Barbosa defende gastos sociais com reajustes do mínimo
20:39 | Mai. 08, 2014
"Dá para manter os gastos sociais estáveis, com reajustes do salário mínimo", afirmou Barbosa, hoje pesquisador da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV), em seminário organizado por ele no Rio, em parceria com Samuel Pessoa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).
Nos dois dias de debates, economistas de variadas escolas de pensamento mais defenderam que atacaram a ideia de mudar as regras de reajuste do mínimo. Desde 2007, o reajuste é anual, pelo INPC (índice de inflação das famílias de menor renda) mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Em 2011, a regra virou lei e vale até 2015, quando uma nova fórmula para o período 2016-2019 deve ser aprovada.
No entanto, o debate foi antecipado. O PSDB propôs um projeto no Congresso para estender a regra, colocando lenha na fogueira do debate eleitoral.
Nesta quarta-feira, 7, Barbosa criticou a inclusão do tema na campanha. "Ano eleitoral não é bom para isso. Participei da elaboração da regra e uma das ideias era colocar a definição do reajuste para o primeiro ano de governo", disse o economista, que, mesmo afastado do ministério, segue apoiando o governo.
A elevação excessiva dos gastos públicos é um dos principais "efeitos colaterais" dos acelerados reajustes do salário mínimo. Como o mínimo baliza os gastos sociais do governo com transferências de renda - aposentadorias, pensões por invalidez, abono salarial, entre outros -, reajustes elevados dificultam manter as contas públicas no azul.
Barbosa também defendeu a retomada do debate sobre a reforma da Previdência. Mexer nos benefícios sociais, segundo ele, é mais importante do que na fórmula de reajuste, porque "o que determina mais o crescimento dos gastos de transferência de renda é a quantidade de benefícios e não tanto o valor".
Cálculos apresentados por Barbosa mostram que, se mantida a atual regra de reajuste, o gasto público total com transferências de renda chegaria a 10,4% do PIB em 2019. Se o reajuste real for zero, os gastos chegariam a 9,9% do PIB em 2019. Em outro cenário, com o abono salarial zerado, seria possível chegar a 2019 com os mesmos 9,9% do PIB atingidos com o reajuste zero.
Também no seminário, o economista-chefe do banco Brasil Plural, Mário Mesquisa, atacou a ideia de uma regra fixa. "O mais sensato seria voltar a situação anterior: desindexar e ter uma decisão do governo sem se amarrar numa regra", disse Mesquita, ex-diretor do Banco Central (BC), completando que a decisão sobre o salário mínimo é sempre política.
Já o economista Fábio Giambiagi, especialista em contas públicas, defendeu discutir a questão do mínimo de forma separada da Previdência, desvinculando os benefícios. Giambiagi apresentou dados do IBGE para demonstrar que só 1% dos beneficiários do INSS estão nos 10% mais pobres em termos de renda.
Apimentando o debate, a economista Denise Gentil, professora do Instituto de Economia da UFRJ, defendeu os reajustes do mínimo, incluindo sua vinculação aos benefícios de transferência de renda. Definir o mínimo como piso previdenciário foi classificado por Giambiagi como "equívoco histórico", mas, para Denise, foi uma "bendita confusão", pois o crescimento real do salário mínimo foi uma eficaz política social.