Qualidade do ar: como define, quem mede, qual o ideal e mais

Saiba como a medição da qualidade do ar é feita, quais os índices ideais e o ranking de metrópoles com os piores níveis ao redor do mundo

18:02 | Set. 17, 2024

Por: Penélope Menezes
Qualidade do ar: saiba como é medida e quais os níveis ideais (foto: Drazen Zigic/Freepik)

“Da poluição atmosférica pairando sobre as cidades à fumaça dentro de casa, a poluição do ar representa uma grande ameaça à saúde em todo o mundo”. É assim que se inicia a declaração da Organização Mundial de Saúde (OMS) em página especial dedicada à temática.

A exposição à poluição atmosférica, seja ela ambiente ou doméstica, já foi responsável por 6,7 milhões de mortes em 2019, de acordo com dados da instituição. Acredita-se ainda que 99% da população mundial vive em locais onde os níveis de poluição do ar excedem os limites das diretrizes da OMS.

Na manhã de quinta-feira, 12, São Paulo alcançou a primeira posição no ranking de metrópoles com a pior qualidade do ar. A medição é feita pelo site suíço IQAir, que monitora 120 cidades ao redor do mundo, e é mantido sob constante atualização.

O índice da capital paulista, que colocou o Brasil no topo da lista, foi de 170. A colocação superou Kinshasa, na República Democrática do Congo, com 152, e Carachi, no Paquistão, com 151.

A seguir, entenda sobre o funcionamento dos controles de qualidade do ar e quais os níveis ideais para a população mundial.

Qualidade do ar: qual a pior do mundo? E a melhor? VEJA ranking

Qualidade do ar: como define?

O engenheiro sanitarista e ambiental Márcio Lima explica que os métodos de medições da qualidade do ar variam de acordo com o tipo de fonte de poluição e poluente.

Os métodos consideram, por exemplo, se a fonte de emissão de poluentes for fixa, como uma chaminé, ou se a fonte de geração for móvel, como veículos e equipamentos movidos a óleo diesel.

Outro fator destacado pelo profissional é “o tamanho das partículas de poluentes que deseja aferir”.

“Cada equipamento atende tipos específico de gases ou tamanho das partículas, conforme as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama 382/2006 e 436/2011), que estabelece os limites de emissões de poluentes atmosféricos para fontes fixas, e a CONAMA 491/2018, que dispõe sobre os padrões de qualidade do ar”, completa.

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Qualidade do ar: como funcionam os equipamentos?

Um dos equipamentos mais utilizados para aferir especificamente o Material Particulado (poeira, fuligem, neblina, aerossol, entre outros) é chamado de Hi-Vol.

“O processo ocorre como uma extração do fluxo do ar do ambiente, estudado por meio de sucção, e vai para um filtro”, começa Márcio Lima. “Após passar um período de, no mínimo, 23 à 25 horas de exposição, o filtro é retirado e pesado”.

A ação torna possível aferir os parâmetros das partículas no ambiente de tamanho PM10 (Material Particulado de 10 micrômetros) e PM2,5 (Material Particulado de 2,5 micrômetros).

Outro equipamento, o opacímetro, é mais utilizado para avaliar a densidade da fumaça preta em veículos.

Quem mede a qualidade do ar?

“Os padrões de qualidade do ar são estabelecidos inicialmente pela OMS, a qual cada país elabora suas legislações nos padrões estabelecidos por especialistas”, reflete Lima.

Essa elaboração considera, segundo o profissional, “a qualidade do ar ideal para o meio ambiente e a saúde da população por meio de um intervalo de tempo de exposição daquele determinado poluente atmosférico”.

No Brasil, a legislação Conama 491/2018 estabelece os Padrões de Qualidade do Ar, que podem variar de acordo com o poluente. Os citados para análise do padrão de qualidade são:

  • Material Particulado (PM 10, PM 2,5)
  • Partículas Totais em Suspensão (PTS)
  • Dióxido de Enxofre (SO2)
  • Dióxido de Nitrogênio (NO2)
  • Ozônio (03)
  • Fumaça
  • Monóxido de Carbono (CO)
  • Chumbo.

Qual a qualidade do ar ideal?

“Os Padrões PL 1 – PL 2 – PL 3 e PF são os padrões aceitáveis de cada poluente atmosférico, onde o PF (Padrão Final) é o nível mais aceitável”, explica o engenheiro sanitarista e ambiental.

