O mistério da "epidemia" que fez franceses dançarem até a morte em 1518

O mistério da "epidemia" que fez franceses dançarem até a morte em 1518

Conhecida como "epidemia de dança", a história segue um mistério até hoje com os detalhes da situação, bem como sua origem e causa seguem desconhecidas; entenda

Em 1518, uma mulher chamada Frau Troffea começou a dançar em uma praça de Estrasburgo, na França. Isso poderia parecer normal, não fosse o fato de que ela estava no meio da rua, sem música, e não parou por seis dias seguidos. Nos meses seguintes, centenas de pessoas começaram a acompanhá-la, repetindo os passos até a exaustão — e, em alguns casos, até a morte.

Considerado um dos episódios mais estranhos da história, o caso, ocorrido de julho a setembro daquele ano, ficou conhecido como a epidemia de dança de 1518. O episódio deu nome ao que hoje é chamado de coreomania, termo moderno usado para se referir ao comportamento compulsivo e involuntário de dançar. 

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Como aconteceu a epidemia de dança de 1518?

No início, as pessoas acompanhavam Frau com curiosidade, pois não era comum uma exibição pública como aquela. Aos poucos, quem assistia à mulher percebeu que ela simplesmente não conseguia parar a coreografia.

Por vezes, ela caía de exaustão, mas se levantava e seguia. Nem as dores, a fome ou os ferimentos pelo corpo faziam com que ela parasse…

Nos meses seguintes, outras pessoas começaram a seguir o exemplo da mulher, e rapidamente a cidade foi tomada por centenas de pessoas — relatos indicam que mais de 400 pessoas foram afetadas — dançando sem som.

Todo esse esforço começou a causar ferir os dançarinos, afinal, dançar dia e noite de forma ininterrupta pelas ruas gerava ferimentos nos pés e espasmos pelo corpo.

Conforme levantamento histórico da BBC, o episódio foi descrito em uma série de crônicas, contos e poemas da época. "Homens e mulheres dançando e pulando... //No mercado público, nos becos e nas ruas, //Dia e noite a maioria não comeu nada // Até que a doença finalmente os deixou", menciona um dos documentos históricos analisados pelo site de notícias.

Para se ter dimensão do fato, as autoridades, incapazes de controlar os dançantes, chegaram a realizar procissões e rezas para “curá-los”. Um dos locais sacros que teria sido utilizado como base para preces em busca da cura da epidemia de dança seria um santuário dedicado a São Vito nas proximidades da cidade. 

Os relatos indicam que as autoridades locais teriam até mesmo promovido "festivais" para tentar aplacar a epidemia de dança. Palcos, músicos e até dançarinos contratados foram usados como incentivo àqueles que não conseguiam parar de dançar.

A intenção da medida era "esgotar" o desejo de dançar dos enfermos, mas a ação causar efeito contrário: mais e mais pessoas sentiam a compulsão por dançar, não importando os pés sangrando, a exaustão ou mesmo o frio. 

Até que, de repente, tudo parou.

Teorias como castigo divino e possessão foram levantadas para explicar o que ocorreu em 1518

Muitas teorias surgiram para explicar o que havia ocorrido naquele lugar. Algumas apontavam para um evento sobrenatural, como um castigo divino ou mesmo possessão demoníaca. Para os médicos da época, segundo a BBC, tratava-se de algum tipo de desequilíbrio nos “humores” do corpo.

O fungo do centeio - encontrado nos caules da planta, capaz de causar fortes convulsões e alucinações - chegou a ser apontado como o responsável por trás das epidemias de dança, mas a hipótese foi descartada.  

No contexto histórico, o misticismo, desastres naturais e situações sociais adversas se mesclam nos fatos que marcaram a época antes da epidemia de dança em Estrasburgo. Frio intenso, fome severa, calor devastador, enchentes e mesmo estrelas cadentes foram documentados em registros dos moradores locais. 

Estrasburgo é o exemplo mais famoso, mas não foi o único lugar da Europa onde a “epidemia da dança” teria ocorrido entre a era medieval e início da era moderna. Há relatos de casos na Alemanha, em outras regiões da França e em outras países Europeus, até mesmo em territórios do então Sacro Império Romano-Germânico, embora em menor escala.

Durante séculos, estudiosos debateram se o que aconteceu foi um fenômeno social associado à estresse pós-traumático ou uma doença física. Evidências históricas chegam a demarcar o fenômeno como uma espécie de "contágio cultural", uma histeria coletiva enquanto uma reposta psíquica coletiva para o estresse e trauma de conflitos, guerras e escacasses de alimentos. 

Apesar disso, especialistas no assunto não chegaram a uma conclusão definitiva sobre o que de fato ocorreu naqueles meses de 1518. Em revisão mais recente, a história da epidemia de dança, ainda que permaneça intrigante reflexões, não apresenta indícios de que terá seus pormenores reveladas.

Ao cruzar as informações contidas em documentos históricos da época, reportagem da BBC constatou que ainda que o fato em si seja o mesmo, os detalhes divergem entre cada conto, crônica ou poema. Ao analisar seis documentos da época, a origem do fato é a mesma: Frau Troffea. 

A maneira como começou e as datas, contudo, divergem entre os relatos. As medidas adotadas para "combater" a epidemia também não são as mesmas em cada crônica. Assim, os fragmentos históricos que embasam o relato se restringem a isso: fragmentos.  Ainda assim, a imaginação e as narrativas em torno disso seguem como um verdadeiro mistério.  

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