Presença de Ferreira na Petrobras incomodou mercado

06:30 | Jan. 02, 2016

No início de 2015, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, se viu envolvido com os problemas de outra gigante, a Petrobras, assolada por esquemas de corrupção e um enorme rombo financeiro. O executivo assumiu o comando do conselho de administração da petroleira com a missão de ajudar a diretoria executiva da estatal a perseguir um caminho de austeridade e disciplina de capital, seu mantra à frente da Vale. Ninguém esperava que a própria Vale enfrentaria uma crise de imagem sem precedentes e que seu comando seria alvo de críticas por decisões relativas à gestão da tragédia na Samarco, empresa na qual é sócia da BHP Billiton.

Parte do mercado se mostrou incomodada com o fato de o executivo ter aceito o convite para assumir o colegiado da Petrobras, alegando um potencial conflito de interesses e que os problemas da Vale poderiam ficar em segundo plano. O analista Gesley Florentino, da Gradual Investimentos, não põe em dúvida a competência de Ferreira, mas diz que a passagem pela Petrobras e o caso Samarco geraram desgaste para a direção da Vale.

"Sob a ótica da Vale, assumir a Petrobras foi contraproducente. Era óbvio que sozinho não ia resolver o problema da estatal e comprometeria a atenção à Vale, que já enfrentava um desafio colossal de reinvenção diante da nova realidade do minério de ferro no mundo", critica Adeodato Netto, sócio da Eleven Financial.

Na prática, entretanto, Ferreira acabou ficando pouco tempo à frente da estatal. A razão central para sua saída foram divergências com o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, em relação à condução da estatal. O CEO da Vale alegou questões de agenda e justamente a necessidade de se dedicar à mineradora ao se licenciar. O episódio da Samarco enterrou de vez suas já remotas chances de voltar à estatal. A intenção do executivo de ajudar a apagar o incêndio e recuperar a maior estatal do País se frustrou.

Funcionários

As crises de Vale e Petrobras têm naturezas distintas. Uma envolve corrupção, a outra, uma tragédia humana e ambiental. Por outro lado, se aproximam pela magnitude das duas companhias, seu papel emblemático para o País e para a economia nacional. Assim como os funcionários da Petrobras foram atingidos junto com a imagem da petroleira, a Vale também tem seu corpo de funcionários abatido pela lama que assolou Mariana.

Trabalhadores ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que pediram anonimato, relatam ter sido alvo de comentários agressivos fora da empresa e confirmam que o clima está pesado, embora todos estejam engajados e recebam informativos diários sobre as ações da Vale para minimizar o estrago.

O próprio Ferreira se mostrou abatido com tragédia. O comando da Vale foi muito criticado pela forma como reagiu ao acidente no primeiro momento. Em entrevista coletiva em 27 de novembro, Ferreira afirmou ter "fixação com o assunto segurança" e garantiu que seu futuro inclui um engajamento "full-time" ao projeto de reabilitação do Rio Doce. Mineiro, afirmou que pessoalmente era extremamente doloroso participar deste momento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.