Ford saiu por decisão global e estratégica, diz Governo Federal
O episódio pode repercutir nas pretensões do presidente Jair Bolsonaro de se reeleger em 2022
07:19 | Jan. 12, 2021
O Ministério da Economia lamentou, em nota oficial, a decisão da Ford de encerrar a produção no Brasil, mas buscou descaracterizar qualquer influência de políticas do atual governo na ação da montadora. Já para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o fechamento da produção no País é uma demonstração da "falta de credibilidade" do Governo Federal.
No comunicado do ministério, a decisão é retratada como "global e estratégica" da empresa. Além disso, a Economia afirmou que a medida "destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no País, muitos já registrando resultados superiores ao período pré-crise".
No entanto, estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que, embora a indústria brasileira tenha de fato superado as perdas decorrentes da crise provocada pela Covid-19 no País, alguns setores ainda operam consideravelmente aquém da sua capacidade de produção. Um deles é o de veículos.
Os fabricantes do setor registraram uma ociosidade média do parque fabril superior a 30% de setembro a dezembro, segundo dados da Sondagem da Indústria do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.
O mesmo argumento de um movimento global tocado pela montadora foi usado pelo secretário executivo do Ministério das Comunicações, Fábio Wajngarten. "A verdade dos fatos: a Ford mundial fechou fábricas no mundo porque vai focar sua produção em SUVs e picapes, mais rentáveis. Não tem nada a ver com a situação política, econômica e jurídica do Brasil. Quem falar o contrário, mente e quer holofotes", reagiu.
"Não é uma notícia boa. Eu acho que a Ford ganhou bastante dinheiro aqui no Brasil. Me surpreende essa decisão que foi tomada aí pela empresa", afirmou o vice-presidente Hamilton Mourão. "Eu acho que ela poderia ter retardado isso aí mais e aguardado."
Na nota, a Economia diz que "trabalha intensamente na redução do custo Brasil com iniciativas que já promoveram avanços importantes". "Isto reforça a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e de avançar nas reformas."
Para Maia, o anúncio da montadora evidencia a ausência de regras claras, de segurança jurídica e de um sistema tributário racional. Defensor da proposta de reforma tributária de autoria do candidato apoiado por ele para a sucessão no comando da Mesa Diretora, Baleia Rossi (MDB-SP), o atual presidente da Casa apontou que o sistema tributário teria se tornado um "manicômio" nos últimos anos, com impacto sobre a produtividade.
Ex-ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP) criticou o Ministério da Economia, pedindo um "olhar mais amigável" da pasta aos empregadores, e indicou que o episódio pode repercutir nas pretensões do presidente Jair Bolsonaro de se reeleger em 2022. "Se é verdade que saúde econômica pode decidir as eleições presidenciais, com estes anúncios, podemos dizer que 2022 está logo aí, e, quem viver verá...", escreveu Pereira, no Twitter.
Leia mais
-
Pressão global por mudanças: o que os especialistas apontam sobre a saída da Ford do Brasil
-
Decisão de gigante americana Ford pega sindicatos brasileiros de surpresa
-
Anfavea: decisão da Ford reflete falta de medidas do governo contra custo Brasil
-
Fechamento da Ford é demonstração da falta de credibilidade do governo, diz Maia
-
'Poderia ter retardado isso aí mais e aguardado', diz Mourão sobre Ford
-
Fechamento da fábrica da Troller no Ceará vai deixar 470 pessoas desempregadas
-
Ford encerra sua produção no Brasil
-
Ford vai fechar fábrica da Troller em Horizonte após encerrar produção no Brasil
-
Ford anuncia fim da produção no Brasil, com fechamento de três fábricas
-
De saída do Brasil, Ford recebeu R$ 20 bi em incentivos fiscais desde 1999