Lost Media Brasil: entenda moda que busca encontrar conteúdos perdidos

Lost Media Brasil: entenda moda que busca encontrar conteúdos perdidos

As "lost media" fascinam entusiastas ao redor do mundo, que resgatam conteúdos esquecidos da cultura pop e revelam mistérios da mídia perdida

As redes sociais brasileiras têm sido impulsionadas por diversas tendências, entre elas a curiosidade e a nostalgia. Nesse contexto, o movimento das “lost media” ganhou destaque, referindo-se ao resgate de conteúdos que, ao longo do tempo, acabaram se perdendo.

O fenômeno começou a ganhar força inicialmente no Reddit e, posteriormente, com a popularização de diversos vídeos no YouTube. Nos Estados Unidos e na Europa, o interesse por “lost media” se consolidou antes de chegar ao Brasil.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

No País, há um fascínio pelo resgate de obras nacionais que desapareceram com o tempo. Diversos fatores explicam o sumiço dessas mídias, como a deterioração natural, a exclusão por parte de seus criadores ou até mesmo a falta de registros adequados.

“Lost Media”: o que significa o termo?

“Lost Media”, ou “mídia perdida”, em tradução literal, refere-se a qualquer tipo de conteúdo gravado — seja trechos programas de televisão, filmes, episódios de séries, músicas ou vídeos postados na internet — que se tornou inacessível ao público.

Na era digital, em que grande parte da mídia é armazenada online, o conceito de “mídia perdida” pode parecer improvável.

No entanto, ao longo das décadas, inúmeras produções desapareceram ou foram apagadas da memória coletiva, criando um mistério sobre o que aconteceu com elas.

Episódio do Chaves é encontrado por fã após 50 anos; CONFIRA

Isso inclui desde músicas lançadas por artistas desconhecidos até programas de TV históricos que se perderam com o tempo, além de vídeos do YouTube que marcaram gerações, mas foram removidos pelos próprios criadores.

“Lost Media”: popularização e os “Icebergs”

A curiosidade contribui para a popularização das “lost media”. Paralelamente, surge outro fenômeno semelhante: os icebergs.

Os icebergs são uma forma de categorizar certos temas de acordo com seu nível de conhecimento e complexidade.

No topo, estão os conteúdos mais leves e amplamente conhecidos; à medida que se aprofunda, os tópicos tornam-se mais obscuros e misteriosos.

A partir dessa estrutura, surgiram os icebergs de “lost media”, organizando desde os casos mais simples e acessíveis até aqueles considerados sombrios ou enigmáticos.

“Lost Media”: Casos brasileiros

Confira alguns casos famosos de “lost media” brasileira:

Gilberto Barros e o Yu-Gi-Oh!

Um dos casos de “lost media” no Brasil envolve o icônico programa Boa Noite Brasil, transmitido pela Band e apresentado por Gilberto Barros. A partir de 2 de junho de 2003, o apresentador fez quatro programas focados em criticar a franquia Yu-Gi-Oh!.

Caverna do Dragão retorna com episódio final em produção brasileira; SAIBA MAIS

Na época, o anime era extremamente popular, mas Gilberto Barros o associou a elementos demoníacos, afirmando que “isso é coisa do demônio!” e comparando seus poderes a outros jogos de cartas famosos, como Magic: The Gathering.

A polêmica repercutiu tanto que, na época, muitos pais chegaram a rasgar, queimar ou jogar fora as cartas de Yu-Gi-Oh! de seus filhos. Algumas escolas até proibiram os alunos de levarem as cartas para as aulas.

Embora os programas tenham ficado conhecidos nos anos 2000, os episódios completos permaneceram perdidos por muito tempo. Curiosamente, em 4 de novembro de 2024, três vídeos foram encontrados no YouTube pelo usuário CTERHEMA.

Um deles contém um trecho do programa de 4 de junho de 2003, enquanto os outros dois registram o debate ocorrido em 5 de junho de 2003. Assim, o conteúdo passou de uma mídia perdida para parcialmente encontrada.

