmos numa segunda onda e, na avaliação dos signatários da carta, nesse período existiram muitas medidas que poderiam ser tomadas que fizessem com que uma segunda onda fosse menos sofrível do que a primeira, mas não foram", afirma.
A resposta do presidente
Em resposta às críticas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizou, dizendo que mudaria seu discurso se fosse convencido, mas que não se convenceu. Afirmou ainda que se não fosse a pandemia, "o Brasil estaria voando". "Não pode essa questão continuar sendo politizada no Brasil", completou.
Mais cedo, falou que empresários acreditam em seu governo. E disse mais: "Somos um dos poucos países que está na vanguarda na busca de soluções". Mesmo com os recordes diários de mortes, escassez de leitos, remédios para intubação e vacinação lenta, a avaliação de Bolsonaro é de que "o Brasil vem dando exemplo".
Na avaliação de Célio Fernando de Melo, economista da BFA Investimentos, a avaliação de Bolsonaro sobre as medidas expressas na carta dão um claro sinal de que o presidente não tem condições de gerir o combate à crise por falta de conhecimento. Célio entende que a questão político-institucional é importante para a boa gestão e definição de políticas, mas que o atual governo é muito fechado e não se mostra disposto a rever os conceitos. "Temos de trabalhar por uma união de esforços, pois a situação do Brasil é a pior do mundo em contaminações. A palavra de ordem é união. O presidente diz o que está na cabeça dele, o que não é o que os brasileiros e o mundo precisam ouvir".
(Atualizado às 20h30min)