46 antes de Cristo: O ano que teve 15 meses, 445 dias e bagunçou o calendário

Em vários momentos na história, pessoas se depararam com alterações no calendário. O ano já teve 304, 355 e até 445 dias. Confira;

É comum que vejamos o calendário como algo fixo, exato e imutável. No modelo gregoriano, mais utilizado no ocidente, temos 365 dias divididos em 12 meses e a cada 4 anos o mês de fevereiro ganha um 29º dia. Mas isso nem sempre foi uma certeza, na realidade, o calendário de cada ano na antiguidade já chegou a ter 304, 355 e até 445 dias. 

Na Europa Antiga houveram inúmeros modelos de calendários e incontáveis ajustes na forma de contar o tempo até chegarmos na forma que conhecemos atualmente. Entre os ajustes, a criação dos meses de janeiro e fevereiro, que não existiam. 

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Entre um ajuste e outro, o ano 46 a.C durou 445 dias, e passou a ser conhecido pelo historiadores como “o ano da confusão”, momento em que a contagem do tempo ficou tão desconexa das estações do ano que as colheitas de alimentos foram prejudicadas. 

Ficou curioso com essa história? Abaixo O POVO explica como tudo isso aconteceu e como chegamos no calendário que usamos nos dias atuais.

Primeiro calendário romano tinha 10 meses de trabalho e 2 de folga

O primeiro calendário romano Este calendário foi feito pelo fundador e primeiro rei de Roma, Rômulo. , confeccionado em 753 a.C, contava com apenas 304 dias organizados em 10 meses, começando em março e terminando em dezembro. Os dias restantes simplesmente não eram contados pois não havia trabalho durante os meses de inverno.

Em entrevista à BBC, a professora da Universidade de Reading, Helen Parish, explica que com o passar dos anos, a ausência dos meses entre dezembro e março nesse calendário começou a causar complicações na forma de contar o tempo.

Em 713 a.C ocorreu a primeira reforma do calendário, feita pelo então rei de Roma, Numa Pompílio. Com a mudança, o ano passou a ter 355 dias divididos em 12 meses. Além disso, a cada dois ou três anos, este calendário ganharia um 13º mês, chamado de Mercedônio, com 22 ou 23 dias.

 

Porém, como a decisão de onde e quando acrescentar esse “mês treze” partia do imperador romano e não detinha um critério rígido... o novo sistema de contagem dos dias começou a apresentar falhas e a causar discrepâncias nas datas que deveriam começar as estações do ano.

Para corrigir isso, o ditador romano, Júlio César, propôs uma nova reforma no calendário. O líder supremo de Roma convocou então o astrônomo egípcio Sosígenes de Alexandria para confeccionar a nova tabela de dias e meses.

46 a.C., o ano com 15 meses e 445 dias

A primeira alteração sugerida por Sosígenes foi o acréscimo de dois meses provisórios, chamados de Unodecembris e Duodecembris, ao fim do ano 46 a.C. A atitude partiu como uma forma de ressincronizar o início das estações do ano.

Assim, o ano de 46 a.C, para além dos 12 meses usuais, ganhou três novos meses, o mês Mercedônio e outros dois meses provisórios, ficando assim com 15 meses.

Sosígenes de Alexandria ainda aconselhou que a cada 3 ou 4 anos, o calendário deveria ganhar um dia extra para alinhar a contagem de dias com o tempo de translação da Terra.

O fundamento proposto por Sosígenes se fundamenta no fato de que a Terra leva um pouco mais do que 365 dias para completar uma volta ao redor do Sol. São cerca de 365 dias e aproximadamente 6h, assim, a cada 4 anos, essas 6 horas são somadas, contabilizadas e um novo dia é criado, o 29º dia de fevereiro. 

Este fenômeno é conhecido como ano bissexto. Porém, esse tempo de

também não é exato, o que gerou, a longo prazo, um novo descompasso temporal e, assim, para resolver o "novo problema", surgiu o Calendário Juliano.