Gugu no Carandiru

Os anos 2000 foram marcados pela intensa disputa pela audiência dos domingos, e Gugu Liberato, à frente do Domingo Legal, no SBT, foi um dos protagonistas dessa batalha.

Uma das transmissões mais controversas do programa ocorreu quando Gugu, acompanhado da sensitiva Socorro Leite, visitou o presídio do Carandiru, que foi desativado e implodido em 2002, dando lugar ao Parque da Juventude e à Biblioteca de São Paulo.

No programa, exibido no mesmo ano da desativação, o apresentador percorreu celas, corredores e pátios ao lado da sensitiva. As imagens transmitiam um clima pesado, intensificado pelas reações emocionais de Socorro, que afirmou sentir a presença de espíritos no local.

A visita se estendeu por mais de um domingo e garantiu a liderança do Domingo Legal no Ibope durante sua exibição.

Por anos, poucas imagens e relatos desse programa estavam disponíveis. Mas, em 7 de novembro de 2021, o canal Vídeo CaCelso divulgou a segunda parte de Gugu no Carandiru. Já em 22 de janeiro de 2023, no especial de 30 anos do Domingo Legal, alguns trechos da primeira parte foram finalmente reexibidos.

Apesar do resgate de algumas imagens por meio de fóruns de “lost media”, a série completa de programas continua desaparecida.

Kaiser: a primeira animação brasileira

Marco icônico para as produções audiovisuais nacionais, Kaiser foi a primeira animação brasileira. Produzida em 1917 pelo cartunista Seth, estreou em 22 de janeiro daquele ano no Cinema Pathé, no Rio de Janeiro.

Carlos Saldanha: CONHEÇA brasileiro é o artista por trás de incríveis animações

A sinopse da animação descreve:

“Consistia em uma charge animada, mostrando o imperador Guilherme II colocando sobre a cabeça um capacete que representava o controle sobre o mundo. Em seguida, um globo terrestre crescia e engolia o líder alemão”.

Em 2013, oito animadores criaram uma reconstrução do curta para o documentário Luz, Anima, Ação. Os diretores tentaram contato com os descendentes de Seth, mas não havia qualquer registro do curta original.

Infelizmente, mesmo com sua importância histórica, ao que tudo indica nenhuma cópia sobreviveu aos 108 anos e a obra está completamente perdida.

Luccas Neto - Hater Sincero 

Este é um exemplo mais recente de “lost media”, que ressurge aleatoriamente através de uploads de fãs. Trata-se do primeiro grande sucesso de Luccas Neto na internet, quando interpretava o personagem “Hater Sincero”.

Seguindo um estilo parecido com o do irmão Felipe Neto no início dos anos 2010, Luccas criava vídeos criticando tendências do YouTube brasileiro entre 2016 e 2017.

Os vídeos eram no estilo vlog, onde ele comentava sobre conteúdos populares. Um exemplo marcante foi quando opinou sobre um youtuber que cortou sua placa de 100 mil inscritos.

YouTube, plataforma de produção de conteúdo audiovisual, completa 20 anos; CONFIRA

No entanto, assim como Felipe, Luccas mudou completamente de público ao focar no conteúdo infantil, excluindo os vídeos que o tornaram famoso.

Alguns desses vídeos foram resgatados e compartilhados em grupos de “lost media”, mas muitos ainda permanecem perdidos.

São Paulo x São Caetano – falecimento de Serginho

Em uma partida válida pela 38ª rodada do Brasileirão de 2004, São Paulo e São Caetano disputavam posições importantes na tabela.

Aos 14 minutos do segundo tempo, quando o placar ainda estava 0 x 0, o zagueiro Serginho sofreu um mal súbito em campo. Posteriormente, foi confirmada sua morte.

O jogo se tornou uma “lost media” parcialmente encontrada, pois os gols marcados nos 30 minutos finais — em uma data posterior — são facilmente encontrados na internet.

No entanto, as imagens do primeiro tempo e do início do segundo tempo estão perdidas, com exceção do momento do incidente, exibido em uma reportagem da Globo.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar