Por que homens não terminam relacionamentos? Especialista explica
Discussão sobre qual gênero geralmente põe fim nos relacionamentos costuma aparecer nas redes sociais. Especialistas explicam o porquê
Relacionamentos costumam afetar as pessoas de forma diferente dentro da sociedade, já que estamos imersos em uma cultura influenciada por valores, história e costumes. Portanto, é compreensível que homens e mulheres lidem de forma diferente durante e após o término de uma relação.
Nas últimas semanas viralizou na rede social X uma postagem questionando por que, em geral, homens não terminam relacionamentos?. O post acumula mais de seis milhões de visualizações.
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A publicação deu início a um debate nos comentários, na qual homens e mulheres defendem seus pontos de vista. Eles atribuem o comportamento às próprias mulheres, afirmando que elas “não sabem conviver com situações tranquilas no relacionamento” e têm reações dramáticas.
Já elas justificam o comportamento dizendo que homens não sabem lidar com DR’s, ou sejam, não sabem discutir a relação e forçam a mulher a terminar por meio de atitudes sutis (ou nem tanto) que indicam que eles não querem mais estar naquela relação.
Claro que não é possível generalizar a afirmação de que “homens não terminam relacionamentos” apenas por uma amostra de comentários. No entanto, as opiniões expressam que os grupos femininos, por exemplo, já têm preconcebida a ideia de que, geralmente, homens não colocam um fim na relação — especificamente em relações heteronormativas.
Para tentar desvendar essa ideia, a psicóloga Tainá Passaré fala ao O POVO sobre o que pode estar por trás deste tipo de comportamento.
Homens não terminam relacionamentos? Por que isso acontece?
A psicóloga Tainá Passaré afirma que características impostas socialmente podem interferir na forma como homens e mulheres lidam com relacionamentos.
Segundo ela, a dificuldade masculina em terminar a relação se dá pela imaturidade emocional e a comodidade em “ser servido”, herança de uma cultura que beneficiaria a figura masculina (mais um vez falando de relacionamentos héteros).
O fato de homens serem ensinados a não lidar com os próprios sentimentos ou ignorá-los teria como consequência eles não conseguirem lidar com os sentimentos das parceiras.
“Alguns já comentaram que pensaram em terminar, mas era desesperador ver a mulher sofrendo, era desesperador vê-la chorando”, relata Tainá.
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Esta característica foi destacada nos comentários nas redes sociais:
"Tu é ensinado a vida inteira a lidar com teus problemas sozinho, que não pode demonstrar que não está bem e tals... Quando nós homens temos um problema, ou agimos com agressividade ou ficamos no nosso cantinho", conta um usuário em publicação no Reddit, rede social em formato de fórum.
Outro usuário comentou sobre o "medo de ficar sozinho".
Já em publicação no X, o comportamento foi justificado alegando que "a maioria dos homens tem menos necessidades num relacionamento do que a maioria das mulheres".
E ainda, que "é mais fácil deixar o tempo ou a outra pessoa resolver os conflitos que aparecem para não lidar com seus próprios sentimentos e falar sobre o que sentem".
As mulheres, ao contrário, têm desde cedo a função de ficarem atentas aos sentimentos de quem está ao seu redor e, assim, lidar com o sofrimento alheio, principalmente dentro da economia do cuidado, com todas as cargas físicas e emocionais que isto impõe.
A psicóloga cita um exemplo prático: em um almoço de família, a mãe, as tias e outras figuras maternas costumam ser responsáveis por checar se cada detalhe está pronto para receber as visitas, seja arrumando a mesa ou garantindo que as toalhas do banheiro estão limpas.
Para elas, o consenso é que os homens terminam sem deixar claro a decisão: "Eles terminam, só que na cabeça deles, sem contar que terminaram".
Isso ocorre nas relações homoafetivas?
Provavelmente os comentários no X se referem a uma relação heterossexual e o esquema em relações LGBTQIA+ pode ser bem diferente.
A psicóloga Emily Pessoa explica que esses relacionamentos podem ter acordos e papeis diferentes de uma relação heteronormativa e, por isso, podem não se encaixar na afirmação que encabeça esta matéria.
Sobre sua vivência, ela argumenta que os acordos entre casais são muito mais negociados e falados do que em relações heterossexuais:
“Enquanto na sociedade heterossexual a gente tem definições de papéis e cada um sabe o que vai fazer, nos relacionamentos LGBT as questões de responsabilidades em relação ao sentimento e em relação ao cuidar de uma casa são muito mais flexíveis e conversadas”, detalha.
Ficar ou terminar depende do gênero?
Apesar de os papeis sociais de gênero influenciarem na forma como alguém se comporta em um relacionamento, ficar ou sair de uma relação tem muito a ver com nossas expectativas e perspectivas, com o que observamos ao nosso redor e como eram as relações amorosas durante a nossa vida, destaca Tainá Passaré.
A profissional diz que é preciso considerar o aspecto histórico-cultural e o significado de estar em uma relação para as pessoas envolvidas.
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