Maior parte dos brasileiros vive no limite do orçamento, diz indicador de bem-estar financeiro

Pesquisa indica ainda que 27% das pessoas no País temem que o dinheiro não dure até o fim do mês

00:05 | Mar. 22, 2019

Por: Wanderson Trindade

Da chegada das datas comemorativas à espera pelo fim de semana, a vida de parte dos brasileiros é pautada por ciclos, como o início e o fim de cada mês. Nesse meio tempo, se faz presente a expectativa pelo quinto dia útil mensal, período em que a maioria dos trabalhadores formais recebe seus salários. Acompanhado a esse período vem também o pagamento das contas, o que, por conseguinte, rememora um termo bastante comum no País: o aperto no orçamento.

Criado pela Confederação de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), o indicador de bem-estar financeiro – divulgado nesta quinta-feira, 21, e referente ao mês passado – aponta que 64% dos consumidores vivem no limite do orçamento. Isto é, eles raramente ou nunca têm dinheiro sobrando.

O medidor informa que 26% conseguem, às vezes, ter uma reserva financeira para cobrir custos de alguma eventualidade e apenas 9% afirmam que sempre ou frequentemente contam com alguma sobra. Outro dado da pesquisa mostra que 27% dos brasileiros temem que o dinheiro não dure até o fim do mês.

Mestre em economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Ricardo Coimbra afirma que os dados acima têm relação direta com o baixo nível de renda que há no Brasil. Somado a isso, diz ele, as pessoas naturalmente têm necessidades e desejos de consumo, porém suas receitas “não são capazes de suprir”.

Também professor das Universidades Estadual do Ceará (Uece) e 7 de Setembro (Uni7), Coimbra anuncia que, afora os baixos rendimentos mensais, há outro fator que pode explicar o pouco limite orçamentário dos brasileiros: a organização financeira. “As pessoas não têm um cotidiano de controle financeiro daquilo que recebe e gasta”, explicita.

Na mesma linha, Luciana Seabra, sócia da empresa de conteúdo financeiro Empiricus, declara que é preciso a adoção de uma postura de guardar parte da receita para investimentos “antes mesmo de pagar as contas”. Ela questiona ainda o termo “orçamento apertado”, o qual seria “muito subjetivo”, não estando ligado necessariamente ao valor quantitativo da renda de cada pessoa.

“Nós vemos muita gente que ganha muito dinheiro, mas que também se diz com o orçamento apertado”, reitera, alertando que a falta de reservas financeiras pode levar à entrada no cheque especial ou aos juros do cartão de crédito. “O comportamento que ajuda a resolver esse problema é sempre o de guardar pelo menos de 1% a 5% da renda para que sejam voltados a um investimento”, sustenta.

Reservas financeiras

Mesmo conseguindo programar todos os gastos fixos de um período, as pessoas não conseguem prever o imponderável. Para tentar contornar situações excepcionais, é preciso contar com reservas financeiras. Em contrapartida, segundo o indicador de bem-estar financeiro, 64% dos brasileiros não possuem capacidade de lidar com despesas inesperadas.

“Quando recebe seu salário, o brasileiro paga a conta de energia, água, luz, etc. Mas nessa equação, ele não faz a previsão de pegar uma doença, que vai exigir compras de medicamentos, por exemplo. A pessoa não vai ter reserva o suficiente para suprir os gastos”, atenta o economista Ricardo Coimbra.

Ele lembra ainda que, em núcleos familiares nos quais apenas uma pessoa tem emprego, aquela renda acaba se comprometendo com as despesas da casa. “Isso dificulta os investimentos ou mesmo a poupar dinheiro”, ressalta.

Jovens x economia

Se poupar dinheiro fosse uma corrida, aqueles que dispõem de vasta experiência estariam à frente na largada, de acordo com o indicador de bem-estar financeiro. Segundo o estudo, 69% das pessoas na faixa dos 18 anos aos 34 anos disseram não ter capacidade para lidar com imprevistos. O número, porém, diminui para 57% entre aqueles com 50 anos ou mais.

Além da pouca renda no início da vida profissional, outro fator é decisivo nessa conta. Para a sócia da Empiricus, Luciana Seabra, o comportamento financeiro dos jovens os impedem de “postergar recompensas”.

“Essa dificuldade, da pessoa mais jovem em entender que alguma hora vai faltar dinheiro, tem a ver com ela não se projetar no futuro. Na juventude, você está ali, pensando que vai dar tudo certo. Mas aos poucos passa a se aproximar da situação de não ficar dependente financeiramente de alguém e começa a se preocupar mais em guardar alguma coisa”, continua.

Para o mestre em Economia Ricardo Coimbra as pessoas com mais de 50 anos têm relação próxima com os imprevistos, devido às experiências próprias. Desta forma, eles contam com menos frustrações, pois se organizam melhor. “Diferentemente, os mais jovens têm dificuldades de fazer esse controle. O nível de desejo é maior do que a necessidade, principalmente nos primeiros anos de trabalho”, pontua.

Segundo ele, para tentar responder a desejos não atendidos pelos pais, os trabalhadores jovens tentam suprir imediatamente suas vontades, usando seus recursos para a compra de celular ou de viagens, por exemplo.

Metodologia

A pesquisa é feita por meio de entrevistas aplicadas periodicamente a uma amostra representativa dos brasileiros, com questionário composto de dez questões. De acordo com suas respostas, os entrevistados recebem uma nota, que pode variar entre zero e cem. Quanto mais próximo de cem, maior será o nível de bem-estar financeiro; quanto mais próximo de zero, menor o nível de bem-estar. O Indicador é obtido pela média dos scores da amostra.