Lima destaca que o Conselho Estadual de Meio Ambiente do Estado do Ceará (COEMA) é o responsável por criar e definir em nível estadual os limites aceitáveis, conforme monitoramento da qualidade do ar do estado, não podendo ser menos restritiva do que a legislação federal.

“Dessa forma, o estado e os municípios, através do órgão ambiental estadual e municipal, têm o dever de planejar e executar ações para melhoria da qualidade do ar local, assegurando que empresas e atividades estejam de acordo com os padrões de qualidade do ar”, adiciona.

Nesse caso, é preciso indicar um licenciamento ambiental e automonitoramentos, ou seja, a solicitação de relatórios periódicos da qualidade do ar, conforme o grau de impacto poluidor da atividade. A ação também inclui verificar se a medida de controle proposta pelo empreendimento pode estar remediando o impacto da emissão de poluentes.

Qualidade do ar: como melhorar?

Entre as medidas que podem ajudar a reduzir os efeitos da poluição do ar, está o uso de energia de fontes renováveis, como a solar e a eólica. O motivo? “Ajuda a diminuir as emissões de dióxido de carbono (CO2)”, diz Lima.

Mais uma ação apontada pelo profissional seria a fiscalização mais rígida dos veículos de carga movidos a diesel (caminhões e caçambas, por exemplo). Estes são responsáveis pela emissão de grande quantidade de fumaça preta.

“A arborização é uma ferramenta essencial na qualidade do ar da população, principalmente em ambientes urbanos”, acrescenta. “As árvores agem como um filtro capaz de absorver gases como dióxido de carbono, óxidos de nitrogênio e particulados”.

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Qualidade do ar: quais os desafios no Brasil?

Um estudo divulgado em fevereiro de 2024 pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) aponta a insuficiência do monitoramento de qualidade do ar no Brasil, incluindo a ausência de monitoramento automático em capitais como Brasília (DF) e Manaus.

De acordo com os dados levantados, o Brasil necessita de pelo menos mais 138 ou 46 estações de monitoramento da qualidade do ar automáticas.

“A rede de monitoramento é um instrumento primordial para determinar os padrões de qualidade do ar aceitáveis pelos estados no Brasil”, considera Márcio Lima.

“Resfriados, gripes, amigdalites, faringites, otites e sinusites são algumas das principais doenças causadas pela má qualidade do ar, além de ser um grande agravador de outras doenças cardiovasculares, conforme dados do Ministério da Saúde”, exemplifica o engenheiro sobre os impactos.

O instituto também ressalta o resultado de um pregão eletrônico indicando o custo para a aquisição de 34 estações automáticas de monitoramento em 2020, publicado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

O valor total equivaleria a R$ 12 milhões, incluindo sua operação por um ano e apenas a medição de material particulado (MP10 e MP2,5).

De acordo com o Iema, considerando que cada equipamento custaria cerca de R$ 350 mil, para atingir o mínimo de estações no Brasil o investimento deveria chegar entre R$ 16 e R$ 49 milhões, seguindo os cenários obtidos a partir dos critérios dos Estados Unidos e da Europa.

Qualidade do ar: 10 metrópoles mais poluídas

A empresa suíça IQAir é especializada em tecnologia de qualidade do ar e realiza a medição de 120 metrópoles, listando-as em ranking com atualizações sobre as principais cidades com a pior qualidade atmosférica.

A cidade de Kinshasa, na República Democrática do Congo, mantém o primeiro lugar desde a segunda-feira, 16. O índice da metrópole é de 201.

A concentração de PM2,5 (partículas pequenas presentes no ar poluído) na capital é atualmente 25,2 vezes superior ao valor anual de referência da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a qualidade do ar.

Uma metrópole paquistanesa toma o segundo lugar: Laore. A cidade é considerada a mais populosa da província do Punjab e possui um índice de 181, enquanto o terceiro lugar, Medan, na Indonésia, apresentou registro de 162.

Veja o ranking completo das metrópoles mais poluídas do mundo

  • 1. Kinshasa (República Democrática do Congo) - 201
  • 2. Laore (Paquistão) - 181
  • 3. Medan (Indonésia) - 162
  • 4. Kampala (Uganda) - 160
  • 5. Delhi (Índia) - 137
  • 6. Breslávia (Polônia) - 130
  • 7. Cracóvia (Polônia) - 128
  • 8. Tashkent (Uzbequistão) - 124
  • 9. Daca (Bangladesh) - 123
  • 10. Jacarta (Indonésia) - 108

(Ranking da IQAir atualizado às 17h20min de 17/09/24)