Meu cachorro morreu: o que fazer, como lidar com luto e mais

Entenda como lidar com a perda, qual o espaço correto para levar o animal de estimação após a sua morte, quais os planos funerários disponíveis e mais

Em um País com a terceira maior população total de animais de estimação - segundo informações da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) -, o luto vivido pelos tutores que perderam o seu pet ainda pode ser subestimado.

Em artigo publicado por pesquisadores da CQUniversity, na Austrália, o impacto da perda de um animal de estimação é explorado por meio do termo luto privado de direitos ou luto não reconhecido (“disenfranchised grief”, em inglês).

O processo de luto privado de direitos ocorre quando a perda não é reconhecida ou é estabelecida como insignificante pelo resto da sociedade. Na prática, familiares e amigos podem não aceitar a morte do animal como uma verdadeira perda para o tutor.

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“Muitas vezes, espera-se que donos de animais de estimação enlutados resolvam sua dor rapidamente e eles podem ser encorajados a substituir o animal falecido”, cita o artigo “Pet Loss: Understanding Disenfranchised Grief, Memorial Use, and Posttraumatic Growth”.

Confira a seguir como lidar com os sentimentos de perda e o que fazer para ajudar alguém que está passando pelo processo de luto.

Meu cachorro morreu: e agora?

A comerciante Celeste Oliveira, 50, viveu ao lado da cachorra Judy por quase 14 anos, antes de se despedir da companheira. “No primeiro momento, a gente fica impactada com a realidade de não poder mais ver, tocar, abraçar, sentir o amor, fidelidade e a incrível companhia que ela me trazia”, relata.

Em entrevista ao portal O POVO, Celeste afirma que “não tem um manual de instrução” para lidar com a saudade. “Quando ela (a saudade) vem, eu choro e penso que ela (Judy) está bem, aí alivia o peso”, desabafa.

A psicóloga e sócia-fundadora da Associação Ekoa Vet, Caroline Escobar Cisnero, cita o fenômeno do luto não reconhecido e destaca que a falta de validação pode ser percebida na diferença da perda entre um ente humano e um animal.

A questão do luto pet é apresentada pela profissional por meio de frases que não costumam acolher os tutores enlutados. Entre elas, estão “é só um cachorro, você compra outro” ou “nossa, você tá realmente chorando tudo isso pelo seu gato?”.

“A gente escuta essas frases ainda como se a dor do tutor que está passando pelo processo de luto pelo seu animalzinho de estimação fosse algo tratado como ‘menos’”, explica Caroline.

Meu cachorro morreu: vivenciando o luto

“Judy ia todos os dias para o meu trabalho, tinha muita pena de deixar ela sozinha em casa”, começa Celeste. Após a perda, a comerciante confessa que não pretendia mais ter um animal de estimação — “eu não queria passar por essa mesma dor novamente”.

“Depois de sete meses, uma amiga minha me deu a Duda (nova cachorra)”, confessa. “Na hora me veio um monte de emoções, medos e preocupações, afinal eu tinha dito que não queria sofrer novamente”, diz.

Em sua resposta final, Celeste afirma que, se tivesse um pedido para ser atendido, escolheria estar com as duas — Duda e Judy — ao seu lado. “Mas como não dá, vou cuidando da Dudinha e ela cuidando de mim, e a Judy nos vendo lá de cima”, termina.

O que fazer para ajudar quem perdeu o seu cachorro

O acolhimento é definido como a palavra-chave para ajudar amigos ou familiares que vivenciam o luto por um animal de estimação. “Existe um julgamento, uma invalidação muito grande em relação ao luto pet que acaba dificultando o acolhimento dessas pessoas”, justifica a psicóloga Caroline Escobar Cisnero.

Para Celeste, que enfrentou o seu próprio processo de luto, é importante aproveitar “cada minuto com eles” e, seguindo a perda, lembrar todas as coisas boas vivenciadas ao lado do pet.

Caso esteja preparado, a comerciante também recomenda tentar “abrir o seu coração para outro serzinho”. “Mas seja verdadeiro com ele, não compare com o outro, abra seu coração que ele vai abrir o dele para você. É difícil, mas é realmente recompensador”, explica.

Como ajudar no luto das crianças

“A morte por isso só, esse tema da morte em nossa sociedade, é visto como um tabu. Então as pessoas evitam falar entre os próprios adultos, imagina quando a gente precisa repassar isso para uma criança”, estabelece Caroline.

