Você me ouve, mas não me vê? Saiba como identificar aves em meio à cidade

Você me ouve, mas não me vê? Saiba como identificar aves em meio à cidade

"Se você parar um pouco, fechar os olhos e tentar conectar os seus ouvidos, com certeza vai ouvir uma ave cantando": saiba quem são e como observá-las

No meio da rotina agitada das cidades, a vida selvagem que compartilha os mesmos espaços muitas vezes passa despercebida. Aves que indicam o equilíbrio dos ecossistemas estão por toda parte, mas poucos se dão conta de sua presença.

Essa invisibilidade não acontece porque elas são raras, mas porque falta conhecimento sobre o que está ao redor, como explica a bióloga Cecília Licarião, mestre em Ecologia, coordenadora representante cearense do Projeto Vem Passarinhar e fundadora do Projeto Aves de Noronha.

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Aves no dia a dia: a importância de enxergar o óbvio

Para a especialista, existe uma urgência em mostrar às pessoas as espécies que vivem nos mesmos quarteirões que elas. A dificuldade em reconhecer aves comuns revela um distanciamento da natureza.

“Tem gente que vê uma cambacica e acha que é um filhote de bem-te-vi porque é pequeno e parece com ele”, exemplifica.

Esse desconhecimento, segundo Cecília, reflete a falta de educação ambiental e de estímulo para a observação da fauna presente no cotidiano.

A bióloga destaca que o problema não é necessariamente a ausência dessas aves nos espaços urbanos, mas a falta de atenção para enxergá-las.

“No Parque do Cocó, por exemplo, tem espécies diferentes de pica-paus e ninguém vê. Mas ninguém vê porque ninguém mostra ou porque não procura ver”, diz.

Essa desconexão com a fauna levanta um ponto importante para a conservação da biodiversidade: se as pessoas não percebem a presença das aves ao seu redor, como podem se interessar pela preservação delas?

Aves no dia a dia: como despertar o interesse pela vida selvagem urbana?

Uma possível solução seria investir na educação ambiental e na divulgação científica de forma acessível, ajudando as pessoas a reconhecerem e valorizarem a fauna que compartilha os espaços urbanos.

Para a bióloga, chamar a atenção Ao que já está ao alcance dos olhos pode ser um primeiro passo para despertar o interesse da sociedade na conservação da natureza.

 

"Não é que esses bichos sejam invisíveis, é que estamos cegos para eles

"

Cecília Licarião

Um bom exercício para treinar essa percepção, conforme ela, é simplesmente prestar mais atenção ao ambiente: “Se você parar um pouco, fechar os olhos e tentar conectar os seus ouvidos, com certeza vai ouvir uma ave cantando, independente de onde esteja”.

Outra alternativa é se unir a grupos que promovem essa conexão com a natureza. “Uma excelente alternativa é frequentar o Vem Passarinhar, um evento gratuito que acontece uma vez por mês no Parque Estadual do Cocó. A gente não só te direciona e mostra onde as aves estão, mas também empresta binóculos para que você possa enxergá-las de mais pertinho”, explica.

Quais são as aves mais comuns encontradas em Fortaleza?

De acordo com Cecília, algumas espécies são amplamente distribuídas pela cidade, como o bem-te-vi, a cambacica (também chamada de sebite), o sanhaço-cinzento, o beija-flor-tezousa e o periquito-de-encontro-amarelo.

No entanto, ela ressalta que a noção de “ave comum” depende da localização. “Se você mora perto de uma lagoa, perto de uma matinha ou no centro de Fortaleza, as espécies que verá com mais frequência serão diferentes”, detalha.

 

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O que faz as aves desaparecerem das cidades?

A diminuição das populações de aves em áreas urbanas está diretamente ligada à falta de recursos básicos. “Alimentação, frutos, insetos, lugares para reprodução… tudo isso precisa estar disponível para que as espécies permaneçam”, afirma Cecília.

Além disso, a qualidade ambiental também influencia. “Uma cidade com muita poluição ou que não tem áreas verdes suficientes afeta a sobrevivência das aves. E muitas dessas áreas verdes são ‘falsos verdes’, bonitos aos olhos humanos, mas sem utilidade ecológica porque são compostos por plantas ornamentais que não produzem flores ou frutos”, completa.

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Confira cinco aves fáceis de observar no Ceará

O Ceará abriga diversas espécies de aves, algumas exclusivas da região. Entre as mais interessantes e fáceis de encontrar, a bióloga destaca:

Soldadinho-do-araripe

Exclusivo do Cariri cearense, vive nas florestas úmidas de Barbalha, Crato e Missão Velha. Está Criticamente em Perigo devido à destruição do habitat e à escassez de água. O macho possui cores vibrantes, enquanto a fêmea se camufla na vegetação.

Periquito cara-suja

Espécie nordestina cuja maior população está na Serra de Baturité. Vive em bandos e está ameaçada pelo tráfico e pela destruição do habitat. Há um projeto de reintrodução da espécie na Serra da Aratanha.

Saripoca-de-Gould

Conhecido como tucaninho-da-serra, ocorre no Ceará apenas no Maciço de Baturité. Apesar de discreto, pode ser identificado por seu canto peculiar. Está Criticamente em Perigo no estado.

Saíra-douradinha

Encontrada na Serra da Ibiapaba, essa ave colorida é uma das mais procuradas por observadores de aves. Está Criticamente em Perigo devido à perda severa de habitat.

Saíra-militar

Conhecida como pintor-verdadeiro, habita principalmente a Serra de Baturité, mas também ocorre em Aratanha e Maranguape. Sofre com a perda de habitat e o tráfico, estando Em Perigo no Ceará.

Como atrair aves para o quintal ou varanda de forma segura?

Para quem deseja trazer mais vida para o quintal ou varanda, a bióloga recomenda investir em plantas atrativas para aves. “Aqui no meu quintal, por exemplo, tenho um pé de flamboyant amarelo, que dá flores e atrai muitos bichos”, conta.

Outras estratégias incluem oferecer frutas e água com açúcar para beija-flores, sempre com os devidos cuidados de higiene. No entanto, ela alerta que o ideal é apostar na vegetação nativa.

“O mais fácil e eficiente é plantar. Quanto maior a diversidade de plantas com flores e frutos, mais aves irão aparecer”, finaliza.

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