'Noite Feliz': a história da música de Natal que tem mais de 200 anos

Considerada patrimônio, a canção já foi gravada mais de 137 mil vezes e adaptada para diferentes línguas. Conheça como, quando e onde surgiu "Noite Feliz"

10:00 | Dez. 21, 2024

Por: Mateus Brisa
Exposição Noite Feliz 200 - A História. A Mensagem. O Presente exibe documento com cifra e letras originais da canção (foto: Reprodução/Museu de Salzburgo)

Certas canções são inerentes ao Natal. Uma clássica retoma anualmente a voz de Mariah Carey. Outras, são mais tradicionais e se tornaram conhecidas sem interpretação específica — é o caso de “Noite Feliz”. De origem no século XIX, a cantiga natalina circula mundialmente há muito tempo.

Em 2011, “Noite Feliz” foi considerada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Em toda a história, já foi gravada mais de 137 mil vezes, segundo levantamento da revista americana Billboard.

É inegável a onipresença de “Noite Feliz” na atmosfera natalina, seja no Brasil ou noutros países. Mas, afinal, quando e como surgiu esse hit global?

'Noite Feliz' foi composta após 'ano sem verão' na Áustria

Joseph Mohr (1792–1848), um padre e escritor austríaco, escreveu um poema em 1816 e, dois anos depois, solicitou que o amigo organista Franz Xaver Gruber (1787–1863) compusesse uma melodia para as letras. O resultado da colaboração foi “Stille Nacht, heilige Nacht”.

Em 24 de dezembro de 1818, noite da composição da música (e também véspera de Natal), a dupla executou a produção pela primeira vez na igreja de São Nicolau em Oberndorf bei Salzburg, pequena cidade na Áustria.

Apesar de, na tradução brasileira, a canção ter recebido o adjetivo “feliz”, sua origem não é tão positiva. A criação veio em meio à fome e à miséria causadas pelas Guerras Napoleônicas em Salzburgo.

Em 1816, ano em que Mohr escreveu o poema original, temperaturas baixas atingiram a região austríaca, o que destruiu plantações e prejudicou a vida de milhares. O ano ficou conhecido como o “Ano Sem Verão”. Foi também o ano em que Salzburgo perdeu independência e foi anexado à Áustria.

“As palavras deste cântico foram escritas nestas circunstâncias. Elas expressam uma ânsia por redenção e paz”, explicou à BBC News Brasil o historiador austríaco Peter Husty. Ele foi curador da exposição “Noite Feliz 200 - A História. A Mensagem. O Presente”, no Museu de Salzburgo.

'Noite Feliz': como se espalhou pelo mundo?

Apesar do intricado contexto de origem da música, “Stille Nacht, heilige Nacht” rapidamente se espalhou nas redondezas austríacas. Com o tempo, chegou a outros países, como Alemanha e Estados Unidos.

“O Cristianismo levou essa música para o mundo com missionários (protestantes e católicos). Ela virou acessível em muitas línguas e dialetos, tonando-se global”, explicou Thomas Hochradner à BBC News Brasil. Ele foi o idealizador da exposição sobre a música no Museu de Salzburgo.

O alastramento de “Stille Nacht, heilige Nacht” pelo globo gerou diversas traduções e, em alguns casos, adaptações. Como dito, há “feliz” na tradução em português, embora o original seja “noite silenciosa”.

Os versos “Ó Senhor, Deus de amor / Pobrezinho nasceu em Belém”, na versão nacional, são claras adaptações. “As chamadas traduções são novas poesias que tentam manter a mensagem do texto, mas precisam levar em conta o ritmo e as rimas (da língua)”, comentou Thomas Hochradner.

 

Entre adaptações, 'Noite Feliz' recebeu até versão nazista

No geral, as adaptações de “Stille Nacht, heilige Nacht” tendem a seguir a abordagem original: tratar o Natal como uma festa de paz e redenção. Porém, um dos casos foi levado para o sentido oposto. É o caso da versão propagada na Alemanha nazista, durante o regime de Adolf Hitler (1889–1945).

A adaptação removeu menções a Jesus Cristo porque, obviamente, o líder ditador odiava a população judia. A maior parte do contexto religioso foi transformado em louvores à ditadura nazista e à figura de Hitler.

Conforme a BBC News Brasil, a letra da versão nazista dizia: “Tudo é calmo, tudo é esplendido / Apenas o Chanceler fica em guarda / O futuro da Alemanha para vigiar e proteger / Guiando nossa nação certamente”.

De 1818 para hoje, “Stille Nacht, heilige Nacht” recebeu não só adaptações, mas diferentes interpretações, por diferentes artistas. Nomes como Sinead O’Connor, Elvis Presley e Kelly Clarkson já fizeram covers da versão americana.

No Brasil, covers de “Noite Feliz” já integraram álbuns (natalinos ou não) de Xuxa, Simone, Victor & Léo, Chitãozinho & Xororó e Roupa Nova, entre outros.