A psicóloga destaca a importância de informar as crianças sobre processos de vida e de morte, mas com a utilização de estratégias que dependem da fase em que cada uma se encontra.

“Por exemplo, não adianta a criança ter cinco anos de idade e a pessoa que sentar pra conversar com ela sobre isso falar de uma forma extremamente formalizada”, considera, antes de completar — “A gente precisa se preocupar, sim, com a forma de como a gente vai ‘tá’ repassando as informações”.

Entre os métodos que podem ser utilizados para situar as crianças no processo de luto estão estratégias lúdicas, como desenhos, brinquedos e conversas que mantenham um linguajar simplificado, relacionado ao dia a dia infantil.

Os “rituais de despedida” também são destacados por Caroline, como pedir para que uma carta seja escrita para o animal ou um desenho de adeus.

O que fazer com o cachorro quando morre

O transporte do animal para o seu espaço deve levar em consideração procedimentos que não contribuam para a contaminação do solo e dos lençóis freáticos, evitando a proliferação de doenças contagiosas.

Nesse contexto, Débora Bezerra, assistente comercial do crematório Anjo Eterno Pet, relata que o processo de cremação, realizado “em um local com estrutura adequada”, pode ser uma opção aos tutores.

Plano funerário de animais: cremação

O valor dos planos funerários — relativo ao processo de cremação — pode ser alterado a partir da escolha por pacotes de cremação coletiva ou individual, como destacado em apuração feita pelo O POVO aos serviços na cidade de Fortaleza, capital do Ceará.

Confira a média dos valores a seguir.

Quanto custa a cremação de animais

A média de preços na cremação coletiva dos animais varia entre 390 a 1.000 reais, enquanto o processo individual está situado entre 690 a 1.000 reais, de acordo com o peso do pet.

Outros estabelecimentos oferecem planos preventivos com opções entre 536 e 861 reais, com pagamento pelo boleto ou cartão de crédito.

Como funciona a cremação de um cachorro

“O processo de cremação é realizado de forma bem humana, respeitando o luto do tutor e com muito carinho e cuidado com o pet”, explica Débora.

A assistente comercial relata que a remoção do corpo do animal na residência ou clínica pode ser feita como parte do procedimento. “Fazemos o transporte até a nossa sede, preparamos o pet para que a família possa ter um tempo para se despedir”, completa.

O procedimento de cremação dura em torno de 01h40min e 02h30min, dependendo do tamanho do pet.

Meu cachorro morreu: dúvidas frequentes

Conheça algumas dúvidas frequentes sobre a forma correta de encontrar um espaço para enterrar o seu animal de estimação.

Quanto tempo esperar antes de enterrar o cachorro?

Para evitar que o pet entre em estado de decomposição, é recomendável que, após a constatação do óbito, o corpo do animal seja removido de forma imediata. A ação, segundo Débora Bezerra, pode permitir que o procedimento de cremação aconteça no mesmo dia.

Há casos em que não é possível realizar a cremação do pet no mesmo dia, mas entre o intervalo de tempo até ser realizado o procedimento o indicado é conservar o corpinho em alguma câmara fria”, explica.

É crime enterrar cachorro no quintal?

A decomposição do cadáver do animal — se enterrado de maneira imprópria — pode liberar substâncias tóxicas para o solo e aumentar o risco de proliferação de doenças. Essa ação caracterizaria um perigo para a saúde pública, o que a relaciona como um potencial crime ambiental.

O depósito do corpo de animais em locais impróprios pode se enquadrar no artigo 54 da Lei 9605/98, que discorre sobre a poluição de qualquer natureza que resulte em danos à saúde humana, ou que provoque a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.

Quando o cachorro morre, tenho direito a folga?

O Projeto de Lei 221/23 busca a garantia de ausência do serviço por um dia em caso de morte de cachorro ou gato de estimação. Nesse caso, o óbito deve ser comprovado por médico veterinário registrado em Conselho Regional de Medicina Veterinária.

O PL, apresentado pelo deputado Fred Costa (Patriota/MG) e o deputado licenciado Delegado Bruno Lima (PP/SP), ainda está sujeito à apreciação do Plenário.

Para se manter informado sobre a saúde dos pets, acesse a aba “Curiosidades” no portal O POVO ou encontre reportagens aprofundadas ao assinar O POVO +.

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