Em meio à crise dos combustíveis, especialistas defendem a diversificação de matrizes energéticas
O biodiesel, combustível feito a partir de óleos vegetais ou gordura animal, minimiza os impactos ambientais e tem mostrado crescimento
16:37 | Jun. 06, 2018
Autor Matheus Facundo
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Notícia
Matheus Facundo
Repórter do portal O POVO Online
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A greve dos caminhoneiros, que durou 11 dias, provocou o caos no Brasil e aprofundou a fragilidade do Governo Temer, pode ter acabado, mas os efeitos ainda são sentidos. Pedindo a redução do preços dos combustíveis, em especial do diesel, os motoristas pararam o País e os efeitos da paralisação foram sentidos nos mais diversos setores. O Planalto então cedeu, em uma tentativa de agradar, e decidiu baixar o preço do diesel em R$ 0,46 nas refinarias por 60 dias.
A busca por alternativas de matrizes energéticas e os impasses da política de preços da Petrobras são os principais entraves da economia atual no País. Evento que aconteceu nesta quarta-feira, 6, na Universidade Estadual do Ceará (Uece), reuniu pesquisadores do ramo da energia e da pesquisa, além de professores e alunos. No I Worskhop Uece - Nutec (Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará), o debate girou em torno de meios de driblar essa crise e pesquisas e projetos mirando o futuro.
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O biodiesel, combustível feito a partir de óleos vegetais ou gordura animal, minimiza os impactos ambientais e tem mostrado crescimento. Hoje, ele representa 10% da composição do diesel (o mais utilizado pelos caminhoneiros que pararam o Brasil). De acordo com Jackson Malveiro, gerente da área de tecnologia química e de alimentos do Nutec, a tecnologia de obtenção do biodiesel ainda é nova. “A tendência é ir crescendo, mas é uma obtenção ainda jovem. É um diesel que polui menos, certamente, mas ainda não existem muitas políticas de incentivo ao biodiesel. É uma decisão política e econômica.”, indica.
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Este combustível alternativo é produzido hoje, majoritariamente, a partir de óleos vegetais como de algodão e soja, segundo afirma Malveiro. A professora do departamento de Química da Uece, Selene Maia, aponta que um dos empecilhos na popularização do biodiesel é a seca que assola o sertão cearense, por exemplo. “A nossa dependência da seca, esse problema que nunca resolvemos, afeta a agricultura e, consequentemente, as produções vegetais, que são matéria-prima pro biodiesel”, aponta.
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Na contramão, uma maneira recente de produzir combustível é o biogás. Gerado a partir de lixo em aterros sanitários, esta modalidade é feita pela decomposição de matéria orgânica. Victor Cochrane, coordenador do Laboratório de Biocombustíveis Expedito Parente, do Nutec, explica o processo de feitura. “A usina de produção de Gás Natural Renovável (GNR) faz essa captação e purifica esse gás em 95%, reduzindo os poluentes e contaminantes e injeta ele na linha da na rede da companhia de Gás do Ceará (Cegás) para distribuição”.
A usina de GNR foi inaugurada no último dia 16 de abril e fica na sede do Aterro Sanitário Municipal Oeste de Caucaia (Asmoc). Conforme O POVO publicou, este aterro produz em torno de três mil toneladas de lixo por dia. Com esse novo processo, o que é descartado pode virar combustível não somente para carros, mas também para indústrias ou gás canalizados em residências. A meta do Governo é ampliar a produção de Gás Natural em 50% em dois anos.
Airton Montenegro, representante da comissão de desenvolvimento do Ceará 2050, projeto criado ano passado pelo governador Camilo Santana (PT) para prospectar o que se quer do Estado nas próximas décadas, estava presente no Workshop. Ele adiantou que a equipe trabalha e possui interesse em investir no biogás, no âmbito da universalização do saneamento básico.
Carro elétrico para o futuro
Raimundo Montefusco Arraes, engenheiro de energia e automação, aponta que o uso do carro elétrico está cada vez mais difundido no País, incluindo em Fortaleza, com os carros compartilhados da Prefeitura. “O maior desafio é a popularização destes veículos. Precisamos de mais locais para abastecimento. Pensamos em criar um eletroposto que dê esse conforto para as pessoas abastecem”, explica.
Com crise dos combustíveis, é provável a expansão deste modal. Para ele, a tendência é de que, além de chegar a carros particulares, o abastecimento veicular por energia elétrica seja expandido para ônibus municipais, intermunicipais e interestaduais. O especialista fala que existe um laboratório de inspeção elétrica veicular que ainda está passando por aprovações para funcionar. A segurança veicular é um dos fatores mais importantes, conforme Raimundo.
O impasse da Petrobras
Os R$ 0,46 de baixa do diesel estão no centro uma crise e ainda existe um debate muito forte em torno disso. O relato é de que o preço não está sendo sentido na bomba. Montefusco avalia que a polêmica em cima da precificação é de que cada setor faça sua parte. “O Governo sinalizou, mas o distribuidor e os donos de postos têm que colaborar e arcar com sua contribuição ao País. Cada um tem suas justificativas para não colocar esse preço em vigor”, indica.
O engenheiro de energia ainda comenta sobre a alíquota de impostos e alerta que os estados e a União têm de reduzir a carga tributária o quanto antes e “fazer suas ofertas”. Questionado sobre uma refinaria no Ceará, Montefusco relembra os impasses que o estado já enfrentou para trazer uma produtora para o território. “O que se sabe é que há uma negociação do Governo do Estado com grupos chineses para instalar uma refinaria aqui”, aponta.
Outra estratégia para amenizar a dificuldade em torno dos combustíveis é a possível transferência do posto de tancagem (armazenamento de combustível) do Porto do Mucuripe para o Porto do Pecém, como benefício para a logística e segurança da região. “O porto já está lá no Pecém e facilita a atracagem de navios que não podem vir para o Mucuripe. Isso ajudaria muito na chegada de combustível para a Cidade”, avalia.