Octavio de Barros prevê transição tranquila no BC, em caso de mudança de governo

13:50 | Abr. 28, 2016

A transição na diretoria do Banco Central (BC) no caso de o impeachment da presidente Dilma Rousseff passar no Senado deverá ser "tranquila" e "republicana", afirmou nesta quinta-feira, 28, o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. Para ele, os nomes ventilados na imprensa até aqui para substituir Alexandre Tombini são "muito bons", assim como a perspectiva de o ex-presidente do BC Henrique Meirelles assumir o Ministério da Fazenda é "excelente", em um eventual governo liderado pelo vice-presidente Michel Temer.

"Algumas áreas e ministérios têm de ter o mesmo rumo", destacou Barros, após dar palestra no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), no Rio.

O economista citou entre elas o BC e os ministérios da Fazenda, do Planejamento e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, além do Itamaraty, como os órgãos que deveriam atuar de forma mais integrada na gestão da política econômica.

Medidas fiscais duradouras

O Brasil precisa apostar em medidas duradouras na área fiscal, como a reforma da Previdência, afirmou Octavio de Barros. Se o País fizer "tudo direitinho" na política econômica, poderia recuperar o "grau de investimento" junto às agências de classificação de risco em dois anos, embora isso seja improvável, salientou Barros, durante a palestra no Ibef. "É impossível gerar superávits primários em 2016 e 2017, nem é desejável", afirmou Barros, referindo-se à queda de receita pública em meio à recessão.

Já um conjunto de reformas, com destaque para a Previdência, teria efeito direto sobre as expectativas e poderia garantir um maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano. "Se o Brasil acertar nas reformas, dá para perder 80 pontos de CDS de 5 anos", completou o economista.

Para Barros, avanços na reforma da Previdência no Congresso Nacional é algo que depende mais de base de apoio parlamentar e as expectativas atuais são de que um eventual governo Temer terá isso.

A opção por reformas, segundo Barros, implica deixar de lado a tentativa de gerar superávits primários nas contas públicas neste ano e em 2017, algo que será impossível, por causa da queda de receitas diante da recessão.

Projeções

A equipe de economistas do Bradesco ainda projeta crescimento de 1,5% para 2017, mas, para Barros, dada a incerteza do cenário, a variação pode ser tanto de 0,5% como de 2,5%. Para o caso de a política econômica seguir patinando nas reformas, o "grau de investimento" pode voltar somente em sete anos.

Embora uma recuperação rápida do selo de bom pagador não seja o cenário básico de Barros, um avanço maior em reformas poderia resultar na volta do "grau de investimento" em algum momento entre os dois extremos.

Entre o pessimismo máximo e o otimismo extremo, Barros vê o câmbio com viés de valorização do real. Na palestra, o economista citou estudo que mostra que, se considerados apenas os efeitos da desvalorização das commodities, o dólar estaria hoje em R$ 3,20 e não R$ 3,517. Sem a atuação do BC no mercado, o câmbio estaria a R$ 3,30, estimou Barros.

Mesmo o cenário mais otimista traçado pelo economista na palestra não significa recuperação da economia. Barros lembrou que, desde o ápice do nível de atividade econômica, registrado em março de 2014, o PIB já encolheu de 7% a 8%. Levando em conta as projeções do Boletim Focus, do BC, o nível de atividade só retornaria ao ápice em dezembro de 2021, calculou Barros. No melhor cenário do Bradesco, a volta ao ápice seria em dezembro de 2019.