Calendário Juliano versus Rotação da Terra: um novo calendário precisou ser feito

As alterações propostas por Sosígenes conseguiu promover uma “recalibragem” no calendário e organizar a contagem dos anos, mas a natureza ainda guardaria uma nova surpresa.

Apesar de considerar-se que a translação da Terra dura 365 dias e 6 horas, este movimento dura, na verdade, 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Essa diferença de cerca de 11 minutos pode parecer irrisório, mas, quando acumulado com o passar do tempo, pode dessincronizar a contagem de dias novamente.

Daniel Brown, astrônomo da Universidade Trent de Nottingham do Reino Unido, em entrevista à BBC, explica que “lentamente ainda estamos ficando desalinhados”.

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Calendário Gregoriano: um novo calendário para corrigir os desalinhamentos

Esse "pequeno" desalinhamento apenas foi  corrigido em 1582 depois de Cristo, após 5 anos de estudos.

Neste grupo de estudiosos participaram Christopher Clavius, jesuíta alemão, sábio e matemático, Ignazio Danti, dominicano, matemático, astrónomo e cartógrafo italiano e Luigi Giglio, médico, filósofo, astrónomo e cronologista italiano.

A nova alteração do calendário foi promulgada pelo papa Gregório XIII. Vale destacar que a contagem de dias e a observação dos astros são de grande importância para a Igreja Católica. A determinação de quando ocorrerá a celebração da Páscoa depende das datas precisas do início da primavera no hemisfério norte e da luas cheias.

O documento papal chamado de Inter Gravíssimas determinou que o mês de outubro de 1582 perdesse dez dias, pulando do dia 4 para o dia 15. Também ficou decidido que os anos múltiplos de 100 só seriam bissextos se fossem divisíveis por 400.

E assim surgiu o Calendário Gregoriano, que é utilizado até o dia presente. Portugal, Espanha, França, Itália, Países Baixos e suas respectivas colônias (inclusive o Brasil) foram os primeiros territórios a adotarem o novo calendário, ainda em 1582.

A Turquia foi o último país independente a adotar o Calendário Gregoriano, em 1926. Locais como Índia, Bangladesh e Paquistão usam a tabela criada por Gregório XIII junto com seus próprios calendários.

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Confira seis países que não adotaram a contagem do papa Gregório XIII e não estão em 2024

China

O calendário chinês se renova a cada 12 anos e cada ano recebe o nome de um dos animais do horóscopo chinês. Cada ano tem 354 dias; no momento da publicação desta matéria, os chineses se encontravam no ano 4722.

Israel

Os judeus utilizam o calendário judaico estabelecido na época dos relatos do livro bíblico de Êxodo. Os anos podem ter de 353 a 385 dias divididos em 12 ou 13 meses. Os israelitas estão no ano 5785 e seu ano novo será no dia 3 de outubro.

Coreia do Norte

Apesar de utilizarem o mesmo modelo do Calendário Gregoriano, os norte-coreanos consideram o ano de 1912, nascimento de Kim Il-Sung Fundador e primeiro líder supremo da Coreia do Norte. Governou este país do extremo oriente de 1972 até a sua morte em 1994.

Na Coreia do Norte, o governo é passado de pai para filho, sendo:
- Kim Il-Sung: de 1972 a 1994
- Kim Jong-il: de 1994 a 2011
- Kim Jong-un: desde 2011
, como o “início de tudo”
. Atualmente este país asiático está no ano 113.

Irã e Afeganistão

Estas duas nações vizinhas usam o calendário islâmico que é composto com 354 ou 355 dias divididos em 12 meses. A contagem começou com o evento chamado Hégira, que foi a fuga de Maomé para a cidade de Medina.

Enquanto em grande parte do planeta os países estão em 2024, esses dois países entrarão no ano 1447, com o ano-novo no dia 7 de julho.

Etiópia

Este país localizado na região do Chifre Africano utiliza uma versão do Calendário Juliano com 12 meses de 30 dias mais um 13º mês com 5 ou 6 dias. O ano-novo ocorre no dia 11 de setembro do calendário gregoriano. Na data de publicação desta matéria, esta nação se encontrava no ano de 2016